Nas ilhas Faroé (Dinamarca), mantém-se o ritual de passagem dos rapazes à idade adulta, uma tradição que remonta ao século XI. O ritual é assinalado com a chacina de milhares de golfinhos.
sexta-feira, novembro 25, 2011
quinta-feira, novembro 24, 2011
O trabalho dos escravos
“A sociedade portuguesa precisa de serenidade e de trabalho.” José Relvas, Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares à SIC em 24-11-2011
«Nunca ninguém me ouvirá a desincentivar a mobilização, mas, se reconheço a importância de se exprimirem, também reconheço bem como é importante para Portugal encontrar uma saída para a crise que resulta do nosso trabalho» Pedro Passos Coelho à SIC Notícias, 23-11-2011
***
É fácil concordar com estas afirmações. Afinal parecem querer dignificar o nosso trabalho, o trabalho dos portugueses. Quem se opõe à dignificação do trabalho? O problema é que estes senhores valorizam o trabalho no discurso mas desvalorizam-no nas acções e nas medidas governativas que tomam. Ora as acções são mais reveladoras do que as palavras.
Se dizem valorizar tanto o trabalho, então por que razão tomam medidas que o desvalorizam? Por que razão baixam a remuneração do trabalho? Por que razão subtraem salários aos trabalhadores? Por que razão desincentivam o trabalho? (Ou será que se incentiva o trabalho pagando menos a quem o oferece?) Por que razão desincentivam as horas extraordinárias, desencorajando aqueles que gostariam de trabalhar mais? Por que razão desincentivam o trabalho nocturno? Por que razão não promovem o trabalho, na verdade? (É a crise, dizem, como se fossem os que sempre trabalharam os responsáveis por esta situação. Na verdade, onde estão os responsáveis?).
Se bem percebemos, querem que trabalhemos o máximo contra a mínima remuneração possível. Levando esta ideia ao extremo, para esta gente, o ideal seria que trabalhássemos sem nada receber. Zero! De graça, sem qualquer remuneração!
Não saberão que o trabalho é um meio e não um fim? Será que pensam e sentem como os cínicos que mandaram escrever no cimo dos portões dos campos de concentração “Arbeit macht frei”? Também diziam glorificar o trabalho, não é verdade? O trabalho dos escravos, que afinal não libertava coisa nenhuma.
quarta-feira, novembro 23, 2011
A argentinização de Portugal
domingo, novembro 20, 2011
Os peões de Wall Street
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E existem muitos mais. Eles andam por aí (António Borges, por exemplo, ex-director do departamento europeu do FMI e ex-vice-governador do Goldman Sachs). Todos têm fortes ligações ao poderoso banco de negócios de Wall Street, qual nova Maçonaria ou Opus Dei, com os seus agentes infiltrados. São uma espécie de fundamentalistas da alta finança. Gente fanática. Há mais fé do que ciência nas suas intenções e acções. Crêem cegamente numa teoria económica que não encaixa na realidade e querem que a realidade encaixe na teoria. A realidade somos nós! Eles são os missionários da nova teologia de mercado. Agentes. Actantes. Lacaios de uma engrenagem gigantesca que os tolhe e que nos quer tolher, arrasadora de democracias, escravizadora de povos. É mais forte do que eles. Não pode ser mais forte do que nós.
***
Epílogo
Já somos governados pelos teólogos do mercado. Uma espécie de “Chicago boys” que chegaram ao Governo, pela via democrática, é um facto, mas também pela via da sua mentirosa “política de verdade”, anunciada aos quatro ventos durante a campanha eleitoral. Curiosamente, ou nem por isso, ouvimos hoje da boca de Mariano Rajoi a mesma expressão. Os espanhóis que se cuidem. Não há nada a fazer com esta gente que se julga dona da verdade. São uma espécie de Testemunhas de Jeová da Economia. Fanáticos de mente blindada. Fundamentalistas. A sua crença na teoria económica clássica e neoliberal é tão cega, que julgam que a economia recuperará com a austeridade e que a democracia acabará por funcionar a seu favor.
