«No domínio do
sexo a nossa época experimentou transformações notáveis, graças a uma
progressiva liberalização dos antigos preconceitos e tabus de carácter religioso
que mantinham a vida sexual dentro de um cerco de proibições. Neste campo, sem
dúvida, o mundo ocidental tem sofrido progressos com a aceitação das uniões
livres, a redução da discriminação machista contra as mulheres, os gays e outras minorias sexuais que pouco
a pouco vão sendo integradas numa sociedade que, por vezes a contragosto,
começa a reconhecer o direito à liberdade sexual entre os adultos. Ora bem, a contrapartida
desta emancipação sexual tem sido, também, a banalização do acto sexual, que para
muitos, sobretudo nas novas gerações, se converteu num desporto ou passatempo,
uma tarefa compartilhada que perdeu importância, e por acaso menos que a
ginástica, a dança e o futebol. Talvez seja saudável, em matéria de equilíbrio
psicológico e emocional esta frivolização do sexo, ainda que nos deveria levar
a reflectir no facto de que, numa época como a nossa, de notável liberdade sexual,
inclusive nas sociedades mais abertas, não tenham diminuído os crimes sexuais,
e por acaso até, tenham aumentado. O sexo light
é o sexo sem amor e sem imaginação, o sexo puramente instintivo e animal. Desafoga
uma necessidade biológica, mas não enriquece a vida sensível nem emocional, nem
estreita a relação do par mais do que a “mistura” carnal; em vez de libertar o
homem e a mulher da solidão, passado o acto peremptório e fugaz do amor físico,
devolve-os a ela com uma sensação de fracasso e frustração.
O erotismo
desapareceu, ao mesmo tempo que a crítica e a alta cultura. Porquê? Porque o
erotismo, que converte o acto sexual em obra de arte, é um ritual que a
literatura, as artes plásticas, a música e uma refinada sensibilidade impregnam
de imagens de elevado virtuosismo estético, é a negação de esse
sexo fácil, expeditivo e promíscuo no qual paradoxalmente desembocou a
liberdade conquistada pelas novas gerações.»
Mario
Vargas Llosa, La Civilizatión del Espectáculo,
3ª ed., Alfaguara, 2012, pág. 52-53
(traduzido
por AMCD)
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No original: