segunda-feira, março 24, 2008

A morte de Deus

Para dizer a verdade, Deus morreu para poucos, muito poucos. Por certo, morreu para alguns iluminados dos nossos tempos, que muito sabem de Deus e dos homens. Deus morreu, afirmam com veemência, mas não se apercebem realmente, que foram eles que morreram para Deus. Se não, que percorram o mundo, não só o Ocidente, e questionem os homens acerca de Deus e da Sua certa morte. Que oiçam atentamente as respostas. Que viajem por África, pela América Latina, pela Ásia e também, porque não, que percorram as aldeias e vilas da Europa e falem com os homens acerca da morte de Deus.

O século XX foi chão fértil para uma ideia com raízes nos dois séculos precedentes, ideia essa que floresceu no jardim de alguns e que se fundou no fim do Absoluto. A relatividade na Física liga-se ao relativismo na Filosofia e nas Ciências Sociais. Tudo é relativo. Até o Absoluto se tornou relativo. Relativismo cultural... O fim das verdades absolutas… O fim dos axiomas... Uma contradição nos seus termos. Abomina-se, nalguns círculos intelectuais, o Absoluto.

Mas sem referenciais absolutos, sem referências, o Homem perde-se na dúvida. Até Descartes que tudo colocou em metódica dúvida teve de encontrar uma certeza, uma evidência que servisse de suporte a toda a sua estrutura filosófica: e a única certeza a que chegou foi a de que duvidava, ou que pensava que duvidava. Mas como diz Ortega y Gasset, a questão não dever ser “Eu penso logo existo”, mas sim, “Eu existo”.

O Homem para viver neste mundo precisa de referenciais, referências absolutas, caso contrário perde-se. O relativismo é o Caos.

Pois bem, Deus morreu, dizem-nos esses sábios iluminados. Aceitemos. Face a essa morte anunciada aos quatro ventos, o que têm agora a propor-nos? O vazio? O desespero? O Caos?

É que não basta proclamar assim sem mais a morte de Deus. Isso é fácil. É desistir da ideia de Deus. É cessar de O procurar.

Às vezes somos demasiado cegos às evidências que nos rodeiam. Não vemos o que é demasiado evidente, da mesma forma que não vemos o ar que respiramos ou sentimos o solo que pisamos, mesmo por baixo da sola dos nossos sapatos.

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