terça-feira, junho 09, 2020

Pela tormenta do mar Egeu

Se numa tempestade africana o mastro geme,
não sou pessoa que recorra a miseráveis preces,
fazendo promessas e pactos
para que as mercadorias cipriotas ou tírias

as riquezas do ávido mar não aumentem:
se assim acontecer, ajudado por um bote de dois remos,
o gémeo Pólux e uma brisa me hão-de levar
incólume pela tormenta do mar Egeu.

                                               Horácio, Odes, Livro III, XXIX


segunda-feira, junho 08, 2020

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Beg your pardon?!



Churchill combateu de forma implacável o nazismo. Guiou os ingleses até à vitória final sobre os nazis. Os nazis, os maiores racistas de todos os tempos!


Post scriptum

Churchill emitiu em 1937 opiniões racistas, diz o Daniel Oliveira. Há ainda quem o ligue à morte de milhões de indianos em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial. Uma barbaridade! Não vamos por aí.

Será que Churchill ainda pensava o mesmo em 1945 e no momento da sua morte?

As suas palavras de 1937 vinculam-no para todo o sempre à ignomínia de ser um racista, e assim continuar a ser lembrado para todo o sempre? É isso que releva, ou deve relevar, na sua passagem pelo mundo? Somos lestos a julgar e a atirar pedras.

Para mim, a estátua de Winston Churchill  representa alguém que se opôs ao mal absoluto e que o combateu com toda a sua energia, galvanizando os que estavam a seu lado - e não eram só os ingleses -, dando-lhes energia para fazerem o mesmo.

E não, Churchill, não foi Estaline. 

domingo, junho 07, 2020

Do grande Horácio, que viveu há mais de dois milénios

A fome por mais e a inquietude acompanham
a fortuna que cresce.
Horácio, Odes, Livro III, XVI

domingo, maio 17, 2020

Praia de Sesimbra



















Fotografia tirada a 25/04/2019

Façamo-nos entender. Gostar de praia não significa gostar de multidões e confusões, sol escaldante e escaldões, corpos lustrosos torrando ao sol do meio-dia.

No Verão gostamos de frequentar a praia na melhor hora, ou seja, quando as multidões a abandonam e o sol já não castiga, ao fim da tarde. Já chegámos a partir da praia ao princípio da noite, atravessando bares e festas, onde todos já se vestiam de gala. E nós de calções, com toalha ao ombro, meio molhados, atravessando o passadiço e a plataforma onde no bar já se preparava a festa e se ouvia a música batida.

Também frequentamos nessa estação extensas praias de vastos areais, quase desertas, preferencialmente quando o Zéfiro sopra e se contempla o mar quando o azul do céu é mais luminoso.

Nas outras estações frequentamos a praia a qualquer hora, esteja sol ou esteja chuva, bonança ou tempestade.

Adoramos o rumor do mar e o ribombar do trovão. Somos apaixonados por tempestades e ventos.

Gostamos de Ulisses e de Eneias, de Calipso e das Nereidas. Sim, também gostamos de Circe e da praia da ilha de Eeia.

Gostamos de praias.


Nós, 

os da Ocidental Praia. 

quarta-feira, maio 13, 2020

Sesimbra, como se o Verão tivesse acabado de partir














Sesimbra, 11 de Maio ao entardecer

Estranhamente, sabe a fim de Verão. Restaurantes fechados, praia fechada. Alguns solitários caminham na marginal, outros correm. Alguém fuma num banco que ladeia a marginal, encara o mar, e uma garrafa de cerveja aguarda, meio bebida, meio embrulhada num saco de papel a seu lado. Três surfistas estão dentro de água, encavalitados nas pranchas. Aguardam as ondas. Tudo aguarda. A praia sabe a nostalgia, como se o Verão tivesse acabado de partir. 

Summer's almost gone
Summer's almost gone
Almost gone
Yeah, it's almost gone
Where will we be
When the summer's gone?

