sábado, agosto 03, 2013

Entretanto na Terra

       Um sapo, algures na Terra (Indonésia).                                 Foto de: Penkdix Palme et al.

«A humanidade não precisa de uma base lunar ou de uma viagem tripulada a Marte. Precisamos de uma expedição ao planeta Terra, onde provavelmente menos de 10 por cento das formas de vida são conhecidas da ciência e, delas, menos de 1 por cento foram estudadas para além de uma simples descrição anatómica e de algumas notas sobre a sua história natural.»


E. O. Wilson, A Criação, Um Apelo para Salvar a Terra, Gradiva, 2007, p. 155.

Water, water, everywhere

     Busca por água perto dos Vales do Tejo (nos desertos de Marte), ESA

Water, water, every where,
And all the boards did shrink;
Water, water, every where,
Nor any drop to drink.

            Samuel Taylor Coleridge, The Rime of the Ancient Mariner (excerto)


***
Buscamos avidamente por água.
Água, água, por todos os lados,
Mas nem uma gota para beber.
***

Em Marte, há vestígios de água por todo o lado, mas onde está a água? Tem de estar nalgum lado. Não há fumo sem fogo. Ou sob a forma líquida no subsolo, ou sob a forma gasosa - humidade atmosférica [impossível, pensando bem] -, ou ainda sob a forma sólida, escondida do nosso olhar, para além daquele gelo já descoberto nos pólos. Mas ela tem de estar nalgum lado. Afinal, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

terça-feira, julho 30, 2013

Foi o PS. É bom que se saiba, é bom que não se esqueça.

"Toda a oposição se prontificou a enviar os dois diplomas [as propostas de lei que alteram o período de trabalho dos funcionários públicos para 40 horas semanais sem qualquer acréscimo remuneratório, assim como o denominado "regime de mobilidade especial na administração pública"] para apreciação do Tribunal Constitucional, com especial realce para o PS que, na sua última passagem pelo Governo, desmantelou as carreiras na Administração Pública e substituiu o regime de nomeação definitiva pelo regime de contrato de trabalho em funções públicas. Foi o PS que criou as condições que possibilitaram a este Governo avançar sobre os funcionários públicos."
Filipe Tourais
(os destaques são nossos)

N’O Vento que Passa e n’O País do Burro

O PS lavrou o terreno, preparou-o para que o PSD e o CDS pudessem nele semear e colher. Os funcionários públicos estão agora prontos para serem ceifados e alimentar dessa forma as colheitas de desempregados que se acumulam de ano para ano.

E assim se dá prioridade à criação de emprego (dizem eles), desempregando. É fantástico.

sábado, julho 27, 2013

O caminho para a Islândia

A Islândia é um país curioso. Depois da falência dos bancos e do crescimento galopante do desemprego, da recessão e da dívida, levou menos de três anos a voltar à prosperidade, com um cocktail de medidas certas, esforço e bom senso.
A Islândia é um país curioso. Não há receio em levar a tribunal os políticos suspeitos de transgressões graves ou desastrosas.
(…)
Sondagens feitas no país mostram que os islandeses pretendiam sobretudo, que o julgamento servisse para duas coisas: como aviso aos políticos, para que não entendessem que só estavam sujeitos ao juízo das urnas, sempre impreciso nas sanções, e para que se expusesse a verdade sobre a falência de todos os grandes bancos nacionais, num curto espaço de tempo, sem alertas nem preparação.
(…)
Em suma, cada povo deve encontrar o seu caminho para a Islândia. Pode levar tempo. Mas é inevitável. Não se trata de pedir culpados à história, mas de evitar que o mal se repita. E de fazer justiça. A temporária, provisória, imperfeita, mas necessária justiça dos homens. “

Nuno Rogeiro (2013), A Corda do Enforcado, Análise Política das Críses (2017 -2013), D. Quixote, pp. 186, 187 e 188. (destaques nossos)


Palavras hoje lidas, do insuspeito “libertário já idoso, nacionalista, revolucionário, católico e republicano” Nuno Rogeiro. 

