Homenagem aos mineiros
do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema de «a cama
quente»
Na mina trabalha-se
por turnos.
Quando se volta, nem se
tiram os coturnos.
Bebido o café negro e
trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao
sono, mas, primeiro,
enxota-se o camarada
da cama ainda quente,
que não há camas, no
Chile, pra toda a gente.
Do calor que sobrou o
nosso se acrescenta
pra dar calor ao
próximo que entra.
Vós, que dormis em
camas, como reis,
tantas horas por dia,
não sabeis
como é bom dormir ao
calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou
ao carvão
e despertar ao abanão
(é o contrato!)
de um que chega do
carvão ou do nitrato!
É a este sistema,
minha gente,
que se chama no Chile
«a cama quente»…
(poema de Alexandre O’Neill, 1975)