quinta-feira, julho 04, 2013

Pedro Passos Coelho conta com a apreensão e o medo dos portugueses

Ontem em Berlim, numa conferência de imprensa, afirmou o seguinte:

Creio que os portugueses estarão muito mais apreensivos e assustados com a possibilidade de terem eleições sem saberem o que é que poderá resultar disso, não sabendo sequer se poderão continuar a dispor de apoio externo, como têm tido até hoje. Os portugueses estarão muito mais assustados com essa situação do que, com certeza, com a possibilidade de podermos fechar o nosso programa de assistência económica e financeira e de podermos enfrentar as dificuldades que temos, que ainda temos muitas."

Pedro Passos Coelho, Berlim, dia 3 de Julho de 2013

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A inépcia política é gritante. Podia ter afirmado que contava com a razão, a sensatez, o bom senso dos portugueses que ele governa (ou desgoverna)…Mas não. Conta com a apreensão e o medo dos seus conterrâneos e disse-o duas vezes.

Estamos apreensivos e assustados com a democracia? Estamos com medo do plebiscito e do que poderá daí resultar? Estamos com medo das nossas próprias escolhas? Estamos com medo do futuro? Estamos com medo dos mercados? Pois o pior que nos pode acontecer é viver com medo. Isso e calhar-nos em sorte a reeleição de Passos Coelho em futuras eleições. Disso sim, grande parte do povo português provavelmente terá medo.

quarta-feira, julho 03, 2013

Os que mais lêem no mundo

         Daqui: Russia Beyond the Headlines

Nota: esqueceram-se de pintar a Suécia e a ilha da Tasmânia que integra a Austrália.

Mais sobre este assunto: aqui e aqui.

terça-feira, julho 02, 2013

Portas bate com a porta.

E amanhã, quem será?

O CDS sempre beneficiou, quando não coligado com o PSD, do descontentamento das franjas oscilantes do lado conservador desse partido em relação à sua própria liderança, conseguindo dessa forma melhores resultados eleitorais. Beneficiava com os descontentes da ala direita do PSD. Quando assume o Governo em coligação com o PSD, cuja liderança se encontra agora num momento de grande fraqueza e divisão, o CDS vê-se privado desse habitual benefício, pois está no mesmo barco.

Será que julga que poderá voltar à sua condição de beneficiário do descontentamento dos simpatizantes do PSD, distanciando-se neste momento desse partido? Talvez agora seja tarde demais.

Quando o Mediterrâneo fervilha

      Egipto, Cairo, Praça Tahrir, 30 de Junho de 2013

A situação está muito complicada no Egipto. As elevadas taxas de natalidade dos países do Norte de África, aliadas a elevadas taxas de desemprego jovem, funcionaram como uma autêntica bomba demográfica que rebentou. Somadas ao sectarismo religioso e à crescente percepção das assimetrias persistentes entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido, alimentada pela difusão das novas tecnologias de informação e comunicação, conduziram a uma frustração crescente que agita os países da margem sul e este do Mediterrâneo, com raras e notáveis excepções.

Já Portugal e os países da margem norte do Mediterrâneo empobrecem e revelam também elevadas e crescentes taxas de desemprego jovem, embora a sua fertilidade seja muito mais reduzida comparativamente à dos países do Norte de África.


domingo, junho 30, 2013

Miguel Sousa Tavares, os professores e os romances

A embirração de MST com os professores nem merecia uma reacção (ele serve-se das reacções que suscita para depois se vitimizar nos palcos mediáticos que tem ao seu dispor como o fez no Expresso deste sábado). É um opinion-maker à procura de opinion-takers.

Acerca dos romances que escreve, assim como os romances que escrevem outros jornalistas e pivots de telejornais deste nosso pequeno mundo, também eles muito críticos em relação aos professores, aplicam-se as palavras de Alexis de Tocqueville na sua Democracia na América:

…nas nações democráticas, um escritor pode gabar-se de obter sem dificuldade um renome medíocre e uma grande fortuna. Para isso, não é necessário que o admirem, bastando tão-somente que o aprovem. A turba sempre crescente dos leitores e a sua necessidade contínua de novidades asseguram a venda de livros que de modo nenhum estimam. (…) As literaturas democráticas abundam sempre desses autores que não vêem nas letras mais que uma indústria, e, por um punhado de grandes escritores que aí se vislumbram, podem contar-se aos milhares os vendedores de ideias.
Alexis de Tocqueville, Democracia na América, Cap. III.

Eles estão longe, muito longe, de fazer parte daquele punhado de grandes escritores dos tempos democráticos a que se refere Tocqueville. E como muito provavelmente não obtiveram a aprovação que esperavam dos professores, não os aprovam. Os professores que tenham paciência.

No princípio eram as agências de "rating".

No princípio eram as agências de rating. Era necessário fazer subir os juros da dívida pública. Era preciso atacar os elos mais fracos de um espaço monetário com problemas genéticos e ao qual não correspondia qualquer união política, um espaço politicamente dividido, um espaço enfraquecido. Animadas não se sabe por que sopro, decidiram actuar. A sua autoridade e o seu poder residem tão só na credibilidade cega que os especuladores, grandes e pequenos, lhe dão. Em função dos ratings por elas atribuídos às empresas e países (à suposta capacidade de estes pagarem as suas “dívidas soberanas”), os especuladores redireccionam e reorientam os fluxos de capital financeiro para lugares que lhes asseguram, segundo acreditam, os mais elevados retornos. Esses fluxos de capital financeiro determinam hoje a graça e a desgraça dos povos. É com o seu domínio e controlo que se preocupa cada vez mais a actual geopolítica e já não tanto com o comando dos territórios (Agnew, 2012: 3).

A atribuição de ratings pelas agências encerra um elevado grau de subjectividade, como aqui se refere. Os ratings são atribuídos não a partir da realidade vivenciada pelos povos, sociedades e nações, mas com base em fórmulas de duvidosa validade científica, ou com base em sabe-se lá o quê – são opiniões, diz-se aqui. Os “sábios” que estão por detrás dessas classificações, não são antropólogos, sociólogos, geógrafos, historiadores, etnógrafos, filósofos, etc., enfim, profundos conhecedores da realidade dos povos. São economistas e financeiros armados de números, folhas de Excel, preconceitos, ideologia, e embriagados na sua hubris - uma espécie de gasparzinhos.

Epílogo

Depois veio a troika, naquele belo dia de sol, e surpreenderam-se com o povo sossegado que encontraram nas esplanadas e com a pacatez de um país que devia estar em crise e que afinal não se comportava de acordo com as suas expectativas. Havia que fazer alguma coisa. O “deboche” não podia continuar.
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Referência

Agnew, John (2012), “Of canons and fanons”, Dialogues in Human Geography, 2012 2: 321

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