O povo não sabe onde é a Islândia


"Ao desprezar o factor BPN quando faz as suas escolhas, o que acontece pela segunda vez, o primeiro-ministro despreza também os contribuintes espoliados por essa fraude gigantesca até agora impune."

Fernando Madrinha, Expresso, 27 de Julho de 2013

Pois é assim que este contribuinte se sente: espoliado. Cada vez mais convencido de que é governado por um bando de cleptocratas, velhas famílias e oligarquias, que na falta das "especiarias da Índia, do ouro do Brasil, da riqueza das colónias, ou da generosidade europeia" (como refere outro cronista do mesmo jornal) vira-se para o último recurso que lhes resta: os parcos rendimentos da maioria dos contribuintes, seus conterrâneos.

Cada vez mais me convenço que só uma revolução à islandesa pode acabar com esta impunidade. Mas o povo não sabe onde é a Islândia.

Interlúdio barroco

       Antonio Canal, Vista de um jardim através de uma colunata barroca, (1760-1768)

sexta-feira, julho 26, 2013

É um papa pop

É disto que a minha gente gosta. Qual papa intelectual, qual carapuça. Um papa pop. É um papa pop.

Férias

Este é o país em que a contestação vai de férias, para regressar em Setembro, em força. Não é uma contestação genuína portanto.

Os decisores políticos há muito que se aperceberam disso (Sócrates era um perito), e vai daí, aproveitam a dormência e a lassidão dos governados para concretizar as medidas mais lesivas para estes e que seriam mais onerosas politicamente para quem as toma, caso fossem concretizadas noutro momento. Há que aproveitar, enquanto a turba está distraída ou vai a banhos, o rigor da canícula.

segunda-feira, julho 22, 2013

Cavaco, a imagem e o que se esconde por detrás dela

Há muito que o Presidente Cavaco Silva denota uma extrema preocupação com a imagem (efectivamente, estamos no século da imagem e uma imagem vale por mil palavras, mas as imagens também iludem, na medida em que, como escreveu Magritte ante a imagem de um cachimbo que ele mesmo pintou: “Ceci n'est pas une pipe. Pois não, a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, ou por outras palavras, as imagens podem ser uma representação da realidade, mas não são a própria realidade). Pois bem, a preocupação com a imagem está omnipresente nas mensagens e nos discursos do Presidente, que parece sofrer da síndroma “o-que-irão-os-outros-pensar-de-nós-se-dermos-esta-imagem” quando deveria ser, “o-que-irá-ser-de-nós-se-persistirmos-neste-rumo”. A preocupação deveria incidir no “ser” e não no “parecer”, na realidade e não nas aparências.

Se atentarmos na sua comunicação ao país no dia 10 de Julho de 2013, lá está ela, a imagem, logo na segunda frase: “Os efeitos fizeram-se sentir de imediato no aumento das taxas de juro e na deterioração da imagem externa de Portugal”.

Já na comunicação do dia 21 de Julho, a preocupação com a imagem não aparece no discurso de forma explícita, mas sim de forma implícita, na frase: “Aos agentes económicos e aos parceiros sociais, aos investidores nacionais e estrangeiros, às instituições internacionais e aos nossos parceiros da União Europeia, daríamos a perspetiva, num horizonte temporal alargado, de que somos um País dotado de estabilidade política, que segue uma estratégia coerente de desenvolvimento sustentável.” Cá está: é preciso dar a perspectiva - ou seja, dar a imagem -, é preciso causar boa impressão, é preciso transmitir uma imagem credível de que “somos um País dotado de estabilidade política”, ainda que a realidade o desminta.

Outra frase do mesmo discurso que denota o mesmo tipo de preocupação é a seguinte: “Dispondo o Executivo do apoio de uma maioria parlamentar inequívoca, como recentemente se verificou, deve ficar claro, aos olhos dos Portugueses e dos nossos parceiros europeus, que Portugal é um país governável. Mais uma vez, a imagem, pois que outra coisa poderia apresentar-se clara aos olhos, que não uma imagem?

É preciso manter as aparências.

O problema é a realidade.

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