quinta-feira, dezembro 27, 2012

Tungurahua

AFP PHOTO / RODRIGO BUENDIA

quarta-feira, dezembro 26, 2012

A Tomada de Posse


«Senhor Presidente do Ministério:

Duas palavras apenas, neste momento que V. Exa., os meus ilustres colegas e tantas pessoas amigas quiseram tornar excepcionalmente solene.

Agradeço a V. Exa. o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado no voto unânime do Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu. Não tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao meu País como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.

Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as condições dum trabalho eficiente. V. Exa. dá aqui testemunho de que o Conselho de Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento. Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:

a) que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;

b) que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;

c) que o Ministério das Finanças pode opor o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e às despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis;

d) que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios uniformes.

Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida económica nacional.»

(Excerto do Discurso de Tomada de Posse como Ministro das Finanças de Salazar, 1928)
(os sublinhados são nossos)

***

Foi o Salazar. Bem podia ter sido o Gaspar. Repare-se no primado das Finanças sobre a Economia, melhor, no primado das Finanças sobre tudo.

Bem-vindos ao admirável mundo novo! Ou será novo Estado Novo?
_______________________________

Referências:

Manuel Robalo; Miguel Mata; 50 Grandes Discursos da História, Edições Silabo, 2011, pp. 69-70.

O discurso pode ser lido na íntegra AQUI.

A Cama Quente

Homenagem aos mineiros do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema de «a cama quente»

Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.

Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas, primeiro,

enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.

Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.

Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis

como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão

e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!

É a este sistema, minha gente,
que se chama no Chile «a cama quente»…

(poema de Alexandre O’Neill, 1975)

Do chão levantado


Vim do povo chão,
Mas do chão levantado.

                                AMCD

domingo, dezembro 23, 2012

Feliz Natal

    Raffaello Sanzio, Madonna con il Bambino, c. 1503.

O mais perfeito e simples Ave Maria de todos. O melhor, sem rocócós, sem instrumentos... Apenas a voz humana soa, brilhante, límpida, pura... Puro Mozart.

(clique na imagem para ver o quadro completo)

sábado, dezembro 22, 2012

Boas-Festas


Já os dias se abrem, cada vez maiores, e a luz começa a conquistar as sombras e a escuridão. Avançam já a "passinhos de pardal" para o equinócio primaveril, mas são ainda dias solsticiais.


Boas-Festas a todos os que por aqui passam.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Faleceu o Professor Simões Lopes (1934 – 2012)

Foi um privilégio e uma honra ter sido seu aluno no ISEG, quando uma vez por lá frequentei um curso de pós-graduação. Aprendi com ele, e muito. Economia Urbana e muito mais. As suas prelecções eram para mim um prazer. Os seus ensinamentos ainda me servem na vida profissional que levo. Já o citei, por vezes, aqui.

Remeto ainda para o blogue Ladrões de Bicicletas, onde os seus colegas economistas lhe prestam homenagem e pelo qual tive notícia do seu falecimento.

Que descanse em paz.

O fim do mundo já começou

Finda desde o dia em que se formou.


Inverno de Portugal


Inverno,
Eterno inferno.

E se te disser que folheei as Poesias Completas
d’O’Neill à procura da palavra “Inverno” para
escrever um poema neste mural e não encontrei?

Seria muito a propósito, não?
Hoje, no dia do solstício de Inverno…
Que pretensão a minha, querer escrever
um poema de O’Neill, sem o conhecer.

Inferno,
Eterno Inverno

O’Neill não era dado a contemplar os céus,
Quanto mais as celestiais estações.
Preferia esgueirar-se por entre as gotas de chuva,
fosse Inverno, fosse Verão.

O’Neill era de Lisboa, e os de Lisboa não são muito dados a olhar o céu,
Excepto os poetas e os loucos.
Todo o movimento nos desvia o olhar.
É preciso estar atento, nas cidades, em particular.
Mas O’Neill não só era de Lisboa, como era poeta.

O’Neill estava atento.
Atentava, porém, em tudo o que se movia, em tudo o que se mexia.
Escapou-lhe o Inverno.
Ou escapou-me a mim, na sua completa poesia.

Mas por que diabo O’Neill se haveria de preocupar com o Inverno, esse lugar-comum?
Esse Inverno de Portugal?

Inverno suave,
Ditoso Inverno, sempiterno Inverno.

Os gélidos dias partirão: adeus!
Até à Primavera,
Até ao Verão.

                                             AMCD

Etiquetas