sábado, agosto 02, 2014

A “linha da troika

Recorrer à “linha da troika” para recapitalizar um banco é recorrer ao dinheiro do Estado Português. Dinheiro que foi emprestado ao Estado português e cujos juros têm de ser pagos pelo Estado português. Pelos contribuintes. Na verdade, os contribuintes já estão a pagar pelos empréstimos contraídos e que constituem um fundo para salvar bancos em aflição devido à gestão danosa dos seus gestores, que, esses sim, quiseram dar passos maiores do que as suas próprias pernas – por outras palavras, quiseram viver acima das suas possibilidades.

Os contribuintes serão no futuro chamados à pedra? A ver vamos. Já se apronta o argumentário do risco sistémico. E o “buraco” está aí para justificar futuros cortes no rendimento disponível dos contribuintes portugueses.

quinta-feira, julho 31, 2014

Onde se travam as batalhas

A doutrina contra-revolucionária militar actual frisa a importância da conquista do coração e da mente da população.”

Joseph S. Nye, Jr., O Futuro do Poder, Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2012, pág. 47


Nos nossos tempos as principais batalhas não são pelos territórios físicos. Ao invés, travam-se pelos territórios psíquicos, pela conquista da nossa consciência. O objectivo é conquistar a nossa mente e o nosso coração. É preciso colocar muitos filtros de permeio quando se observam as imagens na TV. Filtros críticos. Não podemos aceitar acriticamente tudo o que nos mostram, sob pena de nos tornarmos um joguete na mão dos manipuladores da opinião pública.

quarta-feira, julho 30, 2014

O BES não é o GES

Repitamos todos, em voz alta e uníssono, para que não sobre uma réstia de dúvida:

O BES NÃO É O GES!



Muito bom.

Multidões

 STR/AFP

No dia 24 de Julho, no parque aquático de Suining, no sudoeste da China, a multidão procura refrescar-se. A região está a ser atravessada por uma vaga de calor e os serviços meteorológicos locais emitiram um alerta laranja para a província de Sichuan.

Munir Uz Zaman/AFP

No dia 28 de Julho, em Dhaka, no Bangladesh, as multidões, à falta de lugares, ocuparam o tejadilho dos vagões. Vão celebrar o fim do Ramadão.

***

O Sudoeste da China e o Bangladesh encontram-se entre as regiões mais densamente povoadas do mundo – na Ásia Oriental e na Ásia Meridional. Nestas regiões a paisagem é marcada pelo movimento de seres humanos, ao contrário de outras onde a quietude domina e o movimento é a excepção.

terça-feira, julho 29, 2014

Neoliberalismo e impostos

Vivemos numa espécie de neoliberalismo que começou a ganhar o Ocidente e que se tornou extremamente agudo depois da queda do muro de Berlim – e que é muito confundível com o neo-riquismo -, e que, atacado pela crise em que estamos, se transformou num neoliberalismo repressivo, com a multiplicação de impostos, de restrições, etc. Sou contra o neoliberalismo repressivo.”

Adriano Moreia, entrevista ao Jornal “i”, 26 de Julho de 2014

O neoliberalismo é para muitos fundamentalistas de mercado uma palavra proibida. Isso não existe, dizem eles, confundindo liberalismo com neoliberalismo. Que estamos a ver gigantes onde só existem moinhos de vento. Que tal dogma, tal como o consideramos, é incompatível com os aumentos de impostos.

As palavras do Professor Adriano Moreira devem ter feito muita gente arrancar os cabelos do cocuruto, ou rasgado as vestes, vindas de quem vieram.

Os fundamentalistas de mercado fingem não saber que a política fiscal, se for conduzida de acordo com o dogma neoliberal, contribui não para uma justa redistribuição da riqueza, mas sim, para uma injusta concentração da riqueza, amplificando ainda mais as imperfeições do funcionamento do capitalismo, em vez de o regular, aumentado as desigualdades sociais em vez de as estreitar. É o que está a ocorrer actualmente, com o neoliberalismo repressivo “que começou a ganhar o Ocidente”. Alarga-se a base tributária, e, como num funil invertido, concentra-se a riqueza, através da condução dos rendimentos colectados aos contribuintes, fiscalmente assaltados, para os bolsos de uma minoria de credores usurários da alta finança internacional. Se não, como explicar o facto de ao enorme aumento de impostos corresponder uma degradação generalizada dos serviços públicos e a desactivação de muitos outros? Se pagamos mais impostos, então deveríamos ser melhor servidos, ou não é assim?

