segunda-feira, setembro 15, 2008

O repouso do Verão





O Verão repousa à sombra das figueiras,
Na margens do grande Rio do Sul.

domingo, setembro 14, 2008

O lugar que o Verão nunca abandona


Felizes os que aqui residem, pois deles o Verão nunca se aparta.

Quem por aqui se passear, entre a Foz e o Álamo, sentirá a sua presença.
Ele aqui permanece, numa indolência sem fim.
Retirado de todos os lugares, mas não deste.

Já prepara agora, a sua cama...

Repousará,
à sombra das figueiras de largas folhas,
Entre os renques das videiras,
E em todas as vinhas.

Repousará,
À sombra das oliveiras divinas.

Repousará,
Junto ao grande rio do Sul,
de águas calmas e aconchegantes,
(sempre frescas, mas nunca frias).

Repousará,
Junto das alfarrobeiras, dos gatos e dos homens,
(que com gestos antigos acarinham a terra).

Já próximo do mar infinito,
Repousará.

E em Junho, por fim,
Quando soar o solstício,
Sairá,
Mas sem nunca abandonar este lugar.

Os que aqui residem,
Entre a Foz e o Álamo,
Têm no calor da sua presença,
A permanente alegria da sua vida.

14 de Setembro de 2008



quarta-feira, setembro 10, 2008

Karl Polanyi e a Liberdade

Nos anos 40 do século XX, Karl Polanyi teve a ousadia de questionar a liberdade, num momento em que se morria por ela nos campos de batalha da Europa, África e Ásia. O geógrafo David Harvey, na sua Breve História do Liberalismo (2005) refere-se a Polanyi da seguinte forma (a tradução é minha):

«Na sua análise [Polanyi] notou que existem dois tipos de liberdade, uma boa e outra má. Esta última manifesta-se através da “liberdade para explorar o semelhante, ou a liberdade para realizar ganhos incomensuráveis não proporcionais aos serviços prestados à comunidade, a liberdade para esconder invenções e inovações tecnológicas de modo a não serem utilizadas para benefício público, ou a liberdade para se lucrar com calamidades públicas secretamente engendradas para vantagem de privados”. Mas Polanyi prossegue afirmando que “na economia de mercado onde prosperam aquelas liberdades produzem-se também liberdades altamente prezadas. Liberdade de consciência, liberdade de expressão, liberdade de reunião, liberdade de associação, liberdade de escolher o nosso próprio trabalho.” Enquanto acarinhamos estas liberdades para nosso próprio benefício - e certamente muitos de nós o fazem – existe uma larga extensão de by-products da mesma economia que são também responsáveis pelas más liberdades.» (Harvey, 2005)

Polanyi (1954) responde a este dualismo da seguinte forma:

«The passing of [the] market economy can become the beginning of an era of unprecedented freedom. Juridical and actual freedom can be made wider and general than ever before; regulation and control can achieve freedom not only for the few, but for all. Freedom not as appurtenance of privilege, tainted at the source, but as a prescriptive right extending far beyond the narrow confines of the political sphere into the intimate organization of society itself. Thus will old freedoms and civic rights be added to the fund of new freedoms generated by the leisure and security that industrial society offers to all. Such a society can afford to be both and free. (Polanyi, 1954, [citado por Harvey, 2005])

Infelizmente, Polanyi notou que a passagem a tal futuro é bloqueada pelo “obstáculo moral” da utopia liberal (e mais do que uma vez cita Hayek como um exemplar daquela tradição):

Planning and control are being attacked as a denial of freedom. Free enterprise and private ownership are declared to be essentials of freedom. No society built on other foundations is said to deserve to be called free. The freedom that regulation creates is denounced as unfreedom; the justice, liberty and welfare it offers are decried as a camouflage of slavery. (Polanyi, 1954, [citado por Harvey, 2005])

O fundamentalismo neoliberal que apenas considera livres as sociedades fundadas no princípio da livre empresa, da propriedade privada e isentas de qualquer regulação, constitui-se como um “obstáculo moral” à constituição de sociedades justas e reguladas, verdadeiramente livres e geradoras de bem-estar social.

Referências

Harvey, David (2005); A brief history of neoliberalism; Oxford University Press

Polanyi, Karl (1954); The great transformation; Boston, Beacon Press.

terça-feira, setembro 09, 2008

Justiça social: algures entre a liberdade e a igualdade

A liberdade e a igualdade, em certa medida, encontram-se em pólos opostos. Ou dito de outra forma: não cabem no mesmo saco. A Revolução Francesa, ao querer juntá-las, arranjou-nos um bom sarilho. Sistemas económicos e políticos que promovem a igualdade ou a liberdade individual estão longe de serem socialmente justos. É preciso pois encontrar um sistema que promova a justiça social, algures entre a liberdade e a igualdade.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Freedom! What freedom?

The freedom of the market that Bush proclaims as the high point of human aspiration turns out to be nothing more than the convenient means to spread corporate monopoly power and Coca Cola everywhere without constraint.