                                    The Doors

Onde estaremos nós quando o Verão partir?

Onde estaremos quando o Verão chegar?


sábado, maio 09, 2020

A Ocidental Praia

Lemos que nos querem limitar o acesso à praia, a nossa ocidental praia,
para onde nos deslocamos para viver,
para onde nos deslocamos para morrer,
porque ali somos.

Corredores, polícias e drones,
Corredores perpendiculares ao mar,
interdições e limitações.

Não ousem.

Podem tirar-nos tudo, mas não a ocidental praia. É o que sempre nos restará sob pena de deixarmos de ser aquilo que somos há mais de 800 anos.

O que é Portugal senão a ocidental praia?

Lembram-se dos primeiros versos cantados pelo Poeta?

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana, …

Camões, Lusíadas, Canto I

Sim, vencemos mares nunca navegados,
E também os perdemos.

Não perderemos a praia.

Nós, os da Ocidental Praia.

***








Praia do Rei, 28 de Abril de 2020

sexta-feira, maio 08, 2020

Livro Lido: O Terceiro Chimpanzé, de Jared Diamond


Um excelente livro (óóóó).

Desfeita foi essa ideia do humanismo grego que proclama o homem como um ser prodigioso.

Foi Sófocles, na Antígona, que disse:

Muitos prodígios há; porém nenhum maior do que o homem.

Lido o livro, o prodigioso homem revela-se um exterminador, um genocida, um agressor contra o ambiente que o ampara, contra a terra-mãe que o gerou. Um horror!

O livro é muito bom, mas por vezes exaustivo, como por exemplo no capítulo 8, sobre a linguagem humana, tornando-se enfadonho nesse capítulo. Julgamos que o autor se deixou levar pela sua paixão pelas línguas.

Mas o livro ajuda-nos a perceber o momento que atravessamos e alerta-nos para os horrores que estamos a desencadear: um holocausto ambiental que terá repercussões na civilização humana e na vida do planeta que vão muito para além dos malefícios causados pelo coronavírus que agora nos aflige.

E, muito importante, refere Jared Diamond, na página 269:

Finalmente, a maioria das principais actuais doenças infecciosas e parasitas da humanidade não poderia ter-se estabelecido antes da transição para a agricultura. Estes assassinos persistem apenas em sociedades populosas, com má nutrição e sedentárias, constantemente reinfectadas pelos outros e pelos próprios esgotos. A bactéria da cólera, por exemplo, não sobrevive por muito tempo fora do corpo humano.
Jared Diamond, O Terceiro Chimpanzé, 1993, pág. 268.


A bactéria da cólera não sobrevive por muito tempo fora do corpo humano, tal como um vírus. E da mesma forma que o campo de cultura fértil ideal para a eclosão de fenómenos bacteriológicos e virológicos eram as sociedades populosas e poluídas da Era Agrícola, pré-industrial, também hoje continuam a ser as áreas mais densamente povoadas e poluídas como as cidades industriais do Oriente, da China, entre outras, porque também as há noutros países e continentes, as áreas de onde continuam a brotar esses assassinos microscópicos. Porém desse país mais populoso e densamente povoado, que é a China, em particular nas suas regiões orientais e meridionais, advirão outras ameaças, segundo o autor, que refere que a sua dimensão populacional e a sua economia asseguram que os problemas ambientais se transformarão em problemas para o resto do mundo também(Diamond, 1993 [posfácio à edição de 2006], pág. 515)

Será dessas regiões densamente povoadas e poluídas que advirão as maiores ameaças ambientais e microbiológicas para a Humanidade. Mas não haja ilusões – essas regiões não são ilhas e o que lá ocorre não é só da responsabilidade de quem lá vive. A globalização une-nos a todos, produtores e consumidores, seres humanos. Seremos todos responsáveis enquanto não se criarem instituições globais com capacidade para regulamentar e impor o respeito pelos direitos dos trabalhadores e garantir as suas condições de vida e o seu bem-estar, em todos os países do mundo.

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