domingo, julho 18, 2021

Quietude e desejo

 

É a paz que, dando os vagares da imaginação, causa as impaciências do desejo.

Eça de Queiroz, Contos

sexta-feira, julho 09, 2021

O meu fim não será o fim do mundo

 Não serei daqueles que, vendo aproximar-se o seu fim, dizem que é o fim do mundo que se aproxima, que tudo decai, interiorizando que depois deles será o caos.


Vêem então decadência em todo o lado, apocalipses em aproximação, quando são eles que decaem.

Não, o meu fim não será o fim do mundo.

O Olhar do Outro

 


Maria Filomena Mónica, O Olhar do Outro, Relógio D'Água, 2020

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Olhar jocoso e sobranceiro, o dos ingleses anglicanos e protestantes. Excessivamente ousados no diagnóstico do atraso deste país, quando o deles avançava a todo o vapor, nos séculos XVIII e XIX. Entre eles há, contudo, excepções.

Gostei mais do olhar metódico e quase científico, certeiro até, dos alemães e do dinamarquês. É mais fácil gostar de quem gosta de nós ou até nos considera bem.

A escrita fluída permite uma leitura fluída.

Não existe um grande equilíbrio na dimensão dos vários relatos, isto é, alguns são breves outros longos, embora sejam todos bem enquadrados por notas biográficas que ajudam a contextualizar os olhares.

 

Ainda assim, de MFM, gostei mais do seu Bilhete de Identidade.

quarta-feira, julho 07, 2021

terça-feira, julho 06, 2021

Vacinação e transmissão: a corrida.

 Ouvimos na TV que estamos numa luta contra o tempo, entre a vacinação e a transmissão. Pasmo.

 

Então não estávamos numa luta contra o tempo aquando dos festejos da vitória do Sporting no campeonato de futebol? Não estávamos numa luta contra o tempo aquando da final da Liga dos Campeões, no Porto? Não estávamos numa luta contra o tempo, nos festejos do São João?

 

Agora estamos numa luta contra o tempo!

 

Há para aí uns comentadores neoliberais que falam grosso quando os números da pandemia estão em baixo e piam fino (nem os ouvimos), quando os números estão altos ou crescem. Nota-se que o tom e a intensidade não são os mesmos, ou será impressão minha?

Duna

 


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020


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- Os homens e as suas obras têm sido até agora uma doença à superfície dos seus mundos - disse o pai. - A natureza tende a compensar as doenças, removendo-as ou isolando-as, incorporando-as no sistema à sua maneira.  


Frank Herbert, Duna, Relógio D'Água, 2020, pág. 361

sexta-feira, julho 02, 2021

Religião, escuridão, ciência, ilusão

 


Hervé Le Tellier, A Anomalia, Editorial Presença, 2021

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A religião é um peixe carnívoro das profundezas. Emite uma ínfima luz e, para atrair a sua presa, precisa de muita escuridão.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 251

 

Mas todos o sabem: o universo, virtual ou não, é todo ele regido por leis, cada vez mais conhecidas a fundo.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 255

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Se a escuridão é ignorância, ainda vivemos nela, com a ilusão de que conhecemos cada vez mais a fundo as leis que regem o universo.

 

E contra Heidegger, que dizia que só um deus poderia salvar-nos:

 

Não haverá um salvador supremo. Temos de ser nós próprios a salvar-nos.

Hervé Le Tellier, A Anomalia, pág. 260

 

Estamos perdidos.


Estado a que chegámos



Fonte: DGS, Relatório da Situação nº 486 | 01/07/2021 


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Entretanto nos E.U.A., o país que mais testou no mundo, a vacinação reflecte-se na transmissão. Assim parece, com os novos casos diários a reduzirem-se exponencialmente com o aumento exponencial dos vacinados.

A tese de que a vacinação não se reflecte na transmissão deve ser questionada, ou serão assim os americanos tão bem-comportados e de elevado nível cívico?



 Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/country/us/ (consultado a 02/07/2021)

quinta-feira, junho 10, 2021

Portugal

 «Obedientes e sem mais delongas, num mergulho de alcatrazes, atirámo-nos então daquela rocha branca ao abismo azul. E descobrimo-nos. Encontrámo-nos universais em toda a parte do globo, mas, sobretudo, dentro da nossa própria perplexidade. (…)

E a História celebra com justiça os melhores dessa superação mental. Chamam-se Pedro Nunes, Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro, Garcia da Orta, João de Barros, Diogo de Couto, Pêro Vaz de Caminha, Fernão Mendes Pinto, Luís de Camões. Sem falar doutros menos dotados que, modestamente, se desmediram. (…)

Enquanto os vizinhos da Europa, sem descanso, continuaram a ser pioneiros nas empresas que a vida lhes confiava, nós, enxutos da grande maratona oceânica, ficámos em cima da penedia a ver passar ao longe, a fumegar, as embarcações alheias, e a cantar, ao som de uma guitarra, loas à fatalidade.»

 Miguel Torga, Portugal, D. Quixote, 3ª ed., 2010, págs. 98-99

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