sexta-feira, setembro 21, 2012

Le parole sono importanti!

Bancadas vazias


Hoje o debate na Assembleia decorreu com as bancadas da assistência vazias. Consta que por razões de segurança, foi vedada a entrada ao comum dos cidadãos.

Mal estamos quando o povo não pode estar presente na Casa da Democracia.

Algo começa a cheirar mal, e não é no reino da Dinamarca. É a IIIª República a apodrecer.

quinta-feira, setembro 20, 2012

Uma espécie de metamorfose*


Às vezes penso que, por este andar, um dia, nós, os contribuintes, acordaremos surpreendidos ao constatar que fomos todos privatizados.

À socapa, como de costume, um dos magos do governo terá a ousada ideia de privatizar os contribuintes, por falta de haver mais o que privatizar. Privatizará pois os contribuintes, porque não? Magnífica ideia, pensará ele! Vende o país por inteiro. Passaremos todos a contribuir então, todos, sem excepção, para alguma China ou alguma Angola que nos compre. Pode ser que nos comprem. (Será que nos compram?)

A estes que agora nos governam, a história os julgará: provavelmente, os coveiros de Portugal, os que nos venderam, os que nos enterraram. (Claro, isso só se deixarmos).

A propósito, ouvi este Verão no rádio do automóvel a notícia de que em Guimarães iria realizar-se o funeral de Portugal. Fiquei a ruminar naquilo por uns instantes enquanto conduzia assaltado pela estranha sensação de que Portugal afinal já morrera e que nós estaríamos a viver equivocados, convencidos de que o país ainda existia.

Não foi o sociólogo António Barreto que, há menos de um ano, que lhe augurou um fim? AQUI.

(Malhas que o Império tece!)

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(*) No romance A Metamorfose de Kafka, Gregor Samsa acorda surpreendido ao ver-se transformado num insecto rastejante.

segunda-feira, setembro 17, 2012

A mensagem

«Passos Coelho já perdeu esta luta porque já perdeu todas. A própria "chamada" de Cavaco Silva a Vítor Gaspar ao Conselho de Estado, tornada pública, é um atestado de menoridade e um insulto ao primeiro-ministro. Cavaco chamou "quem sabe" e quem sabe é Gaspar. É esta a mensagem.» (Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios).

Aqui.

sábado, setembro 15, 2012

Portugal na rua


Os actos valem mais do que as palavras. Hoje Portugal manifestou-se. Eu também.

domingo, setembro 02, 2012

Civilização e barbárie


George Steiner, mais do que uma vez, questiona-se e questiona-nos: como foi possível que as universidades, os museus, os teatros, as bibliotecas, os centros de investigação, as ciências e as humanidades, tenham prosperado na proximidade dos campos de concentração? Como foi possível que tal grau de civilização tenha convivido, lado a lado, com tal grau de barbárie?

Pois bem, quem se passeia pelo Palatino, pelos Fora Imperiais e pelo Coliseu, esse colosso inaugurado em 80 d.C. com pompa e circunstância - 100 dias de circo ininterrupto, com a chacina espectacular de todo o tipo de bichos e depois cristãos – não deixa de se colocar a mesma questão. Como foi possível que a mesma civilização que produziu um Virgílio, um Séneca, um Cícero, entre muito outros gigantes, tenha produzido aquilo? O Coliseu não era um campo de concentração, não era uma fábrica de morte, é certo, mas não deixava de ser um circo de morte, onde a chacina se convertia em espectáculo. De lembrar ainda que o Coliseu não era único - era o maior de muitos circos espalhados pelas cidades do Império.

Por baixo da fina película de civilização daquela época escondia-se uma civilização esclavagista e sanguinária que não permitia quaisquer veleidades aos escravos e muito menos aos escravos revoltosos – 6 000, comandados pelo revoltoso Spartacus, foram crucificados ao longo da via Ápia, só para dar o exemplo.

Analisando as histórias do mundo, assim como o mundo no presente, não nos deixamos de questionar: que estranha correlação é essa entre a civilização e a barbárie? Será que um elevado grau de civilização tem sempre de conviver com um elevado grau de barbárie? Tem de ser mesmo assim?

