segunda-feira, julho 13, 2020

O mundo de amanhã. Pobre América.


Carlos Gaspar (2020), O Mundo de Amanhã, Geopolítica Contemporânea, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
óóóó

O livrinho de Carlos Gaspar, O Mundo de Amanhã, Geopolítica Contemporânea interessa aos que se preocupam com os rumos do mundo.

Nele se percebe que o futuro geopolítico já é o presente. Estados Unidos da América, hiperpotência em declínio, Rússia estagnada, a lutar por manter o estatuto de superpotência, e China em ascensão económica, militar, científica e tecnológica, são os actores de primeira grandeza nesse palco geopolítico do mundo, com a União Europeia (conjuntamente com o Reino Unido), em segundo plano.

Da conclusão do autor concluímos que o mundo de amanhã é incerto, balizado no entanto por algumas certezas que se prendem com os protagonistas geopolíticos, o jogo entre eles, e os possíveis papéis que irão desempenhar no teatro do mundo.

Nos primeiros parágrafos da conclusão concluímos que o futuro do mundo oscila entre uma utopia e uma distopia: “No mundo de amanhã, é possível que as pessoas vivam bem para lá dos cem anos…” e, no parágrafo seguinte, “No mundo de amanhã, é igualmente possível que o isolamento e o tédio condenem os mais velhos a uma escolha impossível entre a melancolia e o suicídio…” (Gaspar, 2020, págs. 97-98). É assim que começa, na conclusão, por traçar dois cenários possíveis e extremos, mas vai muito para além das questões demográficas e gerontológicas.

Talvez o rumo se encontre entre a utopia e a distopia, num equilíbrio instável. E, neste caso, é sempre bom saber de que lado se encontra o abismo.

***

Muito se sublinhou, mas cá vai uma frase sublinhada e uma reflexão:

O “sonho chinês” realiza-se com as novas Rotas da Seda.

Carlos Gaspar (2020), op. cit., pág. 46

Ah, as grandezas do mundo e os sonhos de grandeza! Muitos querem ser grandes, projectando no futuro os gloriosos momentos do passado. Sonham os chineses então com futuras rotas da seda. Os russos sonham com paradas militares imperiais. Os portugueses, com projecções no mar, o mar, o mar. Sonhos de impérios pretéritos.

Os americanos ainda são grandes e não sonham. Têm pesadelos. Pesadelos chineses. Sentem a sua grandeza ameaçada. Sentem que perdem o pé. Só assim se explicam as proclamações de America first!, e, Make America great again! Nem que seja atropelando os demais, açambarcando meios e remédios, como se tem visto com o remdesivir. Pobre América.

domingo, julho 12, 2020

Azenhas do Mar em tempo de SARS-CoV-2























Envolta na bruma, depois do almoço domingueiro, em pleno Verão. Uma frescura. Cerca de 21ºC quando Lisboa arde com 32º C. Um refúgio contra o calor abrasador do Estio, a poucos quilómetros da capital.

É claro que no novo normal é impossível evitar o medo do vírus quando se sai à rua. Ele avista-se por vezes no olhar daqueles com quem nos cruzamos, o que é muito desagradável. No caminho, com cerca de dois metros de largura, que se avista no canto inferior direito da fotografia de baixo,  uma família  - pai, mãe e dois filhos - que vinha subindo, pouco antes de cruzar-se connosco, colocou as máscaras e apartou-se bem, não fossemos ter peçonha. O olhar receoso da filha adolescente por detrás da máscara cruzou-se com o meu. Reparei depois nesse olhar já aliviado mais adiante, ao retirar a máscara com todo o cuidado.

Diabo de novo normal.

Mas também se ouviram risos nas esplanadas, de gente jovem, ociosa e feliz.

segunda-feira, julho 06, 2020

For a Few Dollars More, de Ennio Morricone


Quero aqui também homenagear o maestro Ennio Morricone (1928-2020), cuja música me tem acompanhado desde tenra idade. Por vezes dava comigo a trauteá-la sem me lembrar bem da proveniência. Onde é que tinha ouvido aquilo? Música magnífica. Partiu hoje.

Curiosamente, faz quase um ano em que publiquei aqui uma música sua.

Magnífico.

Até sempre Ennio Morricone.

A Geografia não está em lugar nenhum, a Geografia está em todo o lado


óóóóó

Origens, Como a Terra nos Criou, de Lewis Dartnell, é o melhor livro de Geografia que li nos últimos anos, embora seja mais do que um livro de Geografia. 

