
Na Primavera há para os homens outra navegação propícia.
Quando pela primeira vez, qual a marca que a gralha
deixa, ao pousar, assim se tornem visíveis ao homem as folhas
na ponta dos ramos, então é navegável o mar.
Esta é a navegação da primavera. Mas eu não
a recomendo, pois não é grata ao meu coração:
imprevisível, a custo vais evitar a desgraça. Apesar disso,
os homens praticam-na, por ignorância de espírito,
pois a riqueza é a vida para os míseros mortais.
E é horrível morrer entre as ondas. Exorto-te, porém,
a meditar tudo isto em teu espírito, como te digo.
Não ponhas nas côncavas naus todos os teus haveres,
mas deixa a maior parte e embarca a pequena porção,
pois é duro encontrar a ruína sobre as ondas do mar;
duro também se, ao colocar sobre o carro peso excessivo,
partes o eixo, e resulta a perda da carga.
Guarda a medida; a ocasião é em tudo a melhor coisa.
Hesíodo, Trabalhos e Dias
Le Boulevard Montmartre, effet de nuit, 1897
As revoluções são como pedras lançadas à quieta superfície de um lago. Agitam-na, provocam ondas de choque e depois tudo volta a ser como dantes. As águas, passadas as ondas de choque, retornam ao seu sossego. Muitos acreditam nisto e propalam a inutilidade das revoluções. Mas os efeitos das revoluções dependem principalmente da dimensão da pedra que é lançada, ou da rocha, ou do meteorito que cai sobre as águas.

George Steiner ergue também a sua voz contra a rejeição da memória no sistema escolar. A memória é basilar relativamente aos processos de aquisição de conhecimento, suportando-os ou operando transversalmente aos mesmos: não existe conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação (os níveis cognitivos da taxonomia de Bloom), sem que a memória esteja presente em todos estes processos.
Surpreendem-se porque os jovens desconhecem o passado, em particular o que nos é mais próximo?! A falência da memória é um dos problemas mais diagnosticados nos sistemas educativos dos países ocidentais. Não é um problema da História, mas da desvalorização da memória e da memorização enquanto processo de ensino e de aprendizagem. Não existe educação sem memória. A História, a Geografia e outras ciências sociais fundamentais na formação do Homem, têm sido progressivamente remetidas para as margens dos currículos, cada vez mais preenchidos por “tralha pedagógica”, como as áreas curriculares não disciplinares. O jovem estudante superprotegido, super mimado nas sociedades ocidentais (talvez porque a população esteja a envelhecer e os jovens escasseiem, quem sabe), tem de ser acompanhado no seu estudo, qual aleijado mental, através de um Estudo Acompanhado. Antes vigorava o estudo desacompanhado. O jovem tinha de aprender por si próprio a ser autónomo, responsável e disciplinado nos seus hábitos, facto que não obscurecia necessariamente a sua salutar irreverência.