A Inquisição oficializada principalmente a partir da Contra-Reforma
prolonga-se até ao século XIX em Portugal. O Pombalismo terá também essa faceta
inquisitorial bem patente na sua polícia específica, assim como as décadas de
vigilância fascista no século XX, ou, embora com aspectos bem distintos, o Estado
democrático exerce também o controlo quase absoluto da sociedade nos últimos 50
anos.
A Inquisição transformou-se num modelo mental e estruturou de modo profundo o nosso plano de comportamentos, as dimensões morais e até judiciais.
João Maurício Brás, O Atraso Português,
Guerra e Paz, pág. 140
Cumpre-se por obediência e medo, na maior parte das vezes
irracional, não por respeito ou por se considerar que seguir determinado
caminho é o mais correcto e eficaz. Mexericos e bisbilhotices, a má-língua no
trabalho e na vizinhança, a pequena calúnia, são vestígios de uma cultura de
resquícios inquisitoriais.
João Maurício Brás, O Atraso Português,
Guerra e Paz, pág. 129
Continuamos a construir os nossos panópticos sociais sob a égide da governação do Partido Socialista.
Temos agora um Portal da Delação, digo, Portal da Denúncia (procedimento muito socialista e até nacional-socialista ou estalinista).
Maravilhoso mundo novo. Aos poucos a liberdade e a privacidade vão perdendo território para o controlo social. Que ideia maravilhosa essa a de os cidadãos controlarem os cidadãos.
Suspeito que alguns de nós têm no seu DNA um gene mais desenvolvido: o gene inquisitorial. Em Portugal a Santa Inquisição durou até ao século XIX. Um período tão prolongado de controlo das ideias não poderia deixar de marcar a genética social e a de muitos portugueses.
Com o Portal da Denúncia, far-se-á da pequena calúnia grande. Como a imagem sugere, o pequeno caluniador tem agora um altifalante para se fazer ouvir. Para nosso bem e com cobertura governamental.
Sem comentários:
Enviar um comentário