sexta-feira, outubro 07, 2011

As sugestões do economista Campos e Cunha

Estou farto de economistas, em particular, de economistas como o senhor Doutor Campos e Cunha. Esses economistas que teimam em considerar o trabalho como um fim e não como um meio. Propõe o dito economista que se abulam alguns feriados, que se reduzam as férias e que se trabalhe mais umas horas semanais. Mas já não propõe que, nesse caso, se deva remunerar o trabalho na devida proporção. Propõe então o Sr. Doutor Campos e Cunha que se desvalorize o trabalho porque, de acordo com a sua sugestão, se passará a trabalhar mais tempo, recebendo o mesmo vencimento. Ora não me parece que o trabalho de hoje valha menos que o trabalho de ontem, mas o que o Sr. Doutor Campos e Cunha sugere é que se pague menos pelo mesmo trabalho (ou dito de outra forma, que se trabalhe mais, pela mesma remuneração). Ora para onde vai então o valor das horas adicionais de trabalho, se não for pago ao trabalhador na devida proporção no seu vencimento? Parece que aquilo que o Sr. economista, Doutor Campos e Cunha propõe, tem um nome: exploração!

Sugestões dessas, não muito obrigado.

Estará ele nessa disposição? Estará disposto a vender o seu trabalho por menos dinheiro? Porque não segue então as suas próprias sugestões, e se priva dos feriados, das férias e trabalha mais umas horas, pela mesma remuneração?

quarta-feira, outubro 05, 2011

Jovens, acordem!

Setecentos indignados, como esta jovem da fotografia, foram detidos no sábado passado quando protestavam em Wall Street, o olho do furacão financeiro que varre as economias mundiais. As novas gerações e as mulheres encontram-se entre as primeiras vítimas da actual crise económica. Se não se mobilizarem, se não lutarem, então o mundo em que terão de viver será mais adverso que o dos seus pais e avós. Serão mais pobres.

Segundo a revista Courrier Internacional do presente mês, “actualmente 20,4% dos europeus entre os 15 e os 24 anos continua sem emprego. É mais de um terço do que em 2008. Esta taxa, no entanto, é apenas a média europeia. Esconde números ainda mais preocupantes. Como os 42% de jovens desempregados em Espanha, 30% nos Países Bálticos, Grécia e Eslováquia e 20% na Polónia, Hungria, Itália e Suécia.” (Courrier Internacional, Outubro 2011, pág. 26). E em Portugal? Mais de 50% dos assalariados com menos de 25 anos trabalham com contratos prazo, de acordo com a mesma revista.

A vida nem sequer está fácil para os mais bem qualificados academicamente e cientificamente. Hoje pode ler-se no jornal Público que os dois jovens investigadores portugueses que participaram numa das equipas que ganhou o Prémio Nobel da Física (!), se encontram, um deles, a trabalhar fora do país, e a que resolveu ficar, trabalha numa área que não está relacionada com a ciência (Público, quarta-feira, 5 de Outubro, pág. 15). Em Portugal nem sequer existem oportunidades para os mais qualificados e os bolseiros dos estudos pós-graduados são atirados para uma situação precária. Ora isto tem de mudar.

É hora das novas gerações começarem a abrir os olhos, sob pena de, se não o fizerem e se não lutarem por outra organização social e económica, serem paulatinamente empurrados para as novas hordas de explorados, sem sequer se darem conta. E quando se derem conta poderá ser tarde demais. Os jovens americanos, esses, estão a acordar.

domingo, outubro 02, 2011

A Virgem Negra da Fome


(Pascal Maitre/Cosmos)

