Curzio Malaparte (1944), Kaputt,
Publicações Europa-América, 1979.
[Há uma edição deste ano da Cavalo
de Ferro]
óóóó
Kaputt, onde o italiano Malaparte
passeia impunemente a sua insolência (que faz passar por irreverência) sob o nariz dos nazis enquanto com eles
janta. Teve de testemunhar o mal com os seus próprios olhos para aprender, da
pior forma, o horror do nazismo e do fascismo, que antes abraçara. É nessa condição
de “aliado” que lhe é conferido um livre trânsito que o leva a testemunhar os
horrores na frente Leste: as perseguições, os fuzilamentos, a chacina dos
judeus. Por toda a obra transparece o seu repúdio pela crueldade dos nazis, com a qual convive horrorizado, com
a habilidade e a inteligência necessária para os ludibriar e sair dali vivo.
Tem, no entanto, um tique que manifesta
ao longo do livro: associa muitas vezes o mal a um elemento feminino (chega a gracejar, dizendo que Hitler é uma mulher, ou que há um elemento feminino no "medo" e na crueldade dos alemães). Talvez não
seja de forma consciente. É uma tendência com profundas raízes bíblicas e mitológicas:
não foi Eva que convenceu Adão a morder a maçã? Não foi da caixa de Pandora que
fugiram todos os males do mundo? Não era Medusa uma mulher? Ou Circe uma
feiticeira? Será que Malaparte não se deu conta desta tendência para a diabolização
do elemento feminino na sua história e na história da literatura?
O capitão Curzio Malaparte |
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