terça-feira, julho 06, 2021

Vacinação e transmissão: a corrida.

 Ouvimos na TV que estamos numa luta contra o tempo, entre a vacinação e a transmissão. Pasmo.

 

Então não estávamos numa luta contra o tempo aquando dos festejos da vitória do Sporting no campeonato de futebol? Não estávamos numa luta contra o tempo aquando da final da Liga dos Campeões, no Porto? Não estávamos numa luta contra o tempo, nos festejos do São João?

 

Agora estamos numa luta contra o tempo!

 

Há para aí uns comentadores neoliberais que falam grosso quando os números da pandemia estão em baixo e piam fino (nem os ouvimos), quando os números estão altos ou crescem. Nota-se que o tom e a intensidade não são os mesmos, ou será impressão minha?

Duna

 


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020


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- Os homens e as suas obras têm sido até agora uma doença à superfície dos seus mundos - disse o pai. - A natureza tende a compensar as doenças, removendo-as ou isolando-as, incorporando-as no sistema à sua maneira.  


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020, pág. 361

sexta-feira, julho 02, 2021

Religião, escuridão, ciência, ilusão

 


Hervé Le Tellier, A Anomalia, Editorial Presença, 2021

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A religião é um peixe carnívoro das profundezas. Emite uma ínfima luz e, para atrair a sua presa, precisa de muita escuridão.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 251

 

Mas todos o sabem: o universo, virtual ou não, é todo ele regido por leis, cada vez mais conhecidas a fundo.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 255

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Se a escuridão é ignorância, ainda vivemos nela, com a ilusão de que conhecemos cada vez mais a fundo as leis que regem o universo.

 

E contra Heidegger, que dizia que só um deus poderia salvar-nos:

 

Não haverá um salvador supremo. Temos de ser nós próprios a salvar-nos.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 260

 

Estamos perdidos.


Estado a que chegámos



Fonte: DGS, Relatório da Situação nº 486 | 01/07/2021 


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Entretanto nos E.U.A., o país que mais testou no mundo, a vacinação reflecte-se na transmissão. Assim parece, com os novos casos diários a reduzirem-se exponencialmente com o aumento exponencial dos vacinados.

A tese de que a vacinação não se reflecte na transmissão deve ser questionada, ou serão assim os americanos tão bem-comportados e de elevado nível cívico?



 Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/country/us/ (consultado a 02/07/2021)

quinta-feira, junho 10, 2021

Portugal

 «Obedientes e sem mais delongas, num mergulho de alcatrazes, atirámo-nos então daquela rocha branca ao abismo azul. E descobrimo-nos. Encontrámo-nos universais em toda a parte do globo, mas, sobretudo, dentro da nossa própria perplexidade. (…)

E a História celebra com justiça os melhores dessa superação mental. Chamam-se Pedro Nunes, Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro, Garcia da Orta, João de Barros, Diogo de Couto, Pêro Vaz de Caminha, Fernão Mendes Pinto, Luís de Camões. Sem falar doutros menos dotados que, modestamente, se desmediram. (…)

Enquanto os vizinhos da Europa, sem descanso, continuaram a ser pioneiros nas empresas que a vida lhes confiava, nós, enxutos da grande maratona oceânica, ficámos em cima da penedia a ver passar ao longe, a fumegar, as embarcações alheias, e a cantar, ao som de uma guitarra, loas à fatalidade.»

 Miguel Torga, Portugal, D. Quixote, 3ª ed., 2010, págs. 98-99

segunda-feira, junho 07, 2021

Prisioneiros da Geografia, de Tim Marshall


Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, Desassossego/Saída de Emergência, 2017


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A Geografia continua a contar, por muito virtual que seja o espaço onde muitos passem já os dias, alheios à materialidade da vida.

Duas citações:

Pensa-se que cerca de 25 por cento dos brasileiros vivam nos infames bairros de lata chamados favelas. Quando uma pessoa em cada quatro na população de um estado vive na mais abjecta pobreza, é difícil que esse estado enriqueça.

Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, 2017, pág. 215

 

A palavra «árctico» vem do grego artikos, que significa «perto do urso», e é uma referência à constelação da Ursa Maior, cujas últimas duas estrelas apontam para a Estrela Polar.

Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, 2017, pág. 224

 

Cinco estrelas para esta magnífico livro de Geografia e, dentro dela, Geopolítica.

sábado, junho 05, 2021

Desconfinamento bêbado

O Reino Unido retirou Portugal da lista “verde” de destinos para viajar. Que espanto! Que admiração?! Que injustiça?! Que irrazoabilidade?! Já se queixa, mais uma vez, o Silva dos Negócios Estrangeiros.

Onde é que já vimos este filme?

Tirar lições para quê?

Não aprendem nem aprenderam nada.

Vamos então dar os parabéns ao Medina, ao Costa, ao Cabrita, ao Moreira, ao Sousa e ao Silva da Federação, pela magnífica gestão do desconfinamento e pela ajuda que estão a dar ao sector do turismo deste país, pelos eventos que promoveram e apadrinharam.

Não conseguiam fazer um desconfinamento sóbrio, sem espavento? Não. Era preciso um desconfinamento bêbado.


Parabéns!


Entretanto no aeroporto de Faro já se iniciou nova debandada.

sábado, maio 29, 2021

Super spreaders


 Por umas libras, vende-se o país. Que venham os super spreaders, com o beneplácito dos que nos governam.


Um jogo, que deveria ser realizado em Inglaterra, será cá realizado, que os ingleses não querem bombas biológicas em terras de sua majestade, mesmo que as equipas oponentes sejam de Manchester e de Londres.


Cá na república, é o meu reino por uma libra.


António Costa ainda teve a lata de dizer que não há provas da correlação entre estes eventos (referia-se aos festejos sportinguistas) e o aumento das contaminações, contra todas as evidências espaciais e temporais.

E o Presidente, com a sua voz melíflua, chegou a sugerir um possível relaxamento dos limites traçados na matriz de risco, antes da reunião no Infarmed.


É bom saber que, chegada a reunião do Infarmed, os especialistas não foram em cantigas: "Grupo de peritos recomenda manter actual matriz de risco" (Público, 28 de Maio)


Entretanto aumenta o índice de transmissão no Reino Unido (Expresso, 28 de Maio).


Em países próximos do nosso, as vítimas mortais continuam a ser mais do que uma centena como é o caso da Alemanha (195, ontem), Itália (126), França (107) [dados da Worldometer] Tudo países muito menos desenvolvidos do que o nosso, como é bom de ver. Nós somos especiais.


Não. Não seremos todos responsáveis se as contaminações aumentarem na sequência destes eventos autorizados por políticos, edis incluídos. Os responsáveis têm nome e cargo político.

domingo, maio 16, 2021

Meu país, meu penico

Meu país, meu penico.

Penico à beira-mar plantado.

E viva a Inglaterra!




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Lido o livro em tempo record, Maria Filomena Mónica não se cansa de nos lembrar o quanto somos pequenos e tacanhos, mas com sonhos de grandeza. Para ela, grandes são os ingleses e a Universidade de Oxford onde estudou.

Dá muito crédito ao historiador Rui Ramos: “Ao contrário do que muitos defendem, Salazar nunca foi fascista” (pág. 157). No entanto, “O Estado Novo ajudou – de forma modesta, é certo – as tropas de Franco” (pág. 162), um fascista “ideologicamente próximo” de Salazar, acaba por referir.

O Meu País, Notas Sobre o Nacionalismo é a visão de uma burguesa liberal da “classe alta”, de um país onde, nas suas palavras, o amor à liberdade não medrou: “O que me dói é o facto de o amor à liberdade não ter encontrado, em Portugal, um solo onde pudesse medrar” (pág. 204), ao contrário da grande Inglaterra, por certo. E ainda assim, é no “pequeno” Portugal onde encontra, agora que lhe “foge a curta vida”, a oportunidade de “pensar, falar e escrever livremente” (pág. 209).

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