sexta-feira, julho 09, 2021

O Olhar do Outro

 


Maria Filomena Mónica, O Olhar do Outro, Relógio D'Água, 2020

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Olhar jocoso e sobranceiro, o dos ingleses anglicanos e protestantes. Excessivamente ousados no diagnóstico do atraso deste país, quando o deles avançava a todo o vapor, nos séculos XVIII e XIX. Entre eles há, contudo, excepções.

Gostei mais do olhar metódico e quase científico, certeiro até, dos alemães e do dinamarquês. É mais fácil gostar de quem gosta de nós ou até nos considera bem.

A escrita fluída permite uma leitura fluída.

Não existe um grande equilíbrio na dimensão dos vários relatos, isto é, alguns são breves outros longos, embora sejam todos bem enquadrados por notas biográficas que ajudam a contextualizar os olhares.

 

Ainda assim, de MFM, gostei mais do seu Bilhete de Identidade.

quarta-feira, julho 07, 2021

terça-feira, julho 06, 2021

Vacinação e transmissão: a corrida.

 Ouvimos na TV que estamos numa luta contra o tempo, entre a vacinação e a transmissão. Pasmo.

 

Então não estávamos numa luta contra o tempo aquando dos festejos da vitória do Sporting no campeonato de futebol? Não estávamos numa luta contra o tempo aquando da final da Liga dos Campeões, no Porto? Não estávamos numa luta contra o tempo, nos festejos do São João?

 

Agora estamos numa luta contra o tempo!

 

Há para aí uns comentadores neoliberais que falam grosso quando os números da pandemia estão em baixo e piam fino (nem os ouvimos), quando os números estão altos ou crescem. Nota-se que o tom e a intensidade não são os mesmos, ou será impressão minha?

Duna

 


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020


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- Os homens e as suas obras têm sido até agora uma doença à superfície dos seus mundos - disse o pai. - A natureza tende a compensar as doenças, removendo-as ou isolando-as, incorporando-as no sistema à sua maneira.  


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020, pág. 361

sexta-feira, julho 02, 2021

Religião, escuridão, ciência, ilusão

 


Hervé Le Tellier, A Anomalia, Editorial Presença, 2021

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A religião é um peixe carnívoro das profundezas. Emite uma ínfima luz e, para atrair a sua presa, precisa de muita escuridão.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 251

 

Mas todos o sabem: o universo, virtual ou não, é todo ele regido por leis, cada vez mais conhecidas a fundo.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 255

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Se a escuridão é ignorância, ainda vivemos nela, com a ilusão de que conhecemos cada vez mais a fundo as leis que regem o universo.

 

E contra Heidegger, que dizia que só um deus poderia salvar-nos:

 

Não haverá um salvador supremo. Temos de ser nós próprios a salvar-nos.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 260

 

Estamos perdidos.


Estado a que chegámos



Fonte: DGS, Relatório da Situação nº 486 | 01/07/2021 


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Entretanto nos E.U.A., o país que mais testou no mundo, a vacinação reflecte-se na transmissão. Assim parece, com os novos casos diários a reduzirem-se exponencialmente com o aumento exponencial dos vacinados.

A tese de que a vacinação não se reflecte na transmissão deve ser questionada, ou serão assim os americanos tão bem-comportados e de elevado nível cívico?



 Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/country/us/ (consultado a 02/07/2021)

quinta-feira, junho 10, 2021

Portugal

 «Obedientes e sem mais delongas, num mergulho de alcatrazes, atirámo-nos então daquela rocha branca ao abismo azul. E descobrimo-nos. Encontrámo-nos universais em toda a parte do globo, mas, sobretudo, dentro da nossa própria perplexidade. (…)

E a História celebra com justiça os melhores dessa superação mental. Chamam-se Pedro Nunes, Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro, Garcia da Orta, João de Barros, Diogo de Couto, Pêro Vaz de Caminha, Fernão Mendes Pinto, Luís de Camões. Sem falar doutros menos dotados que, modestamente, se desmediram. (…)

Enquanto os vizinhos da Europa, sem descanso, continuaram a ser pioneiros nas empresas que a vida lhes confiava, nós, enxutos da grande maratona oceânica, ficámos em cima da penedia a ver passar ao longe, a fumegar, as embarcações alheias, e a cantar, ao som de uma guitarra, loas à fatalidade.»

 Miguel Torga, Portugal, D. Quixote, 3ª ed., 2010, págs. 98-99

segunda-feira, junho 07, 2021

Prisioneiros da Geografia, de Tim Marshall


Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, Desassossego/Saída de Emergência, 2017


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A Geografia continua a contar, por muito virtual que seja o espaço onde muitos passem já os dias, alheios à materialidade da vida.

Duas citações:

Pensa-se que cerca de 25 por cento dos brasileiros vivam nos infames bairros de lata chamados favelas. Quando uma pessoa em cada quatro na população de um estado vive na mais abjecta pobreza, é difícil que esse estado enriqueça.

Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, 2017, pág. 215

 

A palavra «árctico» vem do grego artikos, que significa «perto do urso», e é uma referência à constelação da Ursa Maior, cujas últimas duas estrelas apontam para a Estrela Polar.

Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia, 2017, pág. 224

 

Cinco estrelas para esta magnífico livro de Geografia e, dentro dela, Geopolítica.

sábado, junho 05, 2021

Desconfinamento bêbado

O Reino Unido retirou Portugal da lista “verde” de destinos para viajar. Que espanto! Que admiração?! Que injustiça?! Que irrazoabilidade?! Já se queixa, mais uma vez, o Silva dos Negócios Estrangeiros.

Onde é que já vimos este filme?

Tirar lições para quê?

Não aprendem nem aprenderam nada.

Vamos então dar os parabéns ao Medina, ao Costa, ao Cabrita, ao Moreira, ao Sousa e ao Silva da Federação, pela magnífica gestão do desconfinamento e pela ajuda que estão a dar ao sector do turismo deste país, pelos eventos que promoveram e apadrinharam.

Não conseguiam fazer um desconfinamento sóbrio, sem espavento? Não. Era preciso um desconfinamento bêbado.


Parabéns!


Entretanto no aeroporto de Faro já se iniciou nova debandada.

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