quarta-feira, abril 26, 2023

Cova da Beira ao alvorecer

 

          Alvorada em Abril, na Cova da Beira                 AMCD ©

            

          Quando tiver de zarpar, fá-lo-ei pela alvorada. Rumarei a Oriente, pela terra imaculada.                          

terça-feira, abril 25, 2023

“Investir no nosso planeta”

 


Lido no Público de 21 de Abril:

 

«Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais selvagens, que representam 6% da biomassa de mamíferos da Terra.»

 

Maria Amélia Martins-Loução, “Investir no nosso planeta”, Público 21/04/2023, pág. 27


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Tem-se investido no planeta, que consideramos nosso, contudo nem o planeta é nosso (quem somos nós para nos apropriarmos dele? E, no entanto, é isso que fazemos, vezes sem conta, sem nos apercebermos que nós é que somos do planeta), nem se tem investido pelo planeta. Mas muito se investe no planeta: em ranchos e unidades industriais, unidades agro-pecuárias, criação de cães e gatos, vacas e porcos, construção de minas e unidades de extracção de combustíveis fósseis. Eucaliptais, palmeirais, extensos campos de soja, modernas frotas de pesca. O planeta está cheio de investidores, gestores, empreendedores, visionários do potencial ganho a retirar do “capital natural” e ecossistémico, neoliberais e “homens do futuro”, para parafrasear Sloterdijk, aqui.

 

As palavras “investir”, “gerir” remetem para o léxico científico económico e empresarial. O “património natural”, como bem diz a professora, é delapidado, porque os investidores acima referidos não o veem como tal. Para eles, o “património natural” é “capital natural”. Um filão a explorar.

 

Talvez precisemos de uma revolução no pensamento: deixar de considerar nosso o planeta – a vida que nele habita, entre a qual nos contamos, e a que estamos a destruir, pertence ao planeta. Talvez não se trate de gerir o planeta, mas de zelar por ele, impor vastos espaços onde os cobiçosos gestores não ponham a pata (perdoem-me a expressão plebeia). Dirão que a determinação desses espaços, livres da acção e do olhar cobiçoso do capitalista, também passa por uma gestão do espaço. Sim, mas talvez seja necessário algo mais do que uma simples gestão.

25 de Abril em 2023


Como uma vela que se acende num templo antigo, num ritual eternamente repetido, celebramos a memória da Liberdade. A Liberdade. Celebramos o dia em que a Liberdade saiu à rua.

Hoje discursam amigos e inimigos da Liberdade. Ouço-os na assembleia. A Liberdade e a Democracia assim o permitem.

segunda-feira, abril 24, 2023

Para quem não sabe o que o neoliberalismo é

 


Detalhe da capa do semanário Expresso, 14 de Abril de 2023 

(excepto o balão amarelo e o rectângulo vermelho, que são destaques nossos )

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E é escusado argumentar com esta gente. Para eles o neoliberalismo é um credo, e, portanto, são surdos a qualquer contra-argumento racional ou científico.

Como uma erva daninha, o credo neoliberal defendido pelos lacaios das elites dominantes em jornais mui burgueses e liberais como o Expresso - burguesitos à espera das migalhas caídas da mesa do patrão e de um afago na sua fiel e canina cabeça – teima em medrar, ainda que denunciado vezes sem conta na sua injustiça.

Diga-se de passagem, que não são todos os que lá escrevem, mas nós sabemos quem são esses “alegres papagaios” e eles também sabem quem são. Os de servil escrita.


sábado, abril 22, 2023

O crepúsculo das estâncias invernais

 

           Serra da Estrela, Abril de 2023                                                          © AMCD    

O Inverno retira-se uma vez mais, até um dia deixar de regressar. Tanto aqui como nas estâncias alpinas e noutras montanhas das latitudes médias, assistimos ao crepúsculo das estâncias invernais. A paisagem sempre mudou inevitavelmente, e agora, aceleradamente. Os helvéticos já se debatem com o retrocesso dos glaciares. Preciosos glaciares. Recursos turísticos perdidos para todo o sempre. E nós, nesta serra, que não se alça aos 2 000 metros de altitude, ansiamos pela neve, mas a neve já não vem.

sexta-feira, abril 21, 2023

O urso da serra

     Serra da Estrela, Abril de 2023                                                          © AMCD           

Lá em cima, na serra, há um urso contemplativo e melancólico, principalmente se for observado a partir de um certo ângulo. Mas atenção à aproximação, não vá o animal espantar-se e sair por ali a correr espavorido, acabando por rebolar pelas encostas.

sábado, fevereiro 25, 2023

Roma

 

Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022.

