sábado, outubro 18, 2008

A nova condição do homem pós-moderno

Eis a nova condição do homem pós-moderno: escravo fiador. Escravo dos bancos e seu fiador. Ou será um servo da gleba roubado pelo seu senhor?

Momento publicitário

«Eu, já sou fiador do meu banco. E você?»

(Na zona Euro, agora somos todos fiadores. Mesmo que o não queiramos. É democrático!)

sexta-feira, outubro 17, 2008

O Devedor Fiador

«Acordei um dia destes e, pasme-se, descobri que era fiador de bancos com o aval do governo e o beneplácito da presidência.

Quando o Estado fia, fiamos todos.»

segunda-feira, outubro 13, 2008

A quem servem os que nos governam?

Em primeiro lugar, servem-se a eles mesmos: servem depois os seus partidos, o que significa que servem os financiadores da sua política e das suas campanhas eleitorais, grupos que detêm o poder económico e financeiro, grupos de interesses que, não estando no poder político, o querem condicionar, de forma a que se mantenha o status quo que assegura a sua dominância na sociedade.

O Estado e a intervenção pública nunca se opuseram à especulação financeira. Raramente o Estado protegeu o interesse da maioria dos cidadãos, sempre que este se confrontou com os interesses de poderosos grupos financeiros, dos especuladores e das multinacionais.

Após as eleições, rapidamente são esquecidas as promessas eleitorais e quem governa passa a decidir de acordo com os interesses dos poderosos que os apoiaram ou financiaram o seu partido na campanha eleitoral.

Os governos exigiram durante anos consecutivos, sacrifícios aos eleitores, aos contribuintes, preocupados, diziam, com a contenção do deficit orçamental. As suas políticas, diziam, eram principalmente determinadas pela preocupação em conter a despesa pública. Os serviços públicos deterioraram-se, alguns encerraram, outros perderam qualidade. Os serviços privados aproveitaram essa perda de qualidade para conquistarem novos mercados. E eis que, ao primeiro tropeção do sistema financeiro, à primeira aflição dos lucrativos bancos, chovem milhões de euros em seu apoio. O Estado português garante-lhes agora milhões, mais concretamente, 11,7% do PIB nacional! Aparecem milhões, como quem tira magicamente coelhos de uma cartola!

Os milhões de euros que vão ser injectados no mercado moribundo, para agrado dos especuladores, poderiam ter melhor aplicação: por exemplo, na construção de escolas, hospitais, estradas, formação e qualificação profissional, melhoria dos serviços públicos em geral, apoio aos desempregados, idosos e deficientes, no combate à pobreza, na melhoria do ambiente, na investigação científica, na redução da dependência energética, etc.

Em vez disso, apoiam-se os bancos e os especuladores financeiros.
Afinal, a quem servem os que nos governam?!

domingo, outubro 12, 2008

A quem servem os governos dos Estados?

Criticámos aqui, muitas vezes, as políticas neoliberais do Estado mínimo ou do “menos Estado, melhor Estado”, que vai dar ao mesmo. Contudo nem sempre a maior intervenção do Estado significa maior promoção da justiça social. Basta que, quem esteja ao leme, adopte políticas que favoreçam grupos minoritários poderosos, elites dominantes ou nomenklaturas instaladas, em desfavor da maioria dos cidadãos, que vai sendo dessa forma, desapossada pelos governos dos Estados. O processo é sempre o mesmo: as receitas dos impostos e o património do Estado são colocados ao dispor desses grupos em detrimento das necessidades da maioria. É que o “melhor Estado” do chavão dos neoliberais é o Estado que os serve. A isto chamam alguns empoderamento pelo desempossamento. Ocorre quando os governos colaboram no saque realizado à generalidade dos contribuintes e ao património do Estado, que é de todos os cidadãos, para o canalizarem para grupos sociais dominantes minoritários, concentrando a riqueza e aumentando o seu poder. Temos aqui portanto, uma crise de democracia (*).

(*) Também os nazis parasitaram a democracia para tomarem conta do Estado e o colocarem ao seu serviço (e ao serviço dos grandes empresários alemães da época). Como verdadeiros parasitas que foram, acabaram por matar o hospedeiro.

sábado, outubro 11, 2008

O que se seguirá?

Primeiro foi o imobiliário, depois os bancos e os seguros, agora a indústria automóvel, que já se ressente, fechando fábricas e despedindo operários. Que sector se seguirá?

Tal como em certos concursos de televisão, em que os vencedores que podiam escolher o prémio, desejavam a casa, e depois, assegurada a casa, passavam a solicitar o automóvel, e finalmente, assegurado tudo isso, passava a ser uma viagem o prémio mais desejado, assim são os sectores da economia real, afectados pela economia de casino.

Os sectores da economia real mais atingidos são os que estão relacionados com os produtos e serviços mais valorizados pela classe média e que esta agora sente dificuldade em comprar: as casas, os automóveis. Seguir-se-ão por certo, as viagens. Por fim serão os bens de consumo e os de primeira necessidade.

