quarta-feira, julho 17, 2013

Nem o Estado é uma máquina de lavar, nem nós somos os glutões do Presto

O BPN passou pelo Estado como uma peça de roupa suja passa por uma máquina de lavar. A “máquina” lavou o BPN, mas a sujidade ficou entranhada na “máquina” e os contribuintes ficaram com a porcaria da despesa. Mas houve quem ficou a ganhar e muito, com toda a operação. E assim se tornou pública uma dívida que não o era. Os ditos partidos do “arco da governação” são os responsáveis por toda a operação. Uns pela nacionalização, outros pela privatização. No fim, ficou tudo em família: uma verdadeira cosa nostra.

Por estranho que pareça, as leis do mercado concorrencial não se aplicam aos bancos. Não podem falir (dizem eles), ao contrário de qualquer outra empresa ineficiente.

Os que pensam o mundo

No dia 24 de Abril deste ano, a revista Prospect publicou um ranking dos pensadores de 2013, de acordo com um inquérito realizado em mais de 100 países, tendo sido inquiridas mais de 10 000 pessoas.

Inspirado por tal inquérito, realizei o meu próprio ranking, sobre aqueles que considero os mais lúcidos pensadores vivos – em particular, os que pensam o mundo. Da lista excluí os políticos (embora ouça a voz de Fidel Castro com atenção, assim como a de Nelson Mandela), e os padres (onde incluiria Ratzinger). Ideologicamente não concordo com alguns, mas reconheço-lhes autoridade e idoneidade suficiente para que o seu pensamento seja considerado entre os mais lúcidos e a sua voz escutada.

Ranking:
 
1. David Harvey (Geógrafo)
2. Zygmunt Bauman (Sociólogo)
3. George Steiner (Crítico Literário, Filósofo)
4. Peter Sloterdijk (Filósofo)
5. Edward Soja (Geógrafo)
6. Giorgio Agamben (Filósofo)
7. Manuel Castells (Sociólogo)
8. Richard Dawkins (Biólogo)
9. Ignacio Ramonet (Sociólogo, Jornalista)
10. Ulrich Beck (Sociólogo)
11. Jared Diamond (Geógrafo)
12. David Landes (Historiador)
13. José Gil (Filósofo)
14. Francis Fukuyama (Cientista Político)
15. Boaventura de Sousa Santos (Sociólogo)
16. Mario Vargas Llosa (Escritor)
17. Adriano Moreira (Cientista Político)
18. Felipe Fernandez-Armesto (Historiador)
19. Eduardo Lourenço (Filósofo)
20. Paul Krugman (Economista)
21. Slavoj Zizek (Filósofo)
22. Georges Lipovetsky (Filósofo)
23. Niall Ferguson (Historiador)
24. Thomas Friedman (Jornalista)


terça-feira, julho 16, 2013

Perenes as sirenes

Perenes as sirenes
Que ousam soar.

Nas fábricas abandonadas
Em ruinosas debandadas,
Permanecem deslocadas,
As sirenes olvidadas.

Honrados desempregados
Aguardam humilhados.

Homens descartados,
Sós, desvalorizados.
Vendidos e comprados,
Em todos os mercados.

domingo, julho 14, 2013

.

       Mural de Kenny Scharf, Nova Iorque

sexta-feira, julho 12, 2013

X-47B

Steve Helber / Associated Press

Voa sozinho. Aterra sozinho. Meio caminho andado para matar sozinho.

Como reza um velho provérbio chinês: todas as grandes caminhadas começam com um pequeno passo.

O passo foi dado. (Post sriptum: talvez já tenha sido dado há muito tempo.)

(O X-47BJá tínhamos dado por ele.)

quinta-feira, julho 11, 2013

Portugal: um "exemplo de sucesso" a precisar de "salvação nacional"

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, ou então bate. Na óptica dos credores Portugal é apresentado como um "exemplo de sucesso", pois então, desde que pague, e quanto mais elevados os juros, melhor. Na óptica do devedor, e enquanto povo escravo da impagável dívida, precisamos de uma "salvação nacional".

Idiotas são aqueles que, entre nós, se orgulham desmedidamente quando ouvem dizer lá fora que somos um caso de sucesso e o anunciam aos quatro ventos.

Ao contrário do que afirma José Gomes Ferreira

Neste momento o Estado não é o problema, é a solução. O problema é continuar a colocar o Estado de um lado e a economia do outro, como se o Estado não fizesse parte da economia. O dualismo entre Estado e  economia constitui um enviesamento na visão e no discurso de muitos comentadores e jornalistas como José Gomes Ferreira e outros devotos dos mercados. Em suma, partem de uma falácia.

quarta-feira, julho 10, 2013

A ditadura dos mercados

O Presidente na sua comunicação de hoje ao País, brandiu vários argumentos, um dos quais a necessidade de mobilizar em 2014, 14 mil milhões de euros para pagar aos credores por dívidas contraídas no passado. Precisamos de empréstimos para pagar dívidas, ou seja, precisamos de continuar a endividar-nos.

Não se suspendem portanto as transferências das "parcelas dos empréstimos que nos foram concedidos", suspende-se a possibilidade de eleições antecipadas a breve trecho.

Ainda que a realização de eleições não equivalha necessariamente a democracia (no Estado Novo, por exemplo, haviam eleições), podemos concluir que a democracia não está a ser respeitada nesta história pois os nossos credores não são favoráveis a que os eleitores se pronunciem. E os credores falam mais alto do que os eleitores aos ouvidos do Presidente.

O Presidente deseja a minimização dos antagonismos* inerentes à própria dinâmica democrática, para evitar a ira dos mercados, que, segundo afirma, colocaria os portugueses perante a iminência de mais “duros sacrifícios”. Para ele o ideal será trazer o maior partido da oposição para a esfera da governação, juntando-o em acordo de "salvação nacional" ao CDS e ao PSD. Para ele o ideal será limitar as vozes incómodas aos dois partidos minoritários da oposição.

Como é evidente, neste momento estamos sob uma nova forma de ditadura: a ditadura dos mercados.

Quem nos garante que uma semana antes das eleições, ou da saída da troika de Portugal, os juros da dívida portuguesa a dez anos não dispararão novamente para taxas superiores a 7,5% e a bolsa não se afundará? Suspenderemos então a realização das eleições?

Manda a situação que prevaleça o bom senso.

Mas não será uma insensatez prosseguir neste rumo? Onde queremos chegar?

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(*) Nota: antagonismo (luta entre inimigos); agonismo (luta entre adversários).

Impalas voadoras

      Aepyceros melampus, Parque  Kruger, África do Sul          Foto: Barcroft Media/Abaca

PS - Um destes impalas em fuga,  refugiou-se num automóvel. Ver AQUI.

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