Pois ainda que a “imagem” e o
“prestígio” sejam importantes, não se constroem no ar. Têm de assentar numa
realidade ou essência que os sustente. E a actual realidade portuguesa, cada
vez mais próxima do Terceiro Mundo, não é lá muito prestigiante. O senhor
Presidente quer basear o nosso prestígio em quê? No empobrecimento? Nas
desigualdades sociais? No crescimento do desemprego? No endividamento do Estado
e das famílias? Na submissão do País aos poderes económicos e financeiros
externos, ou, na submissão aos “mercados”? Na perda de liberdade? No enfraquecimento
da democracia? Não é verdade que a capacidade de os portugueses determinarem o
seu destino e o seu futuro se encontra seriamente comprometida? Ora, esta
tónica continuada no “prestígio”, que na realidade está na lama, na “imagem”, e
também no “investimento directo estrangeiro”, lembra-nos, de cada vez que é
proferida pelo senhor Presidente, que a nossa liberdade, a nossa independência
e o nosso desenvolvimento dependem mais dos outros do que de nós próprios, ou
seja, dependem de elementos que não controlamos na medida em que se encontram
fora do País. Será isto verdade?
Dependemos então da forma como os
outros nos vêem e do investimento que decidem realizar no nosso território. É
isso? Acredita o senhor Presidente que dependemos mais dos outros do que de nós
mesmos para sairmos da situação em que nos encontramos?
Ficaríamos positivamente admirados
com o Presidente se ele dissesse que, embora a “imagem” do país no exterior seja
importante, não deixa de ser secundária em relação às condições de vida reais e
ao trabalho que os portugueses poderão desenvolver no seu próprio país. Que a
imagem,o prestígio e a reputação, virão depois de obra feita, por acréscimo, e em função da realidade (ou qualidade)
criada.
Ficaríamos positivamente admirados
com o Presidente se ele dissesse que, embora o investimento directo estrangeiro
seja importante para combater o desemprego e desenvolver o País, não deixa de
ser secundário em relação ao investimento que os portugueses poderão e deverão
realizar no seu próprio país e também no estrangeiro. Que somos nós quem tem de
fazer pela vida e que não podemos ficar à espera que venham os estrangeiros
safar-nos desta situação.
Ficaríamos positivamente admirados
com o Presidente se ele dissesse que o nosso futuro e a nossa liberdade dependem, acima de tudo, de nós, que estão nas nossas mãos e que somos capazes.