⭐⭐⭐⭐

Eis-nos lançados nas ruas de uma cidade antiga. Tão antiga que se diz eterna. Ali nos cruzamos com personagens de todas as eras. Assistimos às assembleias entre a plebe, frente ao templo de Júpiter, no topo do monte Capitolino. Vimos passar César na sua biga triunfal e o escravo que, atrás dele, de vez em quando se lhe assoma ao ouvido para lhe murmurar que é apenas um homem, à passagem entre a multidão que o aclama como se fosse um deus.

 

Ali nos cruzámos com Marco Aurélio, Séneca, Ovídio e Nero e muitos mais. Mas não ficámos apenas naquele tempo romano. Acabamos por atravessar os tempos, naquela cidade. Chegámos a combater entre os camaradas de Garibaldi. Também ali deparámos com Mussolini, já no século XX, uma besta sexual com o QI de um sapo. Ele e a sua última amante, executados e dependurados. E Fellini e a sua Dolce Vita.

 

A história de Roma é também a história da civilização Ocidental. Está embrenhada nela. Vindos da recém-descoberta América, os marinheiros de Colombo inauguram a propagação da sífilis pela cidade das prostitutas. Isto para dizer que também as longínquas descobertas ecoaram nas ruas e nas vidas dos cidadãos de Roma.

 

Muito haveria para contar dos ilustres personagens que desfilaram na história da cidade.

 

Ferdinand Addis consegue colocar-nos lá, no espaço e no tempo. Viajamos por Roma desde a sua origem até ao século XX e com os romanos. Somos espectadores, somos participantes.

 

Um livro excelente, repleto de acção e movimento, dinâmico, que se lê como um romance.

 

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Uma passagem:

«Enquanto os godos recuavam, as balistas nas muralhas entraram em acção. Estas eram uma espécie de bestas gigantescas: máquinas de arremesso de flechas com dois braços equipados com molas de torsão, capazes de disparar virotes curtos e grossos a distâncias além do que a vista alcançava. Estas máquinas aterrorizavam os godos. Na Porta Salária, por onde a velha estrada do sal saía da cidade, um nobre godo que se afastou demasiado das suas linhas foi atingido por um virote disparado por uma equipa de balista com a pontaria afinada. O virote trespassou-lhe a couraça e pregou-o a uma árvore, deixando-o a baloiçar-se e a contorcer-se, enquanto os godos mais próximos, demasiado assustados para o ajudarem, tropeçaram uns nos outros com a pressa de ficarem fora do alcance.»

 

Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022, pp. 244-245

terça-feira, fevereiro 21, 2023

Os dias do fim

Canção

O último pássaro

canta nos álamos.

A luz fatigada

 tropeça nos ramos.

A terra é apenas

 memória de lábios.

Ah, canta, canta,

rouxinol da água.

 

                                   Eugénio de Andrade (1961)

 

***

Um dos poemas para estes dias é a canção do último pássaro. É difícil discernir o espírito do tempo em que vivemos quando vivemos neste tempo. O que virá? O precipício sobre o mar rumorejante ou a luz dos prados verdejantes? Já cantarão os últimos pássaros neste planeta fatigado, de solo ressequido? Um último rouxinol canta antes da longa noite escura? 


O que virá?

 

O silêncio.

 

A Terra nem memória será.

 

Epílogo

 

Devastámos a Terra, conspurcámos o mar, poluímos o céu. Nem as profundezas e os abismos escaparam ao fluxo e refluxo das nossas cloacas. Nem as mais altas montanhas.

 

A Terra devastada. O mar conspurcado. O céu poluído. A vida à beira da extinção.

 

Depois do canto do último pássaro, sabemos que advirá o silêncio. Daremos entrada no reino sombrio das criaturas da noite, enquanto remanescerem criaturas. Uma longa noite, repleta de horrores. Os últimos seres, almas, espíritos e medos. Mutantes sem memória. E por fim, nem a memória restará.


Soprará o vento nas ruínas das cidades.

sexta-feira, dezembro 30, 2022

Adeus, Pelé

Pelé (1940-2022)


Partiu o melhor jogador de futebol de todos os tempos e um ser humano formidável.

Campeão do mundo três vezes, a primeira das quais aos 17 anos. É obra!


Numa série televisiva sobre futebol apresentada por ele, ensinou, num dos episódios, que o guarda-redes é o pilar de toda a equipa: se o pilar treme, toda a equipa treme, disse.


Esteve glorioso na Fuga para a Vitória. 


Até sempre, Rei Pelé.

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