Instalam-se os cavaleiros do apocalipse da economia: a recessão, a falta de confiança nas instituições... Seguir-se-ão por certo, o desemprego e a inflação, esta desencadeada pela baixa das taxas de juro e pelas injecções maciças de dinheiro (liquidez) no mercado. É só aguardar que façam efeito as medidas desproporcionadas tomadas no momento de pânico.

O mercado livre e não intervencionado só funciona bem nos abstractos modelos dos livros de economia. Já não é credível. Os acólitos do neoliberalismo correm agora, pateticamente, em direcção ao Estado e gritam por planos salvadores que os retirem da alhada em que se meteram.

Apetece dizer: pois o sacro mercado livre que os salve! Desenrasquem-se!

segunda-feira, outubro 06, 2008

No money, no trust!

Afadigam-se os políticos em manter ou elevar a confiança dos consumidores. São agora cautelosos nas palavras, não vá a confiança resvalar. Estão a esquecer-se do essencial: a confiança dos consumidores é directamente proporcional ao volume das suas carteiras. Palavras, leva-as o vento.

Não existem consumidores confiantes, sem dinheiro. Não existem consumidores confiantes, com o desemprego no horizonte. Não existem consumidores confiantes, com trabalho precário. A confiança atinge-se com estabilidade e segurança, seja no trabalho, seja na vida.

As políticas prosseguidas até aqui minaram os fundamentos da confiança e conduziram-nos à actual crise. Grassa a desconfiança na economia, nos políticos e nos partidos. Tenhamos esperança em que a desconfiança não se instale em relação à democracia e à liberdade.

sábado, outubro 04, 2008

Derrocadas económicas: sinais

É curioso.

Pouco antes do colapso da economia soviética, as lojas estavam vazias de mercadorias e os consumidores faziam filas à entrada. Actualmente, com a crise da economia capitalista, as lojas estão repletas de mercadorias e vazias de consumidores.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Algo mais que uma crise financeira

Reportar a conjuntura económica actual a uma crise financeira é considerar a questão com demasiada superficialidade. É necessário cavar mais fundo e afastar o pó do pânico bolsista, para que se possam vislumbrar os verdadeiros fundamentos da crise, ou a crise que se esconde por detrás da crise.
Por outras palavras, é necessário ir à origem do verdadeiro problema. E na origem da crise, o que encontramos? Por um lado, aqueles que contraíram empréstimos para a aquisição de uma residência, e que, por vicissitudes várias, não foram capazes de satisfazer os seus compromissos junto dos credores. Por outro lado, os credores sobrestimaram a capacidade de endividamento daqueles a quem concederam empréstimos e que, por vicissitudes várias, acabaram por não receber as prestações que lhes eram devidas. Ora temos aqui um problema de avaliação e de vicissitudes várias, e não de “produtos tóxicos”, como agora alguns lhes chamam para sua conveniência.

O problema reside portanto nas “vicissitudes várias” e não nos mercados financeiros que se limitaram a receber e reflectir as ondas de choque de uma crise mais profunda. E que vicissitudes várias são essas? A perda de capacidade aquisitiva da maioria das famílias e dos consumidores, num sistema económico que sempre se organizou em torno do consumo e da capacidade de consumir.

Quando Henry Ford começou a produzir em série o modelo “Ford T”, engenhosamente, fê-lo a um custo suficientemente baixo para que os seus próprios operários pudessem adquirir o automóvel que estavam a produzir. E o “Ford T” vendeu-se bem para os padrões da época.

Em 1929, a crise foi de superprodução. E embora inicialmente houvesse capacidade aquisitiva, a oferta rapidamente ultrapassou em muito a procura e a crise desencadeou-se.

Actualmente, a crise coloca-se na perda de capacidade aquisitiva da maioria das famílias nos países desenvolvidos, ou seja, há oferta quanto baste, mas a procura está a minguar. Resultado: o escoamento da produção não se faz, porque não há quem a compre. O sector do mercado imobiliário foi o primeiro a ressentir-se, com repercussões no sistema financeiro. Seguir-se-ão os outros sectores da actividade económica.

Ao fomentar a concentração da capacidade aquisitiva em poucos, em detrimento da maioria, o actual sistema económico capitalista (e existem muitas formas de capitalismo) torna-se autodestrutivo e antidemocrático. E ainda que poucos tenham uma grande capacidade aquisitiva, não têm capacidade nem necessidade de consumir tudo o que se produz.

Com o actual sistema económico, capitalista neoliberal, vai engrossando a multidão daqueles que perdem poder de compra, dessapossados, endividados e incumpridores, ao mesmo tempo que a riqueza e o poder se vão concentrando nas mãos de poucos, cada vez mais poderosos, mas incapazes de alimentar um sistema económico que se baseou sempre no consumo de massa.

Pode portanto continuar a produzir-se e a colocar-se à venda no mercado os mais diversos artigos, produzidos a baixo custo em fábricas longínquas, mas está a chegar o dia em que as lojas estarão cheias de produtos e vazias de consumidores. É que já não haverá cá ninguém com capacidade para comprar.

Não são apenas os mercados financeiros que estão em crise, mas sim, o sistema económico capitalista e neoliberal.

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