terça-feira, dezembro 28, 2010

Não tenham medo!

«Começámos uma época de medo. A insegurança voltou a ser um ingrediente activo da política nas democracias ocidentais. Insegurança gerada pelo terrorismo, é claro; mas também, e mais insidiosamente, medo do ritmo incontrolável da mudança, medo de perder o emprego, medo de perder terreno para os outros numa redistribuição de recursos cada vez mais desigual, medo de perder o controlo das circunstâncias e rotinas da nossa vida diária. E talvez, sobretudo, medo de que talvez não sejamos só nós que já não conseguimos moldar as nossas vidas, mas que também que quem manda tenha perdido o controlo, para forças fora do seu alcance.»

Toni Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010, p. 203

Ao ler este trecho do excelente texto de Tony Judt, escrito no ano da sua morte, lembrei-me das palavras de João Paulo II, no discurso inaugural do seu pontificado: “Não tenham medo!”. Actual, portanto. Se nos querem amedrontar, sejamos bravos e corajosos. Oponhamos a coragem ao medo. Agora, mais do que nunca.

Coragem contra a repressão. Coragem contra a opressão. Coragem contra a reacção, agora mais forte do que nunca. Coragem contra a supressão do debate democrático. Coragem contra esta política do medo. Coragem para questionar este caminho único que nos querem impor. Coragem para viver.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Com que então não há alternativa*?!

«A dinâmica inelutável da competição e integração económica global tornou-se a ilusão da nossa era. Como Margaret Thatcher uma vez explicou: Não Há Alternativa(p. 182).

«Mas tal como as instituições intermédias da sociedade – partidos políticos, sindicatos e leis – dificultavam os poderes de reis e tiranos, também o próprio Estado democrático pode agora ser a principal ‘instituição intermédia’: situada entre os cidadãos impotentes e inseguros e companhias ou agências internacionais insensíveis e inimputáveis. E o Estado – ou pelo menos o Estado democrático – conserva uma legitimidade única aos olhos dos seus cidadãos. Só ele responde perante estes, e estes perante ele.» (p. 184)

Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010

Em democracia há sempre alternativa! E os governos têm duas: ou se colocam ao lado “dos cidadãos impotentes e inseguros” ou passam a servir as “companhias e agências internacionais insensíveis e inimputáveis”, ou por outras palavras, passam a servir os “mercados financeiros ” não democráticos. Se escolherem este segundo caminho, como parece que está a acontecer, então os cidadãos serão obrigados, mais tarde ou mais cedo, a encostar os governos à parede.

É claro que são duas alternativas polares, e os governos podem ainda escolher uma intermédia, mas toda a alternativa que se afaste da defesa dos direitos dos cidadãos e aponte para o desmantelamento do Estado-providência, é uma alternativa que se afasta da democracia.

domingo, dezembro 26, 2010

O progresso

«Foi uma proeza notável do Iluminismo unir categorias morais clássicas a uma visão secularizada do aperfeiçoamento humano: numa sociedade bem ordenada, os homens não se limitariam a viver bem, mas lutariam por viver melhor do que no passado. A ideia de progresso entrou no vocabulário ético e dominou-o durante grande parte dos dois séculos seguintes. Ainda hoje nos chegam ecos desse optimismo inocente, quando os Americanos falam entusiasticamente de 'reinventar-se'. Mas à excepção das ciências naturais, será que o progresso ainda é um relato credível do mundo que habitamos?»

Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010, pág. 173-174.

Se o progresso é a bomba atómica, então estamos falados quanto ao progresso.

E não me falem mais em progresso! Seus babuínos!

terça-feira, dezembro 21, 2010

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Quando o “terceiro mundo” acordar

Um polícia persegue uma operária de uma fábrica de roupas que se manifestava com outras em Dhaka, no Bangladesh. Exigiam aumentos salariais.

Esta imagem, de 13 de Dezembro, é mais um sinal do início de uma nova Era. Uma Era em que os trabalhadores dos países em desenvolvimento se tornam reivindicativos e conscientes da exploração que lhes é movida pelas multinacionais e pelos capitalistas, ávidos de lucro.

É certo que o Estado e os seus governantes, corruptos e corrompidos, ao serviço dos interesses dos capitalistas e das multinacionais, pode enviar a polícia para bater nos trabalhadores, os mesmos trabalhadores que, com as suas contribuições e impostos, pagam o salário dos polícias. Mas, a pressão reivindicativa será imparável.

