quarta-feira, dezembro 25, 2013

Natal 2013

Jan van Eyck, Madona em Igreja, 1425-1430

Um feliz Natal a todos os que por aqui passaram e passarão. E também aos que passam.

O nascimento de Jesus, esse grande revolucionário, não será aqui esquecido.

Não consta que tivesse deixado qualquer escrito (para quê?). Consta que o que escrevia fugazmente, por vezes uns rabiscos no chão enquanto reflectia, como naquele dia em que disse: “Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra”, era logo apagado. Ainda hoje nos interrogamos sobre o que terá escrito ou desenhado no chão naquele dia.

Feliz Natal

sábado, dezembro 07, 2013

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Será recordado!


Será recordado!

Ainda que os séculos nos varram a todos.

Um grande Homem morreu ontem.

***

domingo, dezembro 01, 2013

Do curtíssimo prazo

Ao gerirem os nossos destinos por curtíssimos horizontes temporais, os “governantes” abdicaram do sonho utópico, para eles sempre utópico, sem lugar neste mundo, de um dia as comunidades que “regem” se libertarem dos fardos quotidianos que as oprimem – essa era a busca pela verdadeira liberdade e civilização! Movem-se agora por curtos ciclos eleitorais e curtíssimos ciclos financeiros – as cotações nos mercados internacionais, os ratings, e, entre outras, as taxas de juro da dívida pública a 10 anos, mais precisamente, e agora em inglês técnico, “The Portuguese Government Bonds 10YR Note”, que pode ser vista aqui (e que no momento se encontram em tendência decrescente, em torno dos 6%, daí a temporária euforia de alguns), oscilando diariamente, ora para cima, ora para baixo, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, e é só isto que lhes interessa, porque ironicamente, no longo prazo, estaremos todos mortos. Para cúmulo, é para eles agora o curtíssimo prazo que importa, e por isso não admira que alguns destes iluminados tenham querido difundir a ideia de que a história não importa e pouco influi na progressão das sociedades pós-modernas e nos nossos destinos. Assim, uma nação com mais de 800 anos de história é vendida a retalho no mercado internacional por meia pataca. Os traidores estão entre nós, sempre estiveram, que gente a defenestrar sempre houve.

Meus caros, eles já não nos representam. Qual democracia representativa, qual quê? Eles representam os credores internacionais e outros interesses que não os nossos. Nós só lhes interessamos na medida em que, estamos convocados para lhes pagar as dívidas e os juros usurários. O melhor, meus amigos, é votar com os pés, partir, e ir contribuir para outra freguesia (contribuir, na verdadeira acepção da palavra: como contribuinte!). E diga-se de passagem, muitos já o fizeram.

Tenho dito.

Epílogo

«Hoje, a classe política vive atascada nos problemas e nas soluções de curto prazo, segundo a temporalidade própria dos ciclos eleitorais, nos países centrais, ou dos golpes e contra-golpes, nos países periféricos. Por outro lado, uma parte significativa da população nos países centrais vive dominada pela temporalidade cada vez mais curta e obsolescente do consumo, enquanto uma grande maioria da população dos países periféricos vive dominada pelo prazo imediato e pela urgência da sobrevivência diária.»

Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice, 9ª ed., Almedina, 2013, Pág. 277


Hoje existe ainda outra temporalidade que Boaventura de Sousa Santos não aborda, talvez porque no momento em que realizou a sua análise essa tendência ainda não se tinha materializado claramente aos seus olhos prescientes - é a temporalidade do curtíssimo prazo que agora determina as decisões dos governos: o tempo dos mercados financeiros, o tempo dos credores. 

sábado, novembro 30, 2013

O mar português


Soares acabou com a Marinha Mercante, Cavaco acabou com grande parte da frota de pesca nacional, Passos acaba com os estaleiros de Viana do Castelo e agora a Marinha de Guerra está sem Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA).

Isto no país dos Descobrimentos, pioneiro da globalização, que possui a 3ª maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia e a 11ª do mundo.

Há algo de extremamente errado aqui.

