sexta-feira, agosto 31, 2012

Llosa, sobre o sexo e o erotismo


«No domínio do sexo a nossa época experimentou transformações notáveis, graças a uma progressiva liberalização dos antigos preconceitos e tabus de carácter religioso que mantinham a vida sexual dentro de um cerco de proibições. Neste campo, sem dúvida, o mundo ocidental tem sofrido progressos com a aceitação das uniões livres, a redução da discriminação machista contra as mulheres, os gays e outras minorias sexuais que pouco a pouco vão sendo integradas numa sociedade que, por vezes a contragosto, começa a reconhecer o direito à liberdade sexual entre os adultos. Ora bem, a contrapartida desta emancipação sexual tem sido, também, a banalização do acto sexual, que para muitos, sobretudo nas novas gerações, se converteu num desporto ou passatempo, uma tarefa compartilhada que perdeu importância, e por acaso menos que a ginástica, a dança e o futebol. Talvez seja saudável, em matéria de equilíbrio psicológico e emocional esta frivolização do sexo, ainda que nos deveria levar a reflectir no facto de que, numa época como a nossa, de notável liberdade sexual, inclusive nas sociedades mais abertas, não tenham diminuído os crimes sexuais, e por acaso até, tenham aumentado. O sexo light é o sexo sem amor e sem imaginação, o sexo puramente instintivo e animal. Desafoga uma necessidade biológica, mas não enriquece a vida sensível nem emocional, nem estreita a relação do par mais do que a “mistura” carnal; em vez de libertar o homem e a mulher da solidão, passado o acto peremptório e fugaz do amor físico, devolve-os a ela com uma sensação de fracasso e frustração.
O erotismo desapareceu, ao mesmo tempo que a crítica e a alta cultura. Porquê? Porque o erotismo, que converte o acto sexual em obra de arte, é um ritual que a literatura, as artes plásticas, a música e uma refinada sensibilidade impregnam de imagens de elevado virtuosismo estético, é a negação de esse sexo fácil, expeditivo e promíscuo no qual paradoxalmente desembocou a liberdade conquistada pelas novas gerações.»

Mario Vargas Llosa, La Civilizatión del Espectáculo, 3ª ed., Alfaguara, 2012, pág. 52-53
(traduzido por AMCD)

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No original:

quinta-feira, agosto 30, 2012

A lógica do saqueador do pote


Quando já nada há que valha no pote alheio, vende o pote.

Fortalezas inexpugnáveis


«Se uma “situação revolucionária” se caracteriza pela desintegração psicológica e moral de todas as forças de resistência a tal ponto que um punhado de insurrectos mal armados se tornam capazes de conquistar as fortalezas tidas por mais inexpugnáveis da reacção, então a «situação fascista» é o seu paralelo exacto – sendo a diferença que, com ela, são os baluartes da democracia e das liberdades constitucionais que são conquistados, ao mesmo tempo que as suas defesas caem e falham do mesmo modo espectacular.»

Karl Polanyi (1944), A Grande Transformação, Edições 70, 2012, p. 446


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Em Portugal, na década de 20 do século XX, assistimos a uma “desintegração psicológica e moral” da Iª República e ao cansaço da população motivado pela contínua instabilidade política. Essa situação facilitou a ascensão da ditadura que serviu de incubadora ao Estado Novo. Digamos que a Iª República caiu de podre e deu lugar ao Estado Novo. O Estado Novo, por sua vez, caiu de podre no 25 de Abril de 1974 e deu lugar à IIIª República.

A questão que se coloca é a seguinte: quando irá a IIIª República cair de podre?

Talvez estejamos ainda longe dessa data, mas já algo começa a cheirar mal, e não é no reino da Dinamarca.
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PS - A propósito, deparei, por acaso, com este post no Ouriço. AQUI.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Uma cratera do tamanho dum lapso.

«Cratera na execução orçamental: Ouvi (li) bem? O buraco na receita fiscal acumulada líquida em Julho de 2012 é de 3 mil milhões euros (-3.5% do que em igual período de 2011)??? 3 000 000 000 de euros??? E o saldo global da execução orçamental do subsector estado em Julho de 2010 é de 3 979 900 000 euros???

Está tudo aqui na Síntese de Execução Orçamental do Ministério das Finanças.


Victor Gaspar tem muito que explicar.»


Dito no "De Rerum Natura".

O que dirá Gaspar desta vez? Outro "lapso"?


Algo me diz que esta cratera vai ser o desemprego de muita gente. Mais gente.

Oxalá me engane.

Neil Armstrong (1930-2012)

Neil Armstrong (1930-2012)

sábado, agosto 25, 2012

O que é a História?

«O que é, pois, a História? Uma hipótese de definição, entre muitas: é aquilo que o historiador não ignorou.»

