sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Notícias da desindustrialização na Europa, esta semana (com link):


Mitsubishi deixa a Europa. Resultado: 1500 desempregados, 1500 famílias com os seus rendimentos familiares coarctados na Holanda. São mais de 1500 pessoas, como é óbvio.




A Renault inaugura fábrica em Marrocos. Neste caso destaca-se o facto da Renault criar novos postos de trabalho em Marrocos e não em França.

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A Europa desindustrializa-se e a indústria deslocaliza-se para os países onde consegue produzir o mesmo ou mais, por um custo menor. A ideia é como sempre, aumentar a margem de lucro, à custa dos baixos salários praticados no mundo menos desenvolvido. Lá onde se vive ainda numa espécie de miséria da Era Vitoriana dos tempos de Charles Dickens. Lá, onde os direitos laborais (e humanos) ainda não foram conquistados e onde a liberdade ainda não mora. Lá, onde ainda se pode explorar. Lá, na terra da servidão.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Ninguém pára o Bashar


Não, não é uma orquestração da imprensa internacional pró-Ocidental.

São as vítimas que falam, e falam alto e gritam de dor e de pranto. Ouvimo-las na nossa sala de jantar e já se contam aos milhares.

Se ainda não é uma guerra civil, para lá caminha. As sementes foram lançadas.

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Caem os ditadores no Próximo e do Extremo Oriente e o processo ainda não cessou.

Primeiro o Sadam, depois o Ben Ali, o Mubarak e a seguir o Kadafi.

Seguir-se-á o Bashar, que aprendeu com o seu falecido pai a não ceder nunca, nem que o sangue do seu povo tenha de correr nas ruas. É uma questão de auto-preservação. Também o pai massacrou, por vezes, quem se lhe opunha. Mas naquele tempo pouco se sabia e era mais fácil encobrir os hediondos crimes. Mas hoje sabemos. As novas tecnologias impossibilitam a ocultação dos massacres e dos bombardeamentos. Ouvimos os obuses que riscam os céus da Síria na nossa sala de jantar. Mas o Bashar não transige. A mínima cedência é o fim e ele sabe-o. Se entreabrir um pouco a porta, virá a enxurrada. Se transigir um pouco, os que se lhe opõem, verão nisso um sinal de fraqueza e cairão sobre ele e sobre o regime. Ele é o regime.

 Então o Bashar bombardeia o seu próprio povo.

Ninguém pára o Bashar.

Por agora.

domingo, fevereiro 05, 2012

"Who do you think you are?"


Que ousadia! Que ousadia!
Proferir uma poesia.

Who do you think you are? 
Digo eu para comigo mesmo.

O Dia Mundial de Tocar Banjo


Se há dias para tudo,
Porque não para este?
Por certo soariam banjos,
Em toda a esfera celeste.

Como eu amo o vento Leste
Que vem no Verão e tudo abrasa.

E do céu desceu um arcanjo,
Animado, a tocar banjo.
E assim foi proclamado
O dia tão aguardado.
Qual guitarra, qual fado?
Veio de banjo, o anjo armado.




I Wanna be Around My Baby All the Time by Bennie Moten on Grooveshark


domingo, janeiro 29, 2012

O que é o neoliberalismo?


«Quando se fala do neoliberalismo, alemão ou outro, ou seja do liberalismo contemporâneo, obtém-se geralmente três tipos de resposta.
Em primeiro lugar, esta: do ponto de vista económico, o que é o neoliberalismo? Nada mais do que a reactivação de velhas teorias económicas já gastas.
Em segundo: do ponto de vista sociológico, o neoliberalismo mais não é do que aquilo através do qual passa a instauração, na sociedade, de relações estritamente mercantis.
Por último: do ponto de vista político, o neoliberalismo mais não é do que uma cobertura para a intervenção generalizada e administrativa do Estado, intervenção tão pesada porquanto insidiosa e por se disfarçar sob os aspectos de um neoliberalismo.»

Michael Foucault (1979), Nascimento da Biopolítica, Edições 70. Lisboa. 2004. Páginas 173-174.

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Vivemos numa época moribunda, esta do capitalismo tardio e do neoliberalismo que apodrece. Uma época infértil, incapaz de parir um futuro esperançoso. Uma época que se arrasta e nos arrasta, incapaz de prometer o que quer que seja a não ser o sacrifício do presente e a ausência do futuro. É preciso pôr termo a isto. 