Portugal sem o mar não é Portugal. Será que quem nos diz governar não compreende isto.

Mas que IIIª República é esta?

***

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Fernando pessoa


Portugal chora, já não os seus náufragos perdidos no mar, mas o fim do seu mar. E o fim do seu mar é o seu fim.

É Portugal que naufraga.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Adeus, clara visão do mundo!

Só aos poetas e aos filósofos compete a visão prática do mundo, porque só a esses é dado não ter ilusões. Ver claro é não agir.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Assírio & Alvim, 6ª ed., 2013, pág. 240

Ver claro é não agir?! Bom, às vezes esfregamos os olhos, estremunhados, para ver melhor ao longe, pra enxergar o que vem lá. E quando constatamos que é um touro furibundo vindo em nossa direcção, então ver claro é agir. Caso contrário, adeus clara visão do mundo!

***

Consta que muitos filósofos e poetas da Antiga Grécia - à excepção do poeta Arquíloco, diga-se de passagem - na sua juventude tinham sido soldados notáveis. Homens de acção, portanto.  


De que serve a contemplação, se não for para melhor agir? Para mero deleite dos sentidos? Mas nem sempre os sentidos se deleitam com o que contemplam. É preciso agir então, transformando o mundo para depois o contemplarmos melhor e é preciso contemplar o mundo, para depois agirmos melhor. Como um escultor que vai criando a sua obra – esculpindo e contemplando, avançando e recuando, frente à sua obra, como Rodin.

domingo, novembro 24, 2013

E agora, o mercado interno chinês: consumir é glorioso!

«O que parece ser novo neste domínio [da globalização da economia] é o aumento exponencial da exportação da cultura de massas produzida no centro para a periferia e com ela das “estruturas de preferências” pelos objectos de consumo ocidental. Está-se a criar assim uma ideologia global consumista que se propaga com relativa independência em relação às práticas concretas de consumo de que continuam arredadas as grandes massas populacionais da periferia. Estas estão duplamente vitimizadas por este dispositivo ideológico: pela privação do consumo efectivo e pelo aprisionamento do desejo de o ter. Pior do que reduzir o desejo ao consumo é reduzir o consumo ao desejo do consumo.
Esta dupla vitimização é também uma dupla armadilha. Por um lado, nem o desenvolvimento desigual do capitalismo, nem os limites do eco-sistema planetário permitem a generalização a toda a população mundial dos padrões de consumo que são típicos dos países centrais

Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice, 9ª ed., Almedina, 2013, Pág. 269
(os sublinhados são nossos)

Dizia bem Boaventura de Sousa Santos, que “as grandes massas populacionais da periferia” estavam “arredadas” das práticas de consumo vigentes no centro, mas não da publicidade suscitadora de novos desejos e de insuspeitas "necessidades", individuais e colectivas. Pois bem, essa realidade, que já muda, irá alterar-se rápida e profundamente. A China ao decidir aprofundar mais a sua política económica no sentido de “mais mercado e menos Estado”, alargando-a ao seu mercado interno, abraça definitivamente a biopolítica. Mais mercado, mais consumo interno, mais população (a China vai relaxar a sua política demográfica antinatalista), mais consumidores, mais contribuintes - esses novos escravos a formar… Mas também, mais poluição, mais consumo de energia, mais consumo de recursos naturais, mais ameaça à biodiversidade, mais, mais, mais… Se enriquecer era glorioso, é agora o consumo que passa a sê-lo. E assim se vai imiscuindo o deus mercado, insidiosamente, em todas as esferas da vida (e da Vida).

