domingo, fevereiro 28, 2021

Um fogo sempre vivo

 Esta ordem do mundo [a mesma de todos] não a criou nenhum dos deuses, nem dos homens, mas sempre existiu e existe e há-de existir: um fogo sempre vivo, que se acende com medida e com medida se extingue.

Heraclito

in, Kirk, G.; Raven, J.; Schofield, M., Os Filósofos Pré-Socráticos, 6ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2008, p. 205

 

O fogo está na origem de todas as coisas. Não somos nós feitos do pó das estrelas? O fogo estará no fim de todas as coisas. Mas há quem anuncie um universo vazio e infinito em resultado de uma expansão incessante, em que as estrelas se perderão de vista e o céu dos mundos se tornará negro, sem pontos de luz. Um universo frio, uma solidão infinita.

 

Talvez nessa altura se construa uma abóbada virtual, a envolver o mundo, como num planetário, para que não nos sintamos sós. Um simulacro de céu estrelado.

***

Ontem no Japão foi empossado o Ministro da Solidão. Justamente no país do sol nascente. O país que ostenta o fogo da manhã na sua bandeira. A pátria dos hikikomori. Decerto muitos japoneses, nas suas cidades luminosas, perderam a capacidade de ver o céu estrelado. Vivem sós num mundo cada vez mais artificial, nas estruturas e nas relações.

 

É-se só em Tóquio. Uma cidade (área metropolitana incluída) de 30 milhões de habitantes. A maior cidade do mundo. Não deixa de ser uma ironia. É exactamente na multidão que se encontra a solidão.

É exactamente no Japão que se encontra a solidão.





domingo, fevereiro 21, 2021

Tempo suspenso


Tempo suspenso

Cavalo suspenso

Terreiro suspenso


Vivemos num tempo suspenso, 

à espera de outro tempo.

segunda-feira, fevereiro 15, 2021

Consenso

Numa urgência, tudo o que soa a demora exaspera.

Esperar por um consenso num mar de divergências para, por fim, tomar uma decisão, pode revelar-se, em certas circunstâncias, fatal.

Quando chega, finalmente, o momento da decisão, uma vez obtido o consenso, já as circunstâncias mudaram, já o barco afundou, já a floresta ardeu...O momento em que a decisão devia ter sido tomada ficou lá atrás.

A obtenção de consensos obriga muitas vezes a demoradas negociações na procura de cedências de parte a parte.

O líder, muitas vezes, decide só. É a ele que cabe a decisão. É a sua responsabilidade. E isto passa-se, principalmente, quando tem de decidir rapidamente. 

Nem sempre as decisões procedem de negociações.

Num momento de urgência não há pior do que um líder hesitante entre divergências, um líder que procura a negociação.

Num momento de urgência a acção impõe-se. Exige-se ao líder que assuma as suas responsabilidades nas horas difíceis, nas horas mais sombrias e decida. 

Que oiça e que decida, mas não perca tempo a negociar em busca de um consenso.

domingo, fevereiro 07, 2021

O Inverno do nosso descontentamento

 


Primeiro foi a Primavera do nosso descontentamento, depois o Verão do nosso descontentamento, ao qual se seguiu o Outono do nosso descontentamento.

 

O cinzento e frio Inverno do nosso descontentamento apresenta-se agora, no Terreiro do Paço, vazio no na sexta-feira sábado passado, cerca das 14:00.

 

Estamos quase a concluir um ano de descontentamento. Seria bom que concluíssemos mesmo. 


Já basta de descontentamento.


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