Perguntava hoje a pivot da SIC, Maria João Ruela, ao comentador
Marques Mendes: como é que ninguém percebeu que a dívida do banco tenha chegado
a este valor? E acrescentamos nós: como é que os auditores não deram por ela?
Como é que as entidades reguladoras não viram? Como é que o líder do suposto principal
partido da oposição confiou e não desconfiou? Não sabiam eles já de uma prática
comum por parte das empresas de auditoria aos bancos auditados?
Ainda que se trate de um livro
cheio de hinos laudatórios ao credo mercantil, tendo a verdade sido deixada
para notas de rodapé, O Declínio do
Ocidente, de Niall Ferguson, lá explica, na transição da página 84 para a
85, fazendo uso parcial de uma metáfora:
Espera-se
da regulação que reduza o número e grandeza de incêndios florestais. E, no
entanto, ela pode, como já vimos, ter exactamente o efeito contrário. Acontece
assim porque o próprio processo político é, em si, também bastante complexo. As entidades reguladoras podem ficar reféns
daqueles que deveriam regular, não menos pela expectativa de empregos bem
pagos, no caso de o guarda-florestal decidir transformar-se num caçador
furtivo. Há outras formas de se tornarem reféns. Por exemplo, quando dependem das organizações que tutelam para obter os
próprios dados de que necessitam para o seu trabalho.
Niall Ferguson, O Declínio do Ocidente, Como as Instituições se Degradam e a Economia
Morre, D. Quixote. 2014, pp. 84-85 (ênfase nossa).
Seremos todos anjinhos?