David Harvey (2005); A brief history of neoliberalism; Oxford University Press, pág.38

domingo, setembro 07, 2008

Liberdade! Que liberdade?

Todos nós amamos a liberdade. Amamo-la tanto que daríamos a vida por ela. Colocamos a liberdade acima da nossa própria vida. “Antes morrer de pé que viver de joelhos” dizem as paredes revolucionárias. Contudo, há que questionar a liberdade, tal como a questionou Polanyi nos anos 40. Por uma razão muito simples: o neoliberalismo, fomentador da injustiça social, escuda-se na liberdade sempre que se vê acossado pelos que o contestam.
A liberdade, tal como a justiça, é, enquanto valor universal, inatacável. As massas são assim impelidas para a causa neoliberal sempre que a mesma é posta em questão. O neoliberalismo explora o anseio do Homem por liberdade individual, para se impor, tal como as religiões instituídas exploram a religiosidade inerente a cada ser humano, para se sustentarem. Assegurado o consentimento da maioria, os neoliberais partem depois para a defesa da liberdade individual a qualquer preço, e passam a integrar o chavão da “liberdade” no seu jargão neoliberal para justificarem tudo, desde a invasão de países soberanos, à exploração do homem pelo homem e à destruição de ecossistemas.

E assim se destrói em nome da liberdade.

sábado, agosto 30, 2008

Portugal, o Hino e o Porvir

“Embora não pareça, o homem, naquilo que tem de criador, não provém do passado e sim do futuro. Provém do futuro, provém da sua expectativa, e dirige-se dele ao presente, isto é, rumo ao presente a partir da convocação que lhe fazem os seus projectos.”

Santiago Kovadloff, “A construção do Presente. Feições filosóficas do conceito de Trauma” in O Estado do Mundo, FCG, Tinta da China, 2006.

Todas as novas nações se fundam no porvir. Quando nascem estão prenhes de futuro, esperança e projectos. Os seus vagidos são gritos do Ipiranga. E enquanto o presente for vivido em função do porvir, tudo avança. (“O mundo pula e avança como uma bola nas mãos de uma criança”, não é verdade?!) E enquanto os Homens viverem o seu presente em função do porvir, os escolhos no caminho serão desafios a transpor. O problema coloca-se a partir do momento em que se enfatiza um passado comum em detrimento de um futuro partilhado. Quando as vozes do passado soam mais forte e as nações se enleiam nas teias da Saudade, os obstáculos no caminho passam a ser considerados problemas e não, desafios. Adquirem uma dimensão quase intransponível. Hesitamos. Quando a Esperança se alicerça nos feitos do passado, vive com a face voltada para trás. O fatalismo instala-se e transforma-se em Fado. O futuro passa a ser constantemente abortado. Vive-se à espera de Dom Sebastião, “quer venha ou não”. Assim é connosco, portugueses. Oiçamos a letra do Hino. Enleados nas teias da Saudade, fatalistas, sem futuro…

É preciso refundar Portugal. Precisamos viver um novo presente, já não em função do passado, mas fundado no porvir.


Discover Carlos Paredes!

sexta-feira, agosto 29, 2008

Quanto à Rússia, afinal o Ocidente pode estar tranquilo

Enquanto a Rússia for governada por oligarcas neoliberais e cleptocratas, o Ocidente pode estar tranquilo. Por um lado, é possível comprar a paz receptando os recursos resultantes do saque que estão a realizar em solo russo; por outro lado, os oligarcas russos têm como último interesse o seu próprio poder e riqueza, e estes dependem em grande parte da manutenção dos seus clientes ocidentais: não vão, por isso, matar a “galinha dos ovos de ouro”. Os americanos já o perceberam e ameaçam tudo fazer para retirar a Rússia do G7 e da Organização Mundial de Comércio, caso os russos mantenham a ocupação da Geórgia. Os dirigentes russos já vieram dizer que não temem o isolamento mundial, mas estão completamente desarmados face aos seus reais interesses. Estão a fazer “bluff”.

O melhor negócio do mundo

O melhor negócio do mundo é o que nunca vai à falência. De acordo com o economista Silva Lopes e com o analista e especulador financeiro George Soros - quando se pronunciaram acerca da actual crise financeira mundial - os grandes bancos não podem falir e o Estado tudo deve fazer para impedir a sua queda, nem que seja à custa dos contribuintes. É este o neoliberalismo em que vivemos mergulhados. Quando a coisa dá para o torto, que sejam os contribuintes a pagar as aventuras especulativas dos bancos na economia de casino que vai alastrando pelo globo. É este o sistema económico que alimenta a injustiça social através da transferência de recursos dos contribuintes para os especuladores. É assim que o Estado joga o jogo dos neoliberais. É assim que enriquecem homens como George Soros ou Joe Berardo, ainda que acenem com a bandeira da liberdade (cada vez mais utilizada como uma cenoura) ou pisquem o olho à populaça. É assim que a democracia se transforma em cleptocracia.

Se os grandes bancos não podem ir à falência, então que se nacionalizem.

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