As prateleiras das livrarias reservadas aos livros de Geografia são, curiosamente, difíceis de localizar pois é reduzido número de livros que as compõem: alguns atlas e meia dúzia de livros técnicos. Por vezes nem existem. Este facto poderia levar-nos a pensar que se trata de uma disciplina moribunda, se compararmos o espaço dedicado à História, à Economia, à Política, à Filosofia ou à Sociologia. Mas assim não é. É um caso paradoxal: a Geografia não está em lugar nenhum porque a Geografia está em todo o lado. Encontramo-la na estante de Arquitectura, por exemplo nos magníficos escritos de Álvaro Domingues, do qual destaco A Volta em Portugal (2017), encontramo-la na estante da Política, nos livros de Tim Marshall, por exemplo, com o famoso Prisioneiros da Geografia (2017), encontramo-la no magnífico Colapso (2008) de Jared Diamond, na estante de História, e até o relato da Primeira Viagem em Redor do Mundo (2020), de António Pigafetta, justamente também na estante de História, embora não deixe de ser um relato de grande interesse geográfico. E agora, noutra estante qualquer, perto de si, que não a de Geografia, encontramos o Origens, Como a Terra nos Criou (2019), de Lewis Dartnell.

Estes livros são, acima de tudo, livros de Geografia. Deviam ser incontornáveis (para não dizer “obrigatórios”) para quem ensina e para quem quer aprender Geografia, ou para quem quer ter uma perspectiva geográfica do mundo, pois tratam da relação entre o Homem e a Terra ou, dito de outra forma, tratam do espaço geográfico, esse espaço que resulta das interacções que se estabelecem entre o meio e o ser humano que o habita e ao qual se adapta e transforma.

Cinco estrelas para o Origens, Como a Terra nos Criou, de Lewis Dartnell!

quinta-feira, junho 11, 2020

Querer nada, ser livre

Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

                                 Ricardo Reis, Odes, Fernando Pessoa (1930), Lisboa: Ática, 1946


Já cantava Horácio nas suas Odes:

A quanto mais se negar o homem,
 mais dos deuses receberá.

                                   Horácio, Odes, Livro III, XVI, Livros Cotovia, 2008


Porém, Ricardo Reis queria que os deuses dele não se lembrassem:


 Quero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre — sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo nos oprimem.
                A quem deuses concedem
                Nada, tem liberdade

                                Ricardo Reis, Odes, Fernando Pessoa (1930), Lisboa: Ática, 1946

Em suma, só seria livre aquele sobre o qual não recairia o olhar dos deuses.
A liberdade acima de tudo, até do próprio amor que oprime, segundo Ricardo Reis.

quarta-feira, junho 10, 2020

Viva Portugal! Vivam os Portugueses! Vivam os nossos egrégios avós!





Vivam todos os que somos e todos os que estão entre nós!

terça-feira, junho 09, 2020

Pela tormenta do mar Egeu

Se numa tempestade africana o mastro geme,
não sou pessoa que recorra a miseráveis preces,
fazendo promessas e pactos
para que as mercadorias cipriotas ou tírias

as riquezas do ávido mar não aumentem:
se assim acontecer, ajudado por um bote de dois remos,
o gémeo Pólux e uma brisa me hão-de levar
incólume pela tormenta do mar Egeu.

                                               Horácio, Odes, Livro III, XXIX


segunda-feira, junho 08, 2020

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Beg your pardon?!



Churchill combateu de forma implacável o nazismo. Guiou os ingleses até à vitória final sobre os nazis. Os nazis, os maiores racistas de todos os tempos!


Post scriptum

Churchill emitiu em 1937 opiniões racistas, diz o Daniel Oliveira. Há ainda quem o ligue à morte de milhões de indianos em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial. Uma barbaridade! Não vamos por aí.

Será que Churchill ainda pensava o mesmo em 1945 e no momento da sua morte?

As suas palavras de 1937 vinculam-no para todo o sempre à ignomínia de ser um racista, e assim continuar a ser lembrado para todo o sempre? É isso que releva, ou deve relevar, na sua passagem pelo mundo? Somos lestos a julgar e a atirar pedras.

Para mim, a estátua de Winston Churchill  representa alguém que se opôs ao mal absoluto e que o combateu com toda a sua energia, galvanizando os que estavam a seu lado - e não eram só os ingleses -, dando-lhes energia para fazerem o mesmo.

E não, Churchill, não foi Estaline. 

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