terça-feira, março 25, 2008

segunda-feira, março 24, 2008

Lá, onde o Douro se afunda...

Lá, nas altas escarpas onde os grifos nidificam e o Douro se afunda, sopra um vento seco e gélido ao entardecer. Paradoxalmente, em Portugal, conseguimos estar longe de Portugal. Sentamo-nos em silêncio numa rocha e escutamos o rumor das águas que em pequenas cascatas, entre amieiros e salgueiros, se dirigem do pequeno tributário para o rio principal e deste para o mar longínquo. Subimos a sinuosa calçada romana de Alpajares até ao castro, e lá do alto, alongámos o olhar. A paisagem é deslumbrante. Posteriormente aos romanos chamaram à calçada, “Calçada do Diabo”, facto que atesta o retrocesso civilizacional dos povos que lhes sucederam. A calçada foi obra de homens. Homens práticos e organizados, sem dúvida. Obra de romanos.

A morte de Deus

Para dizer a verdade, Deus morreu para poucos, muito poucos. Por certo, morreu para alguns iluminados dos nossos tempos, que muito sabem de Deus e dos homens. Deus morreu, afirmam com veemência, mas não se apercebem realmente, que foram eles que morreram para Deus. Se não, que percorram o mundo, não só o Ocidente, e questionem os homens acerca de Deus e da Sua certa morte. Que oiçam atentamente as respostas. Que viajem por África, pela América Latina, pela Ásia e também, porque não, que percorram as aldeias e vilas da Europa e falem com os homens acerca da morte de Deus.

O século XX foi chão fértil para uma ideia com raízes nos dois séculos precedentes, ideia essa que floresceu no jardim de alguns e que se fundou no fim do Absoluto. A relatividade na Física liga-se ao relativismo na Filosofia e nas Ciências Sociais. Tudo é relativo. Até o Absoluto se tornou relativo. Relativismo cultural... O fim das verdades absolutas… O fim dos axiomas... Uma contradição nos seus termos. Abomina-se, nalguns círculos intelectuais, o Absoluto.

Mas sem referenciais absolutos, sem referências, o Homem perde-se na dúvida. Até Descartes que tudo colocou em metódica dúvida teve de encontrar uma certeza, uma evidência que servisse de suporte a toda a sua estrutura filosófica: e a única certeza a que chegou foi a de que duvidava, ou que pensava que duvidava. Mas como diz Ortega y Gasset, a questão não dever ser “Eu penso logo existo”, mas sim, “Eu existo”.

O Homem para viver neste mundo precisa de referenciais, referências absolutas, caso contrário perde-se. O relativismo é o Caos.

Pois bem, Deus morreu, dizem-nos esses sábios iluminados. Aceitemos. Face a essa morte anunciada aos quatro ventos, o que têm agora a propor-nos? O vazio? O desespero? O Caos?

É que não basta proclamar assim sem mais a morte de Deus. Isso é fácil. É desistir da ideia de Deus. É cessar de O procurar.

Às vezes somos demasiado cegos às evidências que nos rodeiam. Não vemos o que é demasiado evidente, da mesma forma que não vemos o ar que respiramos ou sentimos o solo que pisamos, mesmo por baixo da sola dos nossos sapatos.

terça-feira, março 18, 2008

Olívia

Olívia brilhava entre as flores de Maio.
De fino recorte, os seus seios ondulavam como pradarias ao vento.
O mar dançava frente aos seus olhos e ela, chorava o seu amor distante.

Eu sou quem canta ao vento de passos titubeantes,
Embriagado de tanta liberdade.

Alegres cães brincam na estrada enquanto o Sol sobe no céu.
Próximo de Olívia uma sombra do poeta desenha uma canção.
Do cimo da falésia avistam-se veleiros deixando rastos de espuma.
Lembram-lhe o barco onde o seu amor partiu.

segunda-feira, março 17, 2008

Esta é a paisagem que trago comigo

Praia Verde, Algarve, 17 de Março de 2008

A paisagem é o que cada um traz consigo.

Ortega y Gasset (1915)

domingo, março 16, 2008

Ainda sobre estradas e poltronas - II

O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!


Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.


Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!


E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro
Do sai claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grecia, Roma, Christandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vae toda a edade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?


Fernando Pessoa, Mensagem

Ainda sobre estradas e poltronas - I

Uma vida em que nada é posto em questão, como dizia o filósofo Sócrates, não merece a pena ser vivida. É uma vida de gaiola. Uma vida que se parece com as águas paradas da superfície de um lago numa calma tarde de estio. Antes as revoltas águas do mar. Antes a estrada que a estalagem com as suas poltronas viradas à lareira. Partir, partir, partir…Porque “Ser descontente é ser homem” (Pessoa). É preciso ver o mundo antes que o mundo nos trague.

sábado, março 15, 2008

A Estrada

A estrada é sempre melhor do que a estalagem.
Cervantes

domingo, março 09, 2008

Manifestação

Pelas reacções dos governantes parece que uma manifestação da magnitude da dos professores já não basta. Perderam o respeito à rua.

Pelos vistos é preciso uma manifestação a lembrar as de Maio de 68, onde aos professores se juntariam os estudantes, os enfermeiros, os funcionários públicos, os operários, os descontentes com a política da saúde, os descontentes com a situação da justiça, os pobres e os sem abrigo, os desempregados e os endividados, os idosos e os marginalizados, enfim, uma manifestação com todos os descontentes deste mundo, e em particular, os descontentes com este neoliberalismo que nos sufoca.

Uma manifestação de fazer tremer a terra inteira, para que eles, os políticos que nos governam, tremam também. Uma Manifestação.

Por favor, não nos façam vir para a rua gritar.

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