quinta-feira, junho 09, 2011

domingo, junho 05, 2011

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Fernando Pessoa, Mensagem

Pelicanos

sábado, junho 04, 2011

As novas cidades-fantasma de Espanha

Ayamonte (à esquerda) e a sua recente vizinha, a cidade-fantasma de Costa Esuri (à direita)
(a escala das duas imagens é a mesma)

Quantas Ayamonte cabem em Costa Esuri - uma cidade nova e insustentável, que está às moscas?

Foi em projectos megalómanos como o de Costa Esuri que os bancos escoaram o dinheiro dos depositantes. Resultado: uma crise financeira que iremos pagar todos porque "os bancos são importantes demais para irem à falência".

E não se pense que é um problema só dos espanhóis. A rede internacional de transacções bancárias e financeiras serviu para difundir uma crise que teve o seu epicentro nos EUA, em 2007, e que já nos atingiu. A Espanha foi apenas uma das vítimas do contágio. Em última instância, a austeridade que nos está a ser imposta, resultou em grande parte desta crise no sector imobiliário (a bolha imobiliária) e da falta de regulação das actividades bancárias, financeiras e imobiliárias.

É uma grande injustiça os contribuintes e os trabalhadores terem agora de pagar a insanidade dos bancos e de outras instituições financeiras.

Os governos, entretanto, assobiam para o lado e estão com os bancos e com os mercados que lhes emprestam dinheiro.

E assim nos vamos escravizando aos mercados.

Lido esta semana


O que eu não perdoo a Sócrates e seus muchachos

sexta-feira, junho 03, 2011

Estado de desgraça

O próximo governo e respectivo primeiro-ministro entrará em estado de desgraça logo no dia 6 de Junho, estado esse que se manterá por muito tempo. Estado de graça não haverá. Desta vez não haverá. Mais tarde, talvez entremos numa espécie de estado engraçado…desgraçadamente engraçado. Quando o primeiro-ministro nos vier dizer que afinal não poderemos pagar a dívida. Que afinal será necessária uma reestruturação. Como se não o soubéssemos já.

quinta-feira, junho 02, 2011

La fuente de Reding

Guillermo Gómez Gil, La fuente de Reding, 1880-1885
(Museo Thyssen-Bornemiza, Málaga)

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Entre ruínas

Habito num mundo arruinado. As ruínas estão por toda a parte. Os muros esboroam-se. As noras, abandonadas na serra, aguardam. As eiras, vencidas pelas estevas, desaparecem. Por todo o lado restam os despojos de uma civilização desaparecida. Quando estes montes eram habitados…Ah! quando eram habitados...Os cântaros eram transportados à cabeça das camponesas.

Esse Algarve morreu. As suas gerações já abandonam a terra e abandonam-me no meio destas ruínas.

Partem os meus avós, partem os meus pais: fico cada vez mais pobre, cada vez mais só.

Por vezes também apetece partir. Tomar aquela ponte ali. Zarpar.

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