Sheared Times by Portishead on Grooveshark

sexta-feira, janeiro 27, 2012

A guerra para além do homem

O Drone X-47B consegue voar sozinho e aterrar, apenas com o auxílio dos computadores de bordo. Representa um novo paradigma na “arte” da guerra: a morte e a destruição passarão a ser semeadas, já não por homens armados, mas por máquinas que operam de forma semi-independente.

Com as novas armas temos hoje a garantia de que a guerra prosseguirá para além da extinção humana. Já ninguém as comanda, nem sequer de forma remota. Questionava-se em tempos um académico acerca da legitimidade das guerras comandadas, já não por militares, mas por civis que, levantando-se pela manhã, se dirigiam ao local de trabalho: um posto de controlo remoto, algures nos EUA, onde se comandavam drones que sobrevoavam terras distantes, fotografando, metralhando e bombardeando se fosse necessário. Ao fim do dia esses funcionários ou empregados regressavam ao aconchego do lar com o sentimento de missão cumprida, enquanto no distante Paquistão alguém chorava os seus mortos.

Pois bem, com as novas armas a questão começa a perder acutilância. No futuro a guerra poderá escapar não só à alçada dos militares mas também à dos civis. Será coisa de máquinas. Não foi Kasparov vencido pelo Deep Blue? É o admirável mundo novo. O pesadelo do Exterminador entre nós. E ainda que o homem seja varrido da face do planeta, podemos estar descansados: as máquinas ficarão por cá, assegurando a guerra perpétua.

domingo, janeiro 22, 2012

Flamingos (Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e VRSA)


© AMCD

Da dificuldade em conter a expansão do neoliberalismo (isso que alguns teimam em não saber o que é)


 O actual modo de funcionamento da economia mundial (e hoje existe efectivamente uma economia mundial) juntamente com as elites extraterritoriais que a fazem funcionar favorecem organismos estatais que não podem de facto impor as condições de gestão da economia e, menos ainda, a impor restrições ao modo como aqueles que dirigem a economia entendem fazê-lo: a economia é hoje decididamente transnacional. Virtualmente em todos os Estados, pequenos ou grandes, a maior parte dos meios económicos mais importantes para a vida quotidiana da população são «estrangeiros» - ou, dado que foram removidas todas as barreiras aos movimentos do capital, podem tornar-se estrangeiros de um dia para o outro, caso os governantes locais suponham ingenuamente poder intervir.”

Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada, Ensaio sobre a Moral Pós-Moderna, relógio D’Água. 2007. Pág. 253-254.

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Bauman escrevia em 1995, há 17 anos portanto, sobre a impotência dos Estados, ou dos “organismos estatais”, na determinação dos rumos da economia, que passou definitivamente a funcionar num quadro que transcende as nações (transnacional). O “modo de funcionamento da economia” a que se refere Bauman em 1995, não podia ser mais actual. Vivemos já a hora em que “a maior parte dos meios económicos mais importantes para a vida quotidiana da população” se tornam estrangeiros, e, poderíamos acrescentar, chineses. Comunistas capitalistas chineses! Os grandes vencedores da Era neoliberal. Trata-se de uma grande ironia. Eles não comem tudo; eles compram tudo! Esta semana foi a vez da Thames Water, a “maior empresa de água e saneamento do Reino Unido” (Público, 21 de Janeiro de 2012, pág. 15) que “abastece 8,8 milhões de consumidores com água e presta serviços de esgotos a cerca de 14 milhões de britânicos, em Londres e regiões próximas”, ter sido comprada em 8,7% pelo fundo de investimento China Investment Corporation. Já antes a Three Gorges tinha comprado 21,3% da EDP. Água, energia, saneamento básico… – “os meios económicos” mais importantes para a vida quotidiana da população”.

A China posiciona-se estrategicamente no campo geopolítico e geoeconómico da globalização. E não sejamos ingénuos: não o faz por altruísmo ou para “ajudar” o pobre Ocidente que até há pouco era rico e colonizador e que agora implora por mais dinheiro. Fá-lo porque procura ganhar uma posição hegemónica na economia e na política mundial. No futuro poderá impor os seus interesses ao mundo: o que fará o Ocidente (ou o mundo) quando a China ameaçar utilizar o embargo financeiro (essa nova arma), caso os seus interesses sejam contrariados, por exemplo, na questão de Taiwan, essa ilha que se segue, após Macau e Hong Kong?

domingo, janeiro 15, 2012

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