sexta-feira, setembro 11, 2015

Praia Verde em Agosto


© AMCD
É uma praia burguesa, com certeza. Com certeza é uma praia burguesa.

quinta-feira, setembro 10, 2015

Alforrecas


© AMCD

Ontem, nas praias a sul da Costa da Caparica, não se podia mergulhar no mar sem dar uma cabeçada numa alforreca. Milhas e milhas a perder de vista: alforrecas por todo o lado.

Virámos as costas ao mar e mergulhámos no bar.

terça-feira, setembro 08, 2015

A praia


Refugiados sírios à deriva no mar Egeu.
(Yannis Behrakis / Reuters)

Paraíso de náufragos. Inferno de náufragos. Na praia se salvam, na praia se perdem. Ali, desagua todo o desespero. Ali reside toda a esperança.

Mar de náufragos.

domingo, setembro 06, 2015

So


Um dia, num ano distante do longínquo século XX, numa aula de Transformações Sócio-culturais, disse ao professor que África não deixaria de ser África e que se no passado as guerras tribais se faziam com azagaias, no futuro prosseguiriam com metralhadoras. O homem não gostou, não comentou e prosseguiu. Diabo de comentário fatalista, o meu. Mas o que é certo certo é que a AK-47 lá está.

E agora, de quem é a responsabilidade? Da arma, da mão que a empunha ou da mão que a fabricou? O mundo é realmente um lugar complicado.

quinta-feira, setembro 03, 2015

Nem um deus


Só um deus pode salvar-nos. 

Heidegger.


Será que não aprendemos nada com Aristides de Sousa Mendes? Estamos com medo?

Não seremos capazes de nos salvar? Será que é mesmo verdade? Que só um deus poderá salvar-nos? Será que é mesmo assim?

De que temos medo?

É hora de abrir portas e janelas. Que entre uma lufada de ar fresco.

Que venham. Podemos acolhê-los. Já chega deste horrível cheiro a morte.

Se isso não nos salvar, então nada nos salvará.

Nem um deus.

***

Please don't you ever forget to treat others the way you want to be treated
Remember your days are full in number. (Benjamin Clementine, Nemesis)

sexta-feira, agosto 21, 2015

Os roubados do BES

Ah, país de eufemismos... Lesados do BES, dizem eles, os repórteres, os pivots, os jornalistas. Quais lesados?!

Receiam proferir palavras duras? Porque não dizem “os roubados do BES”? É verdade que alguns, provavelmente poucos desses roubados, se tenham perdido pela cobiça, pois sabiam que estavam a comprar dívida e a arriscar capital na mira de uma remuneração mais elevada. (Esses agora juntam-se à maioria dos roubados e vigarizados, nos coros de indignação, fazendo-se ingénuos). Mas não tenhamos ilusões: a maioria foi roubada.

O roubo aos nossos compatriotas emigrados é um crime de lesa pátria. Algo que nos envergonha a nós, que cá ficámos e nunca tivemos de partir.

Muitos dos que partiram tiveram de o fazer porque neste país lhes foi vedada a ascensão social e um papel a desempenhar condicente com as suas capacidades e méritos. Muitos dos melhores de entre nós estiveram e estão entre os que partiram. Não nos esqueçamos, Portugal é um país que desbarata e desaproveita os seus recursos, principalmente os recursos humanos. Há uma elite terratenente e apaniguados que se conserva, ocupando os lugares de topo, impedindo que os melhores de entre nós possam assumir o papel que lhes caberia por mérito e direito. Escusado será dizer que tais elites se fazem valer dos seus jogos de influências e apadrinhamentos. Muitos dos “subalternos” neste país são mais sábios e mais cultos do que os que mandam. Já é assim há muito tempo. Uma velha tradição. Por isso nos admiramos do trabalho e dos feitos dos nossos conterrâneos nas sociedades estrangeiras que os acolhem. Pois bem, muitos desses que partiram, ainda assim, continuaram a amar Portugal. Enviavam para cá as suas remessas. Colocavam as suas poupanças em bancos portugueses, muitos com sacrifício de uma vida que poderia ter sido um pouco mais confortável, pois pensavam num regresso e no futuro de filhos e netos. Contribuíam dessa forma para o desenvolvimento do nosso país e das regiões, cidades, vilas e aldeias de onde eram originários.

