sábado, abril 07, 2012

À espera dos mercados e do crescimento económico


Depois de analisar o ordoliberalismo (o neoliberalismo alemão, o mesmo, dizemos nós, que preside ainda hoje às políticas da U.E. e que está ser imposto aos Estados endividados da Zona Euro) quanto às suas políticas económicas e políticas sociais, Michel Focault conclui o seguinte:


“[Nesta doutrina neoliberal] só existe uma política social verdadeira e fundamental, que é o crescimento económico. A forma fundamental da política social não deve ser uma coisa que contrarie a política económica e que a compense; a política social não deveria ser tanto mais generosa quanto maior é o crescimento económico. O crescimento económico por si só, é que deveria fazer com que todos os indivíduos acedessem a um nível de rendimento que lhes permitisse essas seguranças individuais, o acesso à propriedade privada, a capitalização individual ou familiar, com os quais poderiam proteger-se dos riscos.” (Foucault, 2010: 188)[1]

Ou seja, no neoliberalismo, toda a política social se submete à política económica. Mais: se a política social se situa na dependência do crescimento económico, não devendo ser mais generosa quanto maior for aquele, então, em situações em que não se regista crescimento económico, em situações de recessão, como a que atravessamos, deixa de haver política social ou esta passa a ser muito residual, ou ainda, retrair-se-á. E é o que está a acontecer. Acresce a isto que a política económica, também ela se resume ao crescimento económico e este por sua vez encontra-se na dependência dos caprichos dos mercados nos quais os governos não devem, nem podem interferir, de acordo com a doutrina que defendem. Tudo se resume então ao crescimento económico, ou melhor, aos mercados[2].

Compreende-se agora por que razão se concebeu um Ministério da Economia atomizado em mil e uma secretarias, facilmente bloqueável, assim como, a razão da paralisia que o afecta. Pretende-se que não interfira muito na economia, que não atrapalhe e até que desactive anteriores intervenções (TGV, túneis, ponte sobre o Tejo, aeroporto, escolas, etc.) uma vez que, de acordo com a doutrina dos que nos governam, toda a política económica é (deve ser) ditada pelos mercados e pelas leis da concorrência e não pelos governos. Dos mercados financeiros, por sua vez, depende o crescimento económico. Em suma, como os nossos governantes acreditam que o crescimento económico está longe de depender do Governo, dispensaram a política económica. Ou dito doutra forma: a sua política económica é a ausência de uma política. Estão à espera dos mercados e do crescimento económico. Mais ou menos como a tripulação de um barco na latitude dos cavalos, aguardando desesperadamente que a brisa enfune as velas.


[1] Michel Foucault; Nascimento da Biopolítica. Edições 70. Lisboa. 2010.
[2] Para o ministro Gaspar o crescimento económico surge como a primeira prioridade, quando prioriza os objectivos da sua política, contudo, paradoxalmente, os efeitos das políticas tomadas apontam no sentido contrário, no sentido da recessão.

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