Quando essa pressão se tornar insuportável, para onde fugirá o capital então? Para África? Regressará ao Ocidente?

Onde irá procurar a mão-de-obra barata?

domingo, dezembro 12, 2010

Grandes aberturas: Moby Dick


Tratem-me por Ismael. Há alguns anos – não interessa quando – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e, principalmente, quando a neuroastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar os chapéus a todos os transeuntes que encontro na rua – percebo que então chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio. Onde, com um gesto filosófico, Catão se lança sobre a espada, eu, tranquilamente, meto-me a bordo. E não há nisto nada de extraordinário. Embora inconscientemente, quase todos os homens sentem, numa altura ou noutra da vida, a mesma atracção pelo oceano.”

Herman Melville, Moby Dick, Relógio D’Água

A leitura do grande romance de Melville, começa com um embarque. O embarque de Ismael? Não! O nosso embarque com Ismael. É com ele que embarcamos para a grande viagem, rumo ao desconhecido. É com ele que fugimos à vida quotidiana, à depressão e ao cansaço mental e zarpamos num estranho navio. E de repente o desconhecido não é só o que o oceano oculta para lá do horizonte e abaixo da linha das suas águas, nos abismos profundos. É também o próprio navio onde embarcamos e a sua estranha tripulação. E assim, aos poucos, vamos penetrando não só no oceano, mas também no navio, e nos mistérios de uma tripulação comandada por um homem obstinado, disposto a navegar em todos os mares do mundo. E com ele perseguimos a baleia que lhe foge e lhe torna a aparecer, quando menos se adivinha, investindo numa ira sem fim.

sábado, dezembro 04, 2010

Que me perdoe o Alegre mas…

...não é tempo para nos alegrarmos, e muito menos para nos encavacarmos. E que me desculpe o Lopes das nomenklaturas.

É tempo de nos enobrecermos.

O Alegre que me perdoe, mas votarei no Dr. Fernando Nobre.

  • Ele não é político.

  • Ele é um dos portugueses mais ilustres e notáveis da actualidade, um homem de qualidade.

  • Ele tem provas dadas no seu campo, ou seja, na área do auxílio humanitário e na ajuda ao próximo.

  • É um homem genuinamente sensível às causas sociais, longe de o ser por parecer bem ou por motivos eleitoralistas

  • A sua área política é suficientemente alargada: vai da esquerda à direita.

  • É genuíno e verdadeiro, fala a verdade ao contrário de Cavaco que mente quando diz que fala a verdade, pois de seguida afirma que não é político, sendo um dos políticos há mais tempo no activo na nossa praça.

  • Além disso confiaria em Fernando Nobre, se tivesse que lhe comprar um automóvel em segunda mão, ao contrário dos outros candidatos.

quinta-feira, novembro 11, 2010

É preciso pô-los a correr

Ou por outras palavras: é preciso correr com eles. E para bem longe.

Escumalha política!

terça-feira, novembro 09, 2010

A resposta dos “mercados”.

Ora aí está a resposta dos “mercados” aos cuidados dos políticos, que se esforçaram por chegar, contrariados, a um acordo para a viabilização do orçamento, (só para agradar aos “mercados”): os juros da dívida pública atingiram os 7%. Este facto demonstra que os “mercados” são, realmente, sensíveis (!) ao comportamento dos políticos…e continua a especulação, como se nada fosse.

A questão é que não se trata de “mercados”, mas de especulação financeira. São os especuladores senhores, são os especuladores…

No passado o financiamento da economia baseava-se na poupança. Diz a boa lei keynesiana que investimento é igual a poupança. Actualmente a economia financia-se junto dos mercados especulativos. Actualmente, o investimento é igual a endividamento e o endividamento é galopante. É a economia do crédito.

Por que não se retorna à economia da poupança? Por que razão os governos não desenvolvem medidas que fomentem a poupança em vez do crédito e do endividamento?

O Presidente Cavaco Silva já veio em defesa dos “mercados”: que não faz sentido agora atirar pedras aos “mercados”, diz ele. Mas o problema não está em questionar os “mercados”. O problema está naqueles que nos dirigem continuarem a tratar os “mercados” como se fossem deuses que é preciso aplacar, com sacrifícios cada vez maiores, quais molochs insaciáveis.

Etiquetas