quinta-feira, agosto 19, 2010

Calamidades naturais e desigualdades sociais


«In particular, there is no natural equality when it comes to ‘natural’ risks but, instead, social inequality in intensified form, the privileged and the non-privileged. Whereas some countries or groups are able to some degree to absorb the consequences of tornadoes or floods, others, the non-privileged on the scale of social vulnerability, experience the collapse of societal order and the escalation of violence.»
Beck, Ulrich (2010), “Remapping social inequalities in an age of climate change”, Global Networks 10, 2, p. 175
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Em curtas palavras, as catástrofes ambientais ampliam as desigualdades sociais entre os países e entre grupos privilegiados e não privilegiados, e embora todos sejam susceptíveis aos mesmos riscos naturais, é o seu maior ou menor grau de vulnerabilidade social que determina a intensidade do impacto sofrido pelos membros de uma determinada sociedade.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Do desespero

Há grandeza no tormento de É desesperante ver uma criança desesperada porque o mundo ruiu à sua volta, ao contrário do desespero de uma criança que berra num centro comercial porque lhe negaram o sorvete que exigia.

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terça-feira, agosto 17, 2010

sábado, agosto 14, 2010

As alterações climáticas e o aquecimento global


Título: Cenários de aumento da temperatura global. Legenda: Ano de referência - 2000
O Die Welt publicou uma excelente reportagem sobre o aquecimento global e as alterações climáticas. (Clicar aqui).

Os cenários não são promissores.

Aguarda-nos mais calor, mais incêndios, mais seca, desflorestação, alterações climáticas e a submersão de áreas estuarinas e costas baixas. A nós, aos nossos filhos e aos nossos netos.

Título: Variação da precipitação em percentagem para 2080-2099 tendo como base os valores da década de 1980-1999.

No nosso país, o Algarve e o Alentejo encontram-se entre as regiões do planeta que irão sofrer as maiores reduções percentuais de precipitação no final deste século. É por aqui que o deserto vai entrar na Europa.

O desafio que iremos enfrentar (se é que já não o estamos a enfrentar) será enorme.

Talvez os nossos filhos e netos tenham de lutar contra os espanhóis pela água.

Mas ainda há quem não acredite na evidência do aquecimento global. É tão estúpido como não acreditar que o Homem pisou a Lua.

quinta-feira, agosto 12, 2010

terça-feira, agosto 10, 2010

Uma lição de Chesterton ou a Era dos Bezerros de Ouro

Nos tempos que correm, os mortais ocidentais agarram-se a todo o tipo de bizarrias - consomem todo o tipo de estranhas e velhas novidades, qualquer coisa que lhes aplaque a inquietação que lhes vai na alma - e apenas porque a sua referência, Deus, morreu. Deambulam assim perdidos e procuram agarrar-se a tudo o que lhes pareça uma bóia de salvação, um rochedo seguro entre as águas revoltas de um rio. Mas afinal tais bóias, tais rochedos - cedo descobrem surpreendidos -, são apenas meras ilusões. E são arrastados pelas águas, desesperados e perdidos, olhando em volta à procura, enquanto se aproximam rapidamente do mar que os há-de engolir.

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«People readily swallow the untested claims of this, that, or the other. It's drowning all your old rationalism and scepticism, it's coming in like a sea; and the name of it is superstition." He stood up abruptly, his face heavy with a sort of frown, and went on talking almost as if he were alone. "It's the first effect of not believing in God that you lose your common sense, and can't see things as they are. Anything that anybody talks about, and says there's a good deal in it, extends itself indefinitely like a vista in a nightmare. And a dog is an omen and a cat is a mystery and a pig is a mascot and a beetle is a scarab, calling up all the menagerie of polytheism from Egypt and old India; Dog Anubis and great green-eyed Pasht and all the holy howling Bulls of Bashan; reeling back to the bestial gods of the beginning, escaping into elephants and snakes and crocodiles; and all because you are frightened of four words: `He was made Man.'"»

Chesterton (1926)

Tradução:


«- As pessoas engolem de boa vontade afirmações sem provas disto, daquilo ou de outra coisa qualquer. É como um mar que avança e submerge todo o nosso velho racionalismo e cepticismo, é aquilo a que se chama superstição. – Levantou-se bruscamente, mostrando uma espécie de preocupação na expressão carregada do rosto, e continuou a falar como se estivesse a sós consigo mesmo. – O primeiro efeito de não acreditarmos em Deus é perdermos o senso comum e deixarmos de ser capazes de ver as coisas tal como elas são. Qualquer coisa que qualquer pessoa diga, e declare coisa corrente, ganha uma extensão indefinida como um panorama de pesadelo. E um cão é um portento, e um gato é um mistério, e um porco é um talismã, e um escaravelho é um deus, e temos de novo todo o jardim zoológico do politeísmo do Egipto e da velha Índia; o cão Anúbis e a Leoa Pachet e os clamorosos Touros de Bashan; eis de regresso os deuses bestiais do início, que se confundem com elefantes e serpentes e crocodilos; e tudo isto, porque nos assustam as palavras que dizem: “Ele fez-se Homem”.»

Chesterton citado por Slavoj Zizek, Violência, Relógio D’Água, 2008, pág. 160.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Eira do Serrado


Tony Judt: nem neoliberalismo, nem marxismo


Partiu o historiador que não acreditava nem no neoliberalismo nem no marxismo. Mas acreditava na democracia e no Estado social.

«Os que festejam o triunfo do mercado e o recuo do Estado, e que gostariam de nos fazer celebrar o alcance sem regras da iniciativa económica no mundo «plano» contemporâneo, esqueceram-se do que sucedeu da última vez que aqui passámos.
(...)
Quanto aos que sonham voltar a exibir a cassete marxista, remasterizada digitalmente e limpa de irritantes ruídos comunistas, fariam bem em perguntar-se, mais cedo do que tarde, o que é que se passa com os «sistemas» de pensamento totalmente abrangentes que conduzem inexoravelmente a «sistemas» de poder totalmente abrangentes.»

Tony Judt, O Século XX Esquecido, Lugares e Memórias, Edições 70, pág. 153

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