Gonçalo M. Tavares, "Sobre o progresso histórico", Visão, 23 a 29 de Agosto de 2012. 

sexta-feira, agosto 24, 2012

Rota Vicentina em Agosto.


© AMCD

Plenamente de acordo.

"E, por favor, vendam o António Borges, antes que se transforme ele próprio em mais uma PPP ruinosa para todos nós."

Dito aqui, na condição de "contribuinte-quem-paga-manda".

segunda-feira, agosto 20, 2012

IN∙HONOREM∙PRINCIPIS∙APOST∙PAVLVS∙V∙BVRGHESIVS∙ROMANVS∙PONT∙MAX∙AN∙MDCXII∙PONT∙VII


Em honra dos príncipes apóstolos, Paulo V Borghese, um Romano, Pontífice Máximo, no ano de 1612, o sétimo do seu pontificado.


M∙AGRIPPA∙L∙F∙COST∙TERTIVM∙FECIT


   Marcus Agrippa, filho de Lúcio, no seu terceiro consulado, fê-lo.

PIVS∙VII∙P∙M∙FECIT∙AN∙XXII


Pio VII, Pontífice Máximo, fê-lo, no ano XXII do seu pontificado. [1822]

sábado, agosto 18, 2012

Perséfone

Bernini, O Rapto de Proserpina (detalhe), 1621-22

Depois, [Zeus] ocupou também o leito de Deméter criadora, que gerou Perséfone de alvos braços, que Hades arrebatou junto de sua mãe; mas o prudente Zeus concedeu-lha.

Hesíodo, Teogonia, 912-914

Será este um fantasma que me mandou a altiva Perséfone, para que eu chore e me lamente ainda mais?
Homero, Odisseia, XI. 213-214

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Proserpina arrebatada por Plutão: a escultura transmite força e fragilidade – a força de Plutão e a fragilidade de Proserpina. O mármore cede ao toque dos marmóreos dedos de Plutão, que segura Proserpina com todo o cuidado, como se fosse de carne e osso.

O canto do grilo


Entrevistador: Uma nota: os mercados impõem agora a sua ditadura ao povo. Não é assim?

Grilli (Ministro da Economia italiano): «Não colocarei a questão nesse plano. Não vamos demonizar os mercados. Uma economia moderna não deverá fazê-lo: é uma questão de conveniência recíproca. Os mercados não são um inimigo, mas um instrumento que permite ao Estado e aos privados financiarem-se. Naturalmente os mercados escolhem as soluções que mais lhes convêm, e os estados devem adaptar-se, procurando ser mais competitivos e atraentes. Este processo de adaptação é mais longo e difícil na Europa, uma vez que existe uma casa comum, o euro, que impõe a todos os países uma mudança conjunta. Mas não tenho dúvidas: o processo é irreversível. O euro é uma grande conquista económica e de civilização. E do euro não se voltará atrás.»


Este é o discurso dominante na Europa conduzida pelos sumo-sacerdotes do mercado. Longe de demonizarem os mercados, endeusam-nos. Nas suas palavras, os países não têm outro remédio senão adaptar-se – submeter-se - às conveniências da nova divindade. Tudo para que possam financiar-se, ou melhor, endividar-se e continuar a viver a crédito e do crédito.

sexta-feira, agosto 17, 2012

O cão e o chicote


«É apenas preciso mostrar-se um chicote a um cão para que ele se doa.»

Alexandre Soljenitsin, Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, Publicações Europa-América, p. 72.


Soljenitsin sabia do que falava.

sexta-feira, agosto 03, 2012

Prodígios

Gabby Douglas - Ouro

Viktoria Komova - Prata

Aliya Mustafina - Bronze

A campeã.

Capela Sistina

quinta-feira, agosto 02, 2012

Para lá dos 7 000 milhões

1950
(clique para ampliar)

2010
(clique para ampliar)

2050
(clique para ampliar)


2100

Os timoneiros cegos


«Há uma coisa que intriga na política deste governo: o facto de ir mais longe do que a troika nas medidas de austeridade e nada nos ser dito sobre os objectivos futuros que a justifiquem. Voltar mais cedo aos mercados? Para quê? Não para voltar ao statu quo ante, o que seria absurdo, mas, como diz o primeiro-ministro, para “mudar Portugal”. Mas como? Que novo Portugal se quer construir? Nada, absolutamente nada de concreto nos é dito sobre essa ambição. E nada do que é feito nos desvela o futuro.»

José Gil, “O silêncio das palavras”, Visão n.º 1013, 2 a 8 de Agosto de 2012

Os timoneiros que nos governam têm como “grande desígnio” o rápido regresso aos mercados, esse outro pote. Já o tínhamos notado aqui. Os portugueses seguem-nos em silêncio. Pobre gente.

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