Esta jovem mulher chama-se Howa Ali e faz parte de um grupo de uma centena de famílias somalis recentemente chegadas a Mogadíscio após uma marcha de vinte dias que custou a vida a trinta dos seus filhos. Olhando para cima, ela claramente não espera nada dos homens, nem mesmo aqueles que vêm a este abrigo improvisado para distribuir alguns alimentos ou para dar testemunho da imensidão das suas angústias. Instalados nas ruínas da catedral - destruída por militantes islâmicos em 1990 após o assassinato do bispo - os refugiados dormem sobre os escombros, sem instalações sanitárias ou tecto, e muitos deles sofrem de sarampo.
Le Figaro (tradução minha)
***
Tanto sofrimento estampado nos rostos. Onde está o brilho irradiante, como nas aparições salvíficas? Ali, vislumbramos apenas a sombra da morte.
Pobres mulheres, pobres crianças.

sexta-feira, setembro 30, 2011

quinta-feira, setembro 22, 2011

Portugal no pântano

Comigo não há risco. Tenho bastante de Barca D’Alva e de Porto, de América Latina e de África, de Nagasaqui e de Macau e de Timor, para que me dê qualquer tentação de afogar-me nos pântanos de leite da sobredita Europa.” (Agostinho da Silva, Caderno de Lembranças, Zéfiro, 2006, pág. 71).

Agostinho da Silva sabia que a adesão à C.E.E. nos iria ficar cara. Que muito provavelmente nos iríamos afogar num oceano de dívidas devido a um consumismo para o qual não estávamos historicamente vocacionados. Na frase que imediatamente antecede a supracitada, Agostinho termina dizendo que não nos esquecesse-mos “de ir o País de Camões entrar no supermercado da C.E.E. e ir ser consumista sem dinheiro, o que quero ver”.

Volvidos 25 anos, um quarto de século, o resultado está à vista. Acabámos por consumir com o dinheiro que não tínhamos, recorrendo ao crédito. Portugal está agora afogado, não num pântano de leite, mas num mar de dívidas. Chegámos então a um impasse: ou nos emancipamos e voltamos ao escudo, ou nos federamos, nos Estados Unidos da Europa, e então, Portugal passará a ser outra coisa, directamente governado a partir de uma cidade distante, no centro político e económico dessa federação.

Como estamos, agonizamos.

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PS – É certo que uma saída da Zona Euro, e nisso os economistas menos ortodoxos também concordam, teria como resultado uma recessão prolongada e o País seria conduzido a uma depressão. Teríamos um efeito recessivo da queda da procura interna, diz Francisco Louçã (Louçã, Portugal Agrilhoado, Bertrand Editora, 2011 pág. 97). Mas sempre podemos colocar a questão: não estamos já aí? Como se pode aguentar uma Zona Euro, com 17 ministros das finanças e dezassete sistemas fiscais diferentes? A integração europeia foi profunda ao nível económico, ligeira ao nível político, mas não existiu ao nível social e financeiro. Por isso estamos num impasse, sem fim à vista.


quinta-feira, setembro 15, 2011

Desemprego jovem dispara no Reino Unido


Agora façam o favor de agradecer ao Sr. Camarão e à sua maravilhosa política.

O neoliberalismo é o horror económico.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Entretanto, entre os sonâmbulos das “nações afortunadas”

Quem poderia contestar que os alarmistas, como sempre, têm quase inteiramente razão? Os habitantes das nações afortunadas avançam o mais das vezes como sonâmbulos no pacifismo apolítico. Passam os dias numa insatisfação dourada. Entretanto, nas margens da zona de felicidade, os que nos importunam e até os seus verdugos virtuais mergulham nos manuais da química dos explosivos – requisitados às bibliotecas públicas dos seus países de acolhimento.

Peter Sloterdijk (2006), Cólera e Tempo, Relógio D’Água, 2010, pág. 60

domingo, setembro 11, 2011

Colectivos da cólera e das «civilizações» vexadas


"De acordo com tudo o que hoje sabemos das coisas que nos esperam, seremos forçados a supor que a primeira parte do século XXI será também ela marcada por imensos conflitos que serão desencadeados por colectivos da cólera e das «civilizações» vexadas."

Sloterdijk, Peter (2006), Cólera e Tempo, Relógio D' Água, 2010. Pág. 40

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