O cão do novo Imperador é português!Hurra! Hurra! Hurra!
Chama-se Bo! Hurra!
Para mais Bo, veja o Caderno do Saramago!
(Este não é o Bo, mas é um cão-d'água português!)
O cão do novo Imperador é português!
Aos poucos reforça-se em mim a ideia de que realmente somos anões empoleirados nos ombros de gigantes e por isso o nosso olhar alcança mais longe e vislumbra outros horizontes mais vastos. Ontem ao abrir ao acaso um livro recentemente adquirido do Filósofo Séneca, eis que deparo com ela: a Educação. Não resisto por isso a publicar o dito excerto em que o Filósofo responde ao seu amigo Lucílio, e, ao mesmo tempo, ao que parece ser, ao seu alter-ego, que o confronta com o facto de regressar à escola na sua velhice. Reza assim:
Um velho axioma keynesiano da Economia, se assim o podemos chamar, determina que numa economia simples o investimento é também igual à poupança. Numa economia ligeiramente mais sofisticada os investidores financiam o seu investimento através do recurso a empréstimos de indivíduos que poupam (Dornbush, Fisher, Startz, 1998). Logo, para que o equilíbrio se mantenha e para que a identidade seja satisfeita, o crédito concedido deve igualar a poupança. Nas sociedades de consumo, fundadas cada vez mais no crédito ao consumo, esta premissa deixou de se verificar. Os indivíduos passaram a afectar a maior parte do seu rendimento, se não todo, ao consumo. O crédito concedido deixa de ter correspondência com a poupança. Os bancos, contudo, em vez de apelarem à poupança, continuam no entanto a apelar à contracção de crédito aumentando o desequilíbrio no “sistema”económico. O crédito concedido passa então a fundamentar-se, não nas poupanças, mas na produção de dinheiro nas rotativas dos bancos centrais e no endividamento dos estados. Mas esse crédito tem de ser ressarcido através de um acréscimo do investimento. Tem de haver crescimento económico. E o que faz o investidor? A necessidade aguça o engenho. O investidor vira-se para o mundo e parte em busca do capital necessário ao pagamento do juro e que lhe garanta simultaneamente o lucro que almeja. É desta forma que florestas inteiras desaparecem no Paraguai para darem lugar a vastas extensões de campos de soja: os desertos verdes.
«Os europeus de 1500 não são mais ávidos, nem mais cruéis, nem mais capazes do que qualquer linhagem antes deles. Mas têm um gosto pelo risco – quer dizer, têm mais desejo de conceder crédito, do lado dos credores, e estão mais dependentes do crédito do lado dos devedores, o que corresponde a uma mudança de paradigma económico, que passa da exploração antiga e medieval dos recursos a economias mais fundadas no investimento. Com este tipo de acção económica, a ideia dos juros a pagar dentro do prazo é convertida em assunções de risco práticas e em invenções e técnica. A empresa é a poesia do dinheiro. Tal como a necessidade aguça o engenho, o crédito estimula a empresa.
«Com efeito, poucas grandes expedições, seja de helenos, seja de bárbaros, quando efectuadas contra lugares muito distantes das cidades que as empreendem foram bem sucedidas.»
Três anos de neoliberalismo e um para tirar apressadamente o “socialismo” da gaveta, que os tempos mudaram. São estes os nossos “socialistas” e o seu “socialismo” já bichoso de tanta traça.
O desemprego alastra como uma peste e nós agora, nem sequer podemos abandonar a cidade e procurar lugares mais sadios, como noutros tempos. A praga é geral. Eis o fruto do capitalismo tardio, essa forma de organização económica e social que já nos trouxe paz, prosperidade e segurança, em tempos idos, quando tinha sido corrigido nas suas crises cíclicas, após a de 1929. Chegados os anos 70 do século XX, apagou-se a memória, abraçou-se o neoliberalismo e o monetarismo. Resultado: voltámos às velhas crises cíclicas. Os governantes dos países desenvolvidos estão em pânico: já não conseguem assegurar os interesses dos poderosos que os colocaram nos governos dos Estados. Utilizam agora os contribuintes como fiadores e transferem avultadas quantias para esse buraco negro, insaciável e ganancioso, que se tornou o mundo da alta finança e da especulação bolsista.