Bernard-Henri Lévi, Este
Vírus que nos Enlouquece, Guerra e Paz, 2020.
óóóó
As ideias são mais teimosas do que os factos (pág. 29) e no entanto,
afirma Bernard-Henri Lévy, as ideias também morrem, porque vivem da mesma
maneira que os seres humanos. (pág. 23)
Discordamos. A morte é um facto e as ideias sobrevivem-lhe.
E mais adiante afirma:
A velha lua marxista da crise do final do capitalismo misturou-se
com a colapsologia. (pág. 42)
ΩΩΩ
As ideias não vivem da mesma
maneira que os seres humanos, ao contrário do que diz Bernard-Henri Lévy.
Atravessam gerações, vivem para além dos seres humanos que as difundiram. É por
isso que a velha ideia marxista, essa lua, nas próprias palavras do filósofo
francês, é velha e persiste. Sobreviveu a Marx, assim como o cristianismo
sobreviveu a Cristo. As ideias só morrerão com a morte do último homem. Não
estamos aí.
Afirma também Bernard-Henri Lévy
que os vírus, no fundo, são muito mais a arma de um crime da natureza
contra o homem do que um sinal de violência dos homens contra a natureza…
(pág. 40). Ora se o filósofo não é favorável à personificação do
vírus – o vírus não pensa, nem tem uma intenção - como se depreende da leitura
das páginas 38 e 39, já concede que a natureza comete um crime contra o homem.
A natureza não comete crimes, dizemos nós, da mesma forma
que o vírus também não. O homem é
que os comete, se quisermos persistir no dualismo homem/natureza.
Na verdade, o homem é parte da
natureza. Exactamente aquela parte que comete crimes, se quisermos. O dualismo
homem/natureza é uma simplificação que nos ajuda a ler a realidade, mas não é a
realidade.
Concordamos mais com Boaventura de Sousa
Santos (2020) quando afirma: “Não se trata de vingança da Natureza. Trata-se
de pura auto-defesa.” O homem é o agressor.
Concordamos também com Peter
Sloterdijk, que escreveu, na década de 80 do século passado, o seguinte:
A natureza, não humana,
defende-se.
Há uma birra de Bernard-Henri Lévy
contra a situação em que nos encontramos, como se o homem fosse uma vítima injusta da ira da natureza. Tem todo o direito de pensar assim.
O seu livro é
muito interessante, mas que há ali uma birra há.
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Referências
Bernard-Henri Lévi, Este
Vírus que nos Enlouquece, Guerra e Paz, 2020.
Boaventura de Sousa Santos, A
Cruel Pedagogia do Vírus, Edições Almedina, 2020.
Peter Sloterdijk, Crítica da
Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011.
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