Ouvi uma vez dizer, num Verão
distante do século XX, da boca do meu querido avô algarvio, já falecido - trabalhador
rural no Inverno, marnoteiro no Verão – que “Nascer é morrer!”. Ele era analfabeto, mas não era inculto. Às vezes vem-me à
memória aquele dito. A frase é reveladora de um antigo espírito mediterrânico que
parece viver ainda entre os povos do Sul, e que nele decerto vivia. Talvez uma
coisa dos antigos gregos. É uma frase muito curta, lapidar, de três palavras
apenas, mas que tudo parece conter - o nascimento, a vida e a morte. E esse “é” da frase encerra toda uma vida,
toda uma existência entre o nascimento e a morte. Esse “é” que nada é (é a mais
curta palavra da frase), é tudo o que importa. É tudo o que nos importa.
Na frase, encontramos a crença na
força do Destino, a Moira, à qual até os antigos deuses se tinham de submeter. Está
lá o ancestral fatalismo mediterrânico, a crença de que viver é sofrer, e por
isso os antigos poetas afirmavam que o melhor para o Homem era atravessar
rapidamente as portas do Hades, logo após o nascimento.
Ouvi um dia, numa igreja, um
padre afirmar na sua prédica, que o momento da morte era mais importante que o
do nascimento. Que só nesse momento se podia atestar todo um percurso,
valorizador ou desvalorizador. Sólon diria o mesmo em relação à possibilidade
de verificação da felicidade humana. Só no fim é que se vê.
Uma cultura inteira dentro dum "é"...
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