«Assim, como atrás referi, as duas mais importantes promessas da
modernidade ainda por cumprir são, por um lado, a resolução dos problemas da
distribuição (ou seja, das desigualdades que deixam largos estratos da
população aquém da possibilidade de uma vida decente ou sequer da
sobrevivência); por outro lado, a democratização política do sistema político
democrático (ou seja, a incorporação tanto quanto possível autónoma das classes
populares no sistema político, o que implica a erradicação do clientelismo, do
personalismo, da corrupção e, em geral, da apropriação privatística da actuação
do Estado por parte de grupos sociais ou até por parte dos próprios
funcionários do Estado).»
Boaventura de Sousa
Santos, Pela Mão de Alice, O Social e o Político na Pós-Modernidade,
8ª ed., Edições Afrontamento, 2002, (na página 88).
Desconheço se Sousa Santos já o
teria escrito aquando da primeira edição, em 1994. Se o fez, passaram então
dezanove anos. Neste ínterim o mundo mudou, para pior, e, em vez de nos
aproximarmos progressivamente do cumprimento das promessas por cumprir da modernidade,
afastámo-nos delas à velocidade da luz. Volvidos estes anos, em Portugal,
semiperiferia (sempre semiperiferia!) cada vez mais periférica, a conversão das
elites governantes e dos seus partidos à doutrina neoliberal pós-moderna, agravou
os problemas da distribuição e afastou-nos da democratização política do sistema
político democrático, ao ponto de se voltarem a ouvir por aí as famosas
grandoladas (inclusive na Assembleia da República, a Casa da Democracia).
A modernidade ficou por cumprir
neste país e a modernização é uma gargalhada.
A pós-modernidade abalroou as
promessas incumpridas da modernidade como uma locomotiva abalroa um camião.
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