José Manuel
Viegas, “Racismo Lusitano”, A Origem das Espécies
De acordo com esta acepção há racismo em todas
as sociedades. Haverá pomares sem maçãs podres? Concordamos com José Manuel
Viegas, se não distinguirmos “racismo geral” de “racistas particulares”. Mas
qual é a métrica para aferir se uma sociedade é racista? Quantos racistas são
necessários para se concluir cabalmente que a sociedade em que se vive é uma
sociedade racista? Quantas maçãs podres são necessárias para que se concluir
que a safra de maçãs está comprometida, ou que o pomar é um pomar de maçãs
podres? Estamos num terreno movediço: o simples facto de colocarmos a questão
do grau de racismo de uma sociedade é geralmente mal interpretado, sendo
acusado de racismo quem a coloca.
O racismo não é estatisticamente mensurável,
mas existem indicadores que “se encontram no cerne da questão racial”, como
é o caso do número de casamentos mistos, como salienta o historiador e
antropólogo, Emmanuel Todd (2018), na sua obra, Onde Estamos?:
Durante esse período [1965-2015, nos E.U.A.], o sentimento racial persistiu numa parte importante da população branca, e pouca importância tem que as sondagens de opinião digam o contrário. É o que mostra uma análise do casamento, que se encontra no cerne da questão racial porque, se é misto a uma taxa elevada, as raças se diluem para desaparecerem finalmente.
Emmanuel Todd (2018, pág. 331)
E mais adiante:
A percentagem de casamentos mistos é um indicador poderoso. Evoca o futuro porque, se forem numerosos numa determinada sociedade, os casais mistos que produzem filhos abolem a possibilidade de uma segmentação racial ou étnica da sociedade.
Emmanuel Todd (2018, pág. 386)
(destaque nosso)
Em suma, para uma análise comparativa e
objectiva do racismo nas sociedades e entre sociedades, a percentagem de
casamentos mistos “é um indicador poderoso”. Pode estar aqui uma das métricas do
racismo nas sociedades. Enquanto a questão do racismo for apenas uma questão de
opinião, a discussão não cessará, assim como o ruído e a dissensão que a
acompanha.
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Emmanuel Todd (2018), Onde Estamos? Uma
outra visão da história humana, Temas e Debates/Círculo de Leitores.
Viegas, José Manuel, “Racismo Lusitano”, Origem
das Espécies (blogue) (consultado a 3 de Agosto de 2020). Daqui.
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