Por isso, o roubo das poupanças dos emigrantes é um crime de lesa pátria e uma vergonha. Vergonha que se adensa mais ainda quando pensamos nos culpados, nos responsáveis e nos facilitadores do embuste, estes últimos os mais altos responsáveis da Nação, pois tentaram sempre lavar as suas mãos como Pilatos, escudando-se nas declarações do Governador do Banco de Portugal e nas declarações uns dos outros. Facilitadores sim, porque confiaram em vez de desconfiar, dada a informação privilegiada de que dispunham, e porque induziram os outros, dessa forma, a confiar também. Enfim são estas as elites que nos guiam. Uns incompetentes!


Epílogo

Neste Verão, temos viajado muito pelo Minho. São muitos os emigrantes portugueses com os quais nos cruzamos. Muitos estão felizes por cá estar – afinal é o seu querido mês de Agosto. Oiço-os alegres com as suas famílias, na rua, nos restaurantes, nas praças e nos arraiais. Mas muitos não estão alegres. São numerosas as casas à venda em Terras de Bouro, por exemplo. Casas de emigrantes. E hoje no Porto, cidade onde escrevemos, percorremos a Avenida dos Aliados e passámos frente ao Novo Banco, mas não muito perto pois não nos era permitido. Fitas de plástico limitando o passeio frente à entrada e a presença de polícias em grande número obrigaram-nos a passar ao largo. Alguns trabalhadores do banco conversavam no exterior enquanto nas paredes ainda pingavam amarelas, as gemas de ovos recentemente lançados pelos roubados do BES.

***

Post scriptum -  Também nós somos roubados do BES, ainda que não tenhamos lá depositado um cêntimo. Como portugueses e como contribuintes. Como contribuintes portugueses. E já estamos a pagar. Estranho país este em que são as vítimas e não os criminosos a espiar pelos crimes.

quarta-feira, agosto 05, 2015

Retrato

Tigre adormecido,
coração do dia.
Rosto semeado
de melancolia.

Noite transparente,
Primavera escura.
Sombra rodeada
de mar e brancura.

Tigre adormecido,
coração do dia.
Puro e violento
incêndio de alegria.

                          Eugénio de Andrade, Até Amanhã, 1956


E este Sal da Língua. Uma homenagem de Raquel Agra. Uma Ode a Eugénio.

terça-feira, julho 28, 2015

O mural da história

O desgraçado do lorde barão deixou-se filmar com prostitutas e cocaína. Dizem que era o presidente do Comité de Conduta e Privilégios da Câmara dos Lordes e que por vezes arengava para que os seus pares se pautassem por um bom comportamento e pelos bons costumes, não fosse tão nobre instituição ser desonrada.

Lembrei-me de uma frase escrita num mural algures, num grafiti bem grosseiro, informando que “O Morais foi às putas”, tout court.

É o mural da história.

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segunda-feira, julho 27, 2015

Trump e a sua muralha


Disse que construiria uma muralha impenetrável, colossal, a todo o comprimento da fronteira entre os EUA e o México. Três mil cento e quarenta e cinco quilómetros, do Golfo de México ao Pacífico! Quer impedir a entrada de migrantes e refugiados nas terras do sonho americano. A terra dos imigrantes. Eles que sonhem mas não ousem pisar a terra do Tio Sam. Ele já não os quer. Sonhos americanos são para os americanos. Nem os desertos de Sonora e do Mojave, onde muitos já se perdem, lhe bastam. Venha a muralha. Saberá Trump que não foi assim que a América se fez?

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