sábado, março 16, 2013

O “corralito” cipriota e a Primavera



A questão que cada vez mais se coloca é a seguinte: para quando uma Primavera Mediterrânica? A continuarem assim as “políticas de austeridade” e a miopia política dos dirigentes, será apenas uma questão de tempo. A outra, a Primavera Árabe, começou quando Mohamed Bouazizi se imolou pelo fogo. Quase todo o sul do Mediterrâneo, de Tunes a Damasco, se agitou e agita ainda nalguns lugares. Só faltava agora que outro fogo de Primavera alastrasse aos países da margem norte do “Mar no Meio da Terra” pelos quais já passa a linha de demarcação da pobreza. E assim, num ápice, passámos do Norte ao Sul do mundo, na geografia flexível da globalização.

Chegaram os "corralitos".

No bom caminho



É a "constância na persistência", diz o ministro Gaspar.

Enfim, isto já nem tragédia é. É uma trágico-comédia à qual é preciso pôr termo o mais rapidamente possível.

sexta-feira, março 15, 2013

O pensamento económico encurralado


Uma agenda económica para o crescimento, eis a solução, dizem eles (Barroso incluído). Todos eles. Da direita à esquerda (deixemos agora a hemiplegia moral do Ortega y Gasset). Até a esquerda se deixou encurralar pelo pensamento do crescimento-económico-que-não-vem-e-que-é-preciso-que-venha-para-que-se-gere-emprego. Primeiro crescimento, depois emprego. O crescimento precede sempre o emprego nos discursos dos políticos e da ortodoxia económica vigente. Aguardamos portanto o crescimento que não vem, como quem aguarda por Dom Sebastião. Eis onde está o actual pensamento económico encurralado. O mesmo reduto do qual não conseguia sair no final dos anos 20 do século passado. O resultado é conhecido: a Grande Crise Económica de 1929, com prolongamento na década seguinte.

Como é que se sai deste reduto de pensamento?

Pois bem, e sem mais delongas: ao invés de uma agenda económica para o crescimento, é necessária uma agenda social para o emprego. A criação de emprego em primeiro lugar. O crescimento económico que venha depois.

Na realidade, o grande desafio dos tempos que atravessamos consiste na criação de emprego em contexto de recessão. Soa a quimera, não?! A verdade é que o crescimento por si só, não é garante de criação de emprego, como muitos nos querem fazer crer.

Houve épocas, na história, em que o crescimento não foi acompanhado pela geração de emprego. Houve épocas em que foi o emprego o gerador do crescimento.

segunda-feira, março 11, 2013

sábado, março 09, 2013

É uma escola sob uma ponte

Altaf Qadri / AP
Uma escola sob uma ponte. AQUI.

Da mesma forma que um antigo general grego afirmou, e bem, que uma cidade são os seus cidadãos, podemos afirmar que a essência da escola são os seus alunos e professores e as relações pedagógicas que entre eles se estabelecem. Ou melhor, a essência da escola é a relação entre quem aprende e quem aprende. Todos aprendem. Aprende-se a aprender e aprende-se a ensinar.

É uma escola sem dúvida. Não é a Escola de Atenas, mas é uma escola. Podia ser à sombra de uma árvore, numa palhota ou numa praia...

Platão, contudo, fundou a Academia num lugar mais aprazível, mais dado à reflexão, numa área arborizada nos arredores de Atenas, junto ao túmulo de Academo.

Já esta escola está muito distante de Atenas, embora exista uma ténue ligação entre elas.

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P.S. - Levado ao extremo, este é o sonho dos neoliberais que nos governam: uma escola livre, sob uma ponte, sem quaisquer custos para o Estado.

O comandante embalsamado


Pobre comandante idolatrado,
O teu corpo, embalsamado,
E não em cinzas cremado
e no Orinoco libertado.
(Como por certo desejarias)
Ou simplesmente, sepultado.

Que gente é esta que idolatra restos mortais
Como se isso importasse mais que imorredouros ideais?
(Que por certo defendias)

Ignaros é o que são!

O teu corpo já serviu
E brilho já não tem.
Será apenas uma imagem,
Exibida à passagem
Numa urna de cristal.

Para sempre exposto num mausuléu
Para consumo de massas e romarias,
E turistas noutros dias.

É o culto da imagem.
E ainda lhe chamam homenagem...

Triste fado,
O do comandante empalhado.

terça-feira, março 05, 2013

Da legitimidade

As political systems develop, recognition is transferred from individuals to institutions—that is, to rules or patterns of behavior that persist over time, like the British monarchy or the U.S. Constitution. But in either case, political order is based on legitimacy and the authority that arises from legitimate domination. Legitimacy means that the people who make up the society recognize the fundamental justice of the system as a whole and are willing to abide by its rules. In contemporary societies, we believe that legitimacy is conferred by democratic elections and respect for the rule of law.


Francis FukuyamaThe Origins of Political Order: From Prehuman Times to the French Revolution, Farrar, Straus and Giroux2011, p. 56 

Tradução livre:

«À medida que os sistemas políticos se desenvolvem, o reconhecimento é transferido dos indivíduos para as instituições – ou seja, para regras e padrões de comportamento que persistem no tempo, como a monarquia britânica ou a Constituição americana. Mas em ambos os casos, a ordem política é baseada na legitimidade e na autoridade que brota da dominação legitimada. Legitimidade significa que as pessoas que compõem a sociedade reconhecem a justiça fundamental do sistema no seu todo e estão dispostas a respeitar as suas regras. Nas sociedades contemporâneas, acreditamos que a legitimidade é conferida por eleições democráticas e pelo respeito pelo Estado de Direito.»

***

A legitimidade de um governo deixa de existir quando se estabelece um estado de excepção infundado aos olhos dos cidadãos, em detrimento do Estado de Direito, ainda que esse governo se tenha constituído pela via de eleições democráticas. O desrespeito por direitos e garantias constitucionais por parte de um governo é motivo suficiente para que se considere que este tenha perdido a legitimidade.

Hasta siempre, Comandante Hugo Chávez.

Hugo Chávez (1954-2013)

Uma amabilidade de viagem


Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter uns para os outros, uma amabilidade de viagem.

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego

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