Bye, bye, Einstein!
sábado, novembro 19, 2011
O darwinismo do Génesis
O criacionismo é coisa de fundamentalistas protestantes, diz Umberto Eco, e, paradoxo dos paradoxos, o texto em que se baseiam – o Génesis - até é “refinadamente” darwinista. Nos nossos dias, e sabendo o que sabemos hoje, qualquer interpretação literal da Bíblia, como a que realizam os fundamentalistas protestantes, ultrapassa a fronteira da sanidade e da razoabilidade. Mas, por outro lado, a leitura metafórica também pode prestar-se a diversas interpretações, algumas até de sinal contrário. E assim, tudo o que antes era religiosamente proibido passa agora a ser vagamente permitido.
***
Ora, seria infantil pedir a São Tomás absolvições para quem pratique um aborto dentro de um dado período de tempo, e, provavelmente, ele não pensava sequer nas implicações morais do seu discurso, que hoje chamaremos de tipo refinadamente científico. No entanto, é curioso que a Igreja, que sempre se reclama do magistério do doutor de Aquino, sobre este ponto tenha decidido afastar-se tacitamente das suas posições.
Aconteceu um pouco aquilo que aconteceu com o evolucionismo, com que a Igreja tinha chegado a acordo há muito, porque basta interpretar em sentido metafórico os seis dias da criação, como sempre fizeram os padres da Igreja, e eis que deixa de haver contra-indicações bíblicas a uma visão evolucionista. Pelo contrário, o Génesis é um texto refinadamente darwinista, porque nos diz que a criação aconteceu por fases, do menos complexo ao mais complexo, do mineral ao vegetal, ao animal, ao humano.
No princípio, Deus criou o céu e a terra. [...] Deus disse: «Haja luz!» E houve luz. Deus viu que a luz era uma coisa boa e separou a luz das trevas e chamou à luz dia e às trevas noite. [...] Deus fez o firmamento e separou as águas que estão debaixo do firmamento das águas que estão por cima do firmamento. [...] Deus disse: «Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num único lugar e apareça seco.» E assim aconteceu. Deus chamou ao seco terra e à massa das águas mar. [...] E Deus disse: «A terra produza rebentos, ervas que produzam sementes e árvores de fruto, que dêem na terra fruto com a semente, cada uma segundo a sua espécie» [...]. Deus fez as duas luminárias grandes, a luminária maior para senhorear o dia e a luminária menor para senhorear a noite, e as estrelas. [...] Deus disse: «As águas fervilhem de seres vivos e aves voem sobre a terra, diante do firmamento do céu.» [...] Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que deslizam e fervilham nas águas [...]. Deus disse: «A terra produza seres vivos segundo a sua espécie: gado, répteis e animais selvagens segundo a sua espécie.» [...] E Deus disse: «Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança.» [...] E então o Senhor Deus formou o homem com pó da terra e soprou-lhe nas narinas um fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.
A escolha de uma batalha anti-evolucionista e de uma defesa da vida que chega até ao embrião parece sobretudo um alinhamento com as posições do protestantismo fundamentalista.
Eco, Umberto; Construir o Inimigo e Outros Escritos Ocasionais, Gradiva, 2011. Pág. 127-128
domingo, novembro 13, 2011
sexta-feira, novembro 11, 2011
1984?
domingo, novembro 06, 2011
Povo-boi
A apropriação dos rendimentos do trabalho prossegue à vista desarmada, e o povo a ruminar numa pacata mansidão. É espantoso!
Parece que nunca abandonámos da nossa memória colectiva a vivência dos tempos de uma "casa portuguesa, com certeza: pão e vinho sobre a mesa." Esses tempos em que tudo nos faltava, menos a açorda e o vinho (e os meninos do povo animavam-se com “sopas de cavalo cansado” e trabalho), que a carne ou o peixe, nem vê-los – coisa de burgueses. Até a liberdade nos faltava, ou a liberdade acima de tudo. Comia-se açorda e bebia-se vinho. Fado, Fátima e Futebol. Os anos em que todos éramos magriços. Foram muitos anos de Estado Novo. Anos que não se apagaram. Os “brandos costumes”, mil vezes martelados aos nossos ouvidos por uma insidiosa propaganda, e a coerção pidesca, amansaram-nos. Até a Revolução foi uma coisa de flores.
Os tempos de falsa prosperidade foram breves e, pelos vistos, não foram suficientes para iludir os portugueses da sua condição de pobre povo do cú da Europa. Os “cafres da Europa”, já dizia o Padre António Vieira. Só assim se consegue explicar a apatia e a plasticidade de um povo, que tão bem se adapta a estes tempos de infortúnio e abuso. É um povo-boi que tudo suporta.