A actual política fiscal é injusta, pois tira a muitos para dar a poucos. Estamos colocados perante uma injustiça fiscal, para não lhe chamar um assalto.

segunda-feira, julho 28, 2014

Tolerância e respeito

A questão da Rússia está a mostrar que o diálogo entre culturas não deve ser baseado na tolerância, mas sim no respeito. A tolerância só é precisa para aquilo de que não gostamos.”

Adriano Moreia, entrevista ao Jornal “i”, 26 de Julho de 2014

Grande Adriano! Daqui lhe tiro o meu chapéu.

Assim é, até nas relações pessoais. Pergunte-se o leitor: se prefere ser tolerado ou respeitado, não podendo escolher as duas?

Aqui preferimos ser respeitados, acima de tudo, ainda que não nos tolerem. E para sermos respeitados é preciso darmo-nos ao respeito. E como é essa história de nos darmos ao respeito? É simples. Miguel Esteves Cardoso, coloca esta questão muito claramente numa obra sua:

Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito e exprimido…

Miguel Esteves Cardoso, Como é Linda a Puta da Vida, Porto Editora, 2013, pag. 34

Tem de ficar tudo dito e exprimido.

O respeito é um valor mais elevado que a simples tolerância, e portando deve ser ele a reger o diálogo, entre culturas e entre pessoas. E nesse diálogo, tudo tem de ficar dito e exprimido.

A entrevista de Adriano é rica e pedagógica. Votaremos a falar dela.

domingo, julho 27, 2014

Alcochete




E há deliciosas sardinhas assadas na brasa.

sábado, julho 26, 2014

Velha política e nova geopolítica não combinam

António José Seguro ao computador.(*)
Os políticos, com destaque para os candidatos dos partidos maioritários na assembleia, continuam a fazer política à moda antiga. Parece que ainda não se aperceberam que os tempos são outros.

Prometem, como sempre prometeram, promessas aquilo que sabem que não irão cumprir, ou que poderão não cumprir, ou então, que não sabem que não irão cumprir (neste caso serão ingénuos? Quem quiser que acredite.).

Quem quer ouvir promessas da boca de quem nunca as cumpriu e sempre enganou, e se enganou, uma vez no governo? Quem quer ouvir promessas de quem pensa, ou quer fazer-nos pensar, que o poder ainda reside no governo, quando o verdadeiro poder já não mora ali? Quem quer ouvir promessas de quem diz que não faz promessas, apontando infantilmente o dedo ao outro menino, que ele é que fez promessas e depois não cumpriu? Ofendem-nos, as promessas e as palavras doces e melífluas, quando os tempos são difíceis.

Os tempos são outros. Claramente, os que fazem promessas, não estão a ser realistas nem verdadeiros para com os eleitores. Seriam mais realistas se dissessem que devemos esperar sangue, suor e lágrimas, como uma vez fez esse grande estadista que foi Churchill.

Neste momento, Portugal é como se fosse um país sob ocupação, ainda que não tenha sido invadido por exércitos ou marinhas. Nem foi preciso. A velha geopolítica, que se baseava exclusivamente na contagem de soldados e canhoneiras para aferir o poder das potências em contenda, passou à história. Hoje a nova geopolítica baseia-se também noutros poderes tão ou mais eficazes do que o antigo poder da força das armas. A incapacidade da U.E. ou dos E.U.A. em realizar um verdadeiro boicote à Rússia é um exemplo do funcionamento desta nova geopolítica. Estamos já a ser dominados por poderes de origem difusa, difíceis de identificar com precisão, na sua proveniência.

Paulo Portas e Xi Jinping, na ilha Terceira
Enquanto isso, o governo português age como se fosse uma comissão liquidatária. Portugal está à venda e vende-se, e os nossos governantes acocoram-se frente aos poderes económicos e financeiros do mundo. A recente deslocação de Paulo Portas aos Açores para se encontrar com o presidente chinês é mais um sintoma desta situação: no nosso território, foi o vice-primeiro-ministro português ao encontro do chinês – um verdadeiro beija-mão - que por acaso lá fez uma escala nos Açores, a caminho do seu destino, e não foi o chinês a ir ao encontro do vice-primeiro-ministro português.


E até na CPLP Portugal se rendeu, na posição que assumiu, aos interesses económicos e financeiros (petróleo, gás natural e bancos…). A CPLP é pois, cada vez mais, uma CP (Comunidade de Países) e cada vez menos uma CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Uma vergonha.

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(*) - "As pessoas estão desiludidas com a forma como se faz política, uma parte dessa desilusão e desse desencanto reside no facto de os políticos, prometerem uma coisa antes das eleições e depois fazerem outra quando chegam ao poder, como é o caso deste primeiro-ministro." (António José Seguro)

Embora o constate, continua, também ele, a fazer promessas.

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