segunda-feira, julho 08, 2013

A “globalização da indiferença”

O Papa Francisco refere-se à globalização da indiferença quando releva o que acontece em Lampedusa. Acerta na mouche. Já tínhamos reparado antes em Lampedusa. Não somos indiferentes e saudamos a iniciativa que irá por certo, mais uma vez, colocar a ilha no centro das atenções de muito mundo.

E continuamos a afirmar: Lampedusa é uma metáfora, entre outras, que desmente aqueles que tecem loas à globalização e ao maravilhoso mundo plano (1).
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(1) Referimo-nos a Thomas Friedman, O Mundo é Plano, Actual Editora, 2006, cuja edição portuguesa é prefaciada pelo mui católico João César das Neves (que se associa também ao enaltecimento da globalização).

domingo, julho 07, 2013

Fazer da fraqueza força ou “ponham-se finos”

“Em certas situações de negociação, tal como demonstra Thomas Schelling, a fraqueza e a ameaça de que um parceiro irá entrar em colapso podem ser uma fonte de poder negocial. Um devedor na bancarrota que tenha uma dívida de mil dólares tem pouco poder, mas se dever mil milhões de dólares, ele poderá deter um poder negocial considerável – basta recordar o destino das instituições consideradas «demasiado grandes para cair» durante a crise financeira de 2008.”

Joseph Nye, Jr. O Futuro do Poder, Temas e Debates, 2012, Pág. 23.  

sábado, julho 06, 2013

Sobre o processo histórico e a História

"O que torna assustador o processo histórico é o facto de passar despercebido aos que o estão viver."

Clara Ferreira Alves, “O Ovo da Serpente”, Revista, Expresso, 06 de Julho de 2013




Há quem se aperceba que está a viver um momento histórico quando o vive, mas um momento não é um processo (Clara Ferreira Alves di-lo na sua crónica). Um processo histórico integra momentos históricos. Os egípcios da Praça Tahrir ou os astronautas da Apolo 11, por exemplo, sabem e sabiam que estavam a viver momentos históricos, ou, como se diz, estavam a “fazer história”. Mas os festivos egípcios da Praça Tahrir talvez não se apercebam do quão o seu país está próximo de uma guerra civil ou da subida do preço do petróleo nos mercados internacionais e das suas implicações, devido, em grande parte, às suas manifestações.

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Depois de ler muitas obras de historiadores concluo que a história contada é sempre distorcida pela visão do historiador. Trata-se de um problema genético da História. Heródoto, o pai da História, escreveu as suas Histórias para glorificar os feitos dos gregos. Desde então não há historiador que não puxe a brasa à sua sardinha. 

sexta-feira, julho 05, 2013

Foi você que pediu um segundo resgate?

Eu não fui, mas dizem que já vem a caminho. Brilhante! Paga o Zé!

Entretanto fiquemos aqui quietinhos, à espera, pois só estamos autorizados a mexer os olhinhos, não vão os mercados assustar-se.

quinta-feira, julho 04, 2013

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Pedro Passos Coelho conta com a apreensão e o medo dos portugueses

Ontem em Berlim, numa conferência de imprensa, afirmou o seguinte:

Creio que os portugueses estarão muito mais apreensivos e assustados com a possibilidade de terem eleições sem saberem o que é que poderá resultar disso, não sabendo sequer se poderão continuar a dispor de apoio externo, como têm tido até hoje. Os portugueses estarão muito mais assustados com essa situação do que, com certeza, com a possibilidade de podermos fechar o nosso programa de assistência económica e financeira e de podermos enfrentar as dificuldades que temos, que ainda temos muitas."

Pedro Passos Coelho, Berlim, dia 3 de Julho de 2013

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A inépcia política é gritante. Podia ter afirmado que contava com a razão, a sensatez, o bom senso dos portugueses que ele governa (ou desgoverna)…Mas não. Conta com a apreensão e o medo dos seus conterrâneos e disse-o duas vezes.

Estamos apreensivos e assustados com a democracia? Estamos com medo do plebiscito e do que poderá daí resultar? Estamos com medo das nossas próprias escolhas? Estamos com medo do futuro? Estamos com medo dos mercados? Pois o pior que nos pode acontecer é viver com medo. Isso e calhar-nos em sorte a reeleição de Passos Coelho em futuras eleições. Disso sim, grande parte do povo português provavelmente terá medo.

quarta-feira, julho 03, 2013

Os que mais lêem no mundo

         Daqui: Russia Beyond the Headlines

Nota: esqueceram-se de pintar a Suécia e a ilha da Tasmânia que integra a Austrália.

Mais sobre este assunto: aqui e aqui.

terça-feira, julho 02, 2013

Portas bate com a porta.

E amanhã, quem será?

O CDS sempre beneficiou, quando não coligado com o PSD, do descontentamento das franjas oscilantes do lado conservador desse partido em relação à sua própria liderança, conseguindo dessa forma melhores resultados eleitorais. Beneficiava com os descontentes da ala direita do PSD. Quando assume o Governo em coligação com o PSD, cuja liderança se encontra agora num momento de grande fraqueza e divisão, o CDS vê-se privado desse habitual benefício, pois está no mesmo barco.

Será que julga que poderá voltar à sua condição de beneficiário do descontentamento dos simpatizantes do PSD, distanciando-se neste momento desse partido? Talvez agora seja tarde demais.

Quando o Mediterrâneo fervilha

      Egipto, Cairo, Praça Tahrir, 30 de Junho de 2013

A situação está muito complicada no Egipto. As elevadas taxas de natalidade dos países do Norte de África, aliadas a elevadas taxas de desemprego jovem, funcionaram como uma autêntica bomba demográfica que rebentou. Somadas ao sectarismo religioso e à crescente percepção das assimetrias persistentes entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido, alimentada pela difusão das novas tecnologias de informação e comunicação, conduziram a uma frustração crescente que agita os países da margem sul e este do Mediterrâneo, com raras e notáveis excepções.

Já Portugal e os países da margem norte do Mediterrâneo empobrecem e revelam também elevadas e crescentes taxas de desemprego jovem, embora a sua fertilidade seja muito mais reduzida comparativamente à dos países do Norte de África.


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