A decadência da cultura


Há muito que se ouvem lamentos oriundos de vários quadrantes, anunciando a decadência da cultura ou até o fim de um certo tipo de cultura. O primeiro que ouvimos foi o de Alexis de Tocqueville, esse aristocrata que percorreu a América nos tempos da jovem democracia e que, perspicazmente, observou: “A democracia não somente faz estender o gosto pelas letras às classes industriais; ela introduz o espírito industrial no seio da literatura.» Progressivamente, o espírito industrial e mais tarde, o comercial, invadiu todas as áreas da cultura, tendo contribuído para o seu ocaso. Hoje é o mercado que determina o que se constitui como um “valor” no campo cultural. Este facto resultou numa completa inversão de valores e numa cultura comercializada e massificada, nivelada por baixos padrões de qualidade.


Lamentos pela decadência da cultura (entradas por ordem cronologica):

Ortega y Gasset, José (1934), El Tema de Nuestro Tiempo

Theodore Adorno, Max Horkheimer (1944), “The culture industry: Enlightenment as mass
deception” in Gunzelin Schmid Noerr (ed.), Dialectic of Enlightenment: Philosophical Fragments, pp. 94–136

T. S. Eliot (1948), Notes Towards the Definition of Culture [Notas para uma Definição de Cultura. Edições Século XXI, 1996]

Guy Debord (1967), La Société du Spectacle [A Sociedade do Espectáculo. Antígona, 2012]

George Steiner (1971), In Bluebeard’s Castle. Some Notes Towards the Redefinition of Culture. [No Castelo do Barba Azul. Algumas notas para a redefinição de cultura, Relógio D’Água, 1988]

Allan Bloom (1987), The Close of the American Mind [A Cultura Inculta: Ensaio sobre o declínio da Cultura Geral, Publicações Europa-América, 1987]

Jacques Barzun (2000), From Dawn to Decadence: 500 Years of Cultural Triumph and Defeat. 1500 to Present [Da Alvorada à Decadência. De 1500 à Actualidade. 500 Anos de Vida Cultural do Ocidente, Gradiva, 2003]

Mário Vargas Llosa (2012), La Civilizatión del Espectáculo


[A lista irá sendo acrescentada, à medida que novas leituras sobre o assunto o justifiquem. No prelo: Ortega y Gasset (1925), La  deshumanizacion del arte]

sexta-feira, agosto 31, 2012

Llosa, sobre o sexo e o erotismo


«No domínio do sexo a nossa época experimentou transformações notáveis, graças a uma progressiva liberalização dos antigos preconceitos e tabus de carácter religioso que mantinham a vida sexual dentro de um cerco de proibições. Neste campo, sem dúvida, o mundo ocidental tem sofrido progressos com a aceitação das uniões livres, a redução da discriminação machista contra as mulheres, os gays e outras minorias sexuais que pouco a pouco vão sendo integradas numa sociedade que, por vezes a contragosto, começa a reconhecer o direito à liberdade sexual entre os adultos. Ora bem, a contrapartida desta emancipação sexual tem sido, também, a banalização do acto sexual, que para muitos, sobretudo nas novas gerações, se converteu num desporto ou passatempo, uma tarefa compartilhada que perdeu importância, e por acaso menos que a ginástica, a dança e o futebol. Talvez seja saudável, em matéria de equilíbrio psicológico e emocional esta frivolização do sexo, ainda que nos deveria levar a reflectir no facto de que, numa época como a nossa, de notável liberdade sexual, inclusive nas sociedades mais abertas, não tenham diminuído os crimes sexuais, e por acaso até, tenham aumentado. O sexo light é o sexo sem amor e sem imaginação, o sexo puramente instintivo e animal. Desafoga uma necessidade biológica, mas não enriquece a vida sensível nem emocional, nem estreita a relação do par mais do que a “mistura” carnal; em vez de libertar o homem e a mulher da solidão, passado o acto peremptório e fugaz do amor físico, devolve-os a ela com uma sensação de fracasso e frustração.
O erotismo desapareceu, ao mesmo tempo que a crítica e a alta cultura. Porquê? Porque o erotismo, que converte o acto sexual em obra de arte, é um ritual que a literatura, as artes plásticas, a música e uma refinada sensibilidade impregnam de imagens de elevado virtuosismo estético, é a negação de esse sexo fácil, expeditivo e promíscuo no qual paradoxalmente desembocou a liberdade conquistada pelas novas gerações.»

Mario Vargas Llosa, La Civilizatión del Espectáculo, 3ª ed., Alfaguara, 2012, pág. 52-53
(traduzido por AMCD)

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No original:

quinta-feira, agosto 30, 2012

A lógica do saqueador do pote


Quando já nada há que valha no pote alheio, vende o pote.

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