Pobre povo.
Cristo indignado
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»
Jo 2, 13-22
O templo imaterial da democracia está hoje tomado por vendilhões da alta finança. Para dizer a verdade, o mundo está hoje tomado por essa gente. Ele indignar-se-ia, decerto.
sábado, novembro 05, 2011
Também tu, Obama?!
Obama e Cameron, ao recusarem a aplicação da Taxa Tobin – a tributação dos movimentos de capitais -, mostram, mais uma vez, a sua verdadeira face: a de servidores e testas de ferro de obscuros interesses financeiros antidemocráticos. Afinal a quem servem eles, na verdade? Não deveria ser a democracia? Contudo, parecem defender mais as organizações financeiras multinacionais e os patrões da alta finança do que os povos que os elegeram. Mais uma traição à democracia.
***
Já em 2002, Ignacio Ramonet alertava (os destaques são nossos):
"Podem as sociedades democráticas, durante muito tempo, tolerar o intolerável? É urgente deitar grãos de areia nestes movimentos devastadores dos capitais. De três formas: supressão dos “paraísos fiscais”; aumento da fiscalidade sobre os rendimentos do capital; tributação das transacções financeiras.
(…)
A tributação dos lucros financeiros é uma exigência democrática mínima. Esses lucros deveriam ser tributados da mesma forma que os rendimentos do trabalho. Tal não acontece em nenhum lado, nomeadamente no seio da União Europeia.
A liberdade total de circulação de capitais desestabiliza a democracia. É por isso que importa implementar mecanismos dissuasivos. Um dele é a Taxa Tobin, assim chamado pelo nome do Prémio Nobel da Economia, o americano James Tobin que a propôs em 1972. Trata-se de tributar, de forma módica, todas as transacções no mercado de capitais para os estabilizar e, simultaneamente, para encontrar receitas para a comunidade internacional. À taxa de 0,1%, a Taxa Tobin conseguiria, num ano, qualquer coisa como 166 mil milhões de euros, duas vezes mais do que o total anual necessário para erradicar a extrema pobreza em cinco anos."
Ignacio Ramonet, Guerras do Século XXI, Campo das Letras. 2ª ed. 2003. pág. 106-107.
***
Parece que o Presidente Cavaco Silva vai aos EUA encontrar-se com Obama: porque não tenta convencê-lo a abraçar a Taxa Tobin? (Eu sei, eu sei…é uma piada.)
quarta-feira, novembro 02, 2011
Economias!
“Para a social-democracia, que governa sozinha em vários grandes países europeus, a política é a economia; a economia são as finanças; e as finanças são os mercados.”
Ignacio Ramonet, Guerras do Século XXI, Campo das Letras. 2ª ed. 2003. pág. 39.
E daqui recuamos cerca de 140 anos, ao criticado partido reformista por Eça de Queirós, nas suas Farpas. Aquele partido, segundo Eça de Queirós, respondia invariavelmente a todas as questões que lhe colocavam, com uma única palavra: “Economias!”
- Senhor – disseram [questionando o partido reformista]-, espalharam-se por aí que vindes restaurar o País. Ora deveis saber que um partido que traz uma missão de reconstituição deve ter um sistema, um princípio que domine toda a vida social, uma ideia sobre moral, sobre educação, sobre trabalho, etc. Assim, por exemplo, a questão religiosa é complicada. Qual é o vosso princípio nesta questão?
- Economias! – disse com voz potente o partido reformista.
Espanto geral.
- Bem! E em moral?
- Economias! – bradou.
- Viva! E em educação?
- Economias! - roncou.
- Safa! E nas questões de trabalho?
- Economias! – mugiu.
- Apre! E em questões de jurisprudência?
- Economias! – rugiu.
- Santo Deus! E em questões de literatura, de arte?
- Economias! – uivou.
Havia em torno um terror. Aquilo não dizia mais nada.
Eça de Queirós (1871) , Uma Campanha Alegre. Edição Livros do Brasil. Lisboa. Pág. 39-40.
***
O terror a que Queirós se referia não é mais do que o horror económico que agora nos assola. Somos hoje governados por uma espécie de partido reformista à Queirós, ao qual parece faltar “um sistema, um princípio que domine toda a vida social, uma ideia sobre moral, sobre educação, sobre trabalho, etc.” Os que nos governam submetem toda a sua política a um único fim: “Economias!”
Economias e mercados!
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