quarta-feira, agosto 12, 2020

Kaputt


Curzio Malaparte (1944), Kaputt, Publicações Europa-América, 1979.

[Há uma edição deste ano da Cavalo de Ferro]

óóóó


Kaputt, onde o italiano Malaparte passeia impunemente a sua insolência (que faz passar por irreverência) sob o nariz dos nazis enquanto com eles janta. Teve de testemunhar o mal com os seus próprios olhos para aprender, da pior forma, o horror do nazismo e do fascismo, que antes abraçara. É nessa condição de “aliado” que lhe é conferido um livre trânsito que o leva a testemunhar os horrores na frente Leste: as perseguições, os fuzilamentos, a chacina dos judeus. Por toda a obra transparece o seu repúdio pela crueldade dos nazis, com a qual convive horrorizado, com a habilidade e a inteligência necessária para os ludibriar e sair dali vivo.

Tem, no entanto, um tique que manifesta ao longo do livro: associa muitas vezes o mal a um elemento feminino (chega a gracejar, dizendo que Hitler é uma mulher, ou que há um elemento feminino no "medo" e na crueldade dos alemães). Talvez não seja de forma consciente. É uma tendência com profundas raízes bíblicas e mitológicas: não foi Eva que convenceu Adão a morder a maçã? Não foi da caixa de Pandora que fugiram todos os males do mundo? Não era Medusa uma mulher? Ou Circe uma feiticeira? Será que Malaparte não se deu conta desta tendência para a diabolização do elemento feminino na sua história e na história da literatura?

O capitão Curzio Malaparte

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