sábado, agosto 18, 2012

Perséfone

Bernini, O Rapto de Proserpina (detalhe), 1621-22

Depois, [Zeus] ocupou também o leito de Deméter criadora, que gerou Perséfone de alvos braços, que Hades arrebatou junto de sua mãe; mas o prudente Zeus concedeu-lha.

Hesíodo, Teogonia, 912-914

Será este um fantasma que me mandou a altiva Perséfone, para que eu chore e me lamente ainda mais?
Homero, Odisseia, XI. 213-214

***

Proserpina arrebatada por Plutão: a escultura transmite força e fragilidade – a força de Plutão e a fragilidade de Proserpina. O mármore cede ao toque dos marmóreos dedos de Plutão, que segura Proserpina com todo o cuidado, como se fosse de carne e osso.

O canto do grilo


Entrevistador: Uma nota: os mercados impõem agora a sua ditadura ao povo. Não é assim?

Grilli (Ministro da Economia italiano): «Não colocarei a questão nesse plano. Não vamos demonizar os mercados. Uma economia moderna não deverá fazê-lo: é uma questão de conveniência recíproca. Os mercados não são um inimigo, mas um instrumento que permite ao Estado e aos privados financiarem-se. Naturalmente os mercados escolhem as soluções que mais lhes convêm, e os estados devem adaptar-se, procurando ser mais competitivos e atraentes. Este processo de adaptação é mais longo e difícil na Europa, uma vez que existe uma casa comum, o euro, que impõe a todos os países uma mudança conjunta. Mas não tenho dúvidas: o processo é irreversível. O euro é uma grande conquista económica e de civilização. E do euro não se voltará atrás.»


Este é o discurso dominante na Europa conduzida pelos sumo-sacerdotes do mercado. Longe de demonizarem os mercados, endeusam-nos. Nas suas palavras, os países não têm outro remédio senão adaptar-se – submeter-se - às conveniências da nova divindade. Tudo para que possam financiar-se, ou melhor, endividar-se e continuar a viver a crédito e do crédito.

sexta-feira, agosto 17, 2012

O cão e o chicote


«É apenas preciso mostrar-se um chicote a um cão para que ele se doa.»

Alexandre Soljenitsin, Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, Publicações Europa-América, p. 72.


Soljenitsin sabia do que falava.

sexta-feira, agosto 03, 2012

Prodígios

Gabby Douglas - Ouro

Viktoria Komova - Prata

Aliya Mustafina - Bronze

A campeã.

Capela Sistina

quinta-feira, agosto 02, 2012

Para lá dos 7 000 milhões

1950
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2010
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2050
(clique para ampliar)


2100

Os timoneiros cegos


«Há uma coisa que intriga na política deste governo: o facto de ir mais longe do que a troika nas medidas de austeridade e nada nos ser dito sobre os objectivos futuros que a justifiquem. Voltar mais cedo aos mercados? Para quê? Não para voltar ao statu quo ante, o que seria absurdo, mas, como diz o primeiro-ministro, para “mudar Portugal”. Mas como? Que novo Portugal se quer construir? Nada, absolutamente nada de concreto nos é dito sobre essa ambição. E nada do que é feito nos desvela o futuro.»

José Gil, “O silêncio das palavras”, Visão n.º 1013, 2 a 8 de Agosto de 2012

Os timoneiros que nos governam têm como “grande desígnio” o rápido regresso aos mercados, esse outro pote. Já o tínhamos notado aqui. Os portugueses seguem-nos em silêncio. Pobre gente.

segunda-feira, julho 30, 2012

domingo, julho 29, 2012

Grandes aberturas: Crónica de uma Morte Anunciada



«No dia em que iam matá-lo, Santiago Nassar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava uma mata de figueiras-bravas, onde caía uma chuva miúda e branda, e por uns instantes foi feliz no sono, mas ao acordar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros. «Sonhava sempre com árvores», disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando 27 anos depois os pormenores daquela segunda-feira ingrata. «Na semana anterior tinha sonhado que ia sozinho num avião de papel de estanho que voava sem tropeçar por entre as figueiras», disse-me. Tinha uma reputação bastante bem ganha de intérprete certeira de sonhos alheios, desde que lhos contassem em jejum, mas não descobrira qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho, nem nos restantes sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que precederam a sua morte.»

Gabriel Garcia Márquez, Crónica de uma Morte Anunciada, Publicações Dom Quixote, 1995.

***

A minha passagem preferida:

«Até então não tinha chovido. Pelo contrário, a Lua estava no meio do céu, e o ar era diáfano, e no fundo do precipício via-se a regueira de fogos-fátuos no cemitério. Do outro lado divisavam-se as sementeiras de bananas azuis ao luar, os pantanais tristes e a linha fosforescente do Caribe no horizonte.»
Op. Cit., pág. 60

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