O mercado é o fetiche da China, esse país mutante. Comunista e capitalista, neoliberal e consumista.

terça-feira, novembro 12, 2013

O sonho português

O desprezo a que é votado o mercado interno é evidenciado pela orientação política e económica destes que nos dizem governar, ao privilegiarem exclusivamente as exportações e o turismo como os motores do crescimento económico nacional (coisa que, curiosamente, mal se vê, ainda que andem já por aí a falar em milagres). Para esta gente, os consumidores estão lá fora. Os de dentro que se resignem ao trabalho mal pago, à exploração, aos baixos salários, que o consumo, esse, não é para cafres. Os da “piolheira”, se quiserem, que emigrem, ou então, que aguardem o crescimento do investimento directo estrangeiro, pois nem Governo, nem empresas nacionais exportadoras, estão preocupados com as suas aflições. Neste país, paradoxo dos paradoxos, empobrece-se a trabalhar. É o sonho português, no seu melhor. Arbeit macht frei.

segunda-feira, novembro 11, 2013

Delinquentes

Após visionar uma reportagem na RTP 1 sobre o estado de degradação a que a Escola Secundária da Anadia chegou (e esta escola não é a única escola pública nesta situação degradada - há muitas Anadias por aí), uma palavra ecoou na minha cabeça: “delinquentes!” (isso mesmo, a proferida por Soares). Tem razão Soares: somos governados por um bando de delinquentes e presididos pelo chefe da quadrilha. Soares esquece porém que o caminho para a chegada desta gente à governação do país foi preparado por aquela “terceira via” "socialista" e socrática, comprometida com o neoliberalismo, pioneira na organização das escolas por agrupamentos, o que virá a facilitar o posterior passo no sentido da privatização das escolas; a mesma via que precarizou o vínculo dos funcionários públicos ao Estado, tornando-os, a maioria, em “contratados de trabalho por tempo indeterminado”, rebaixando o estatuto social dos professores, a meros “ocupadores” de alunos – passavam a tratar da famosa ocupação plena dos tempos livres, quando o seu papel não é, meramente, ocupar alunos, mas sim ensinar saberes relevantes, divulgar cultura, ciência, arte e desporto; congelou-lhes as carreiras; deixou de  lhes pagar pela correção de exames, ao contrário do que se faz nos outros países; transferiu custos para muitos professores ao fazer com que tivessem de circular entre várias escolas de um mesmo agrupamento. Em curtas palavras, o ministério educativo de Sócrates tentou arrastar os professores para a lama. Tentou, debalde, rebaixá-los socialmente. Não conseguiu porque eles lutaram, e bem, e a maioria dos portugueses os tem em grande consideração.

Mas no ministério educativo de Sócrates nem tudo foi mau: distribuiu computadores pelos alunos e professores - os famosos Magalhães, entre outros -, inclusive a alguns que nunca tinham utilizado um, e equipou escolas. Diminuiu o número máximo de alunos por turma e abriu a escola aos adultos – os famosos Cursos de Educação e Formação e os cursos de Educação e Formação de Adultos, enquadrados pelo programa Novas Oportunidades. Introduziu o ensino do Inglês no Primeiro Ciclo, alargou a rede pública de educação Pré-escolar. Além disso, investiu nalgumas escolas reparando-as, modernizando-as, dotando-as de novos equipamentos, …Pelo menos era essa a intenção, até chegarem os delinquentes.

Os delinquentes chegaram e pararam tudo – não havia dinheiro, diziam – e ao invés de investirem na Escola Pública, desinvestiram. Agravaram as condições de trabalho nas escolas públicas, aumentaram o número de tempos lectivos nos horários dos docentes, aumentaram o número máximo de alunos por turma (quando o Governo anterior, o tinha diminuído). E, contrariando as orientações do memorando da troika (porque aqui lhes convinha), aumentaram a transferência de dinheiros públicos para os colégios privados – para isto já havia dinheiro.

São delinquentes, pois claro, porque a sua intenção evidente é a de favorecer negócios privados, que envolvem empresas de amigos, conhecidos, influentes e grupos de interesse dos colégios privados. Para estes delinquentes é preciso que a Escola Pública e a Universidade Pública se degradem, para que a Privada se torne mais apelativa, apetecível e lucrativa. Para estes delinquentes, o ensino e a educação escolar são ainda um rico filão à espera de ser explorado. Há que prepará-lo para a rapina.

Um bando de delinquentes! É o que são. Uma cambada!

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