sexta-feira, abril 28, 2023

O Douro


      Porto, Dezembro de 2022                © AMCD

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        O Douro

 

        Não é a tristeza que encontro

        Quando caminho pela margem

        Do Douro, no Porto.


        O seu vinho, as suas gentes e os verdes olhos das minhotas,

        Aquecem-me o coração.


        Nem o céu plúmbeo

        Me pesa.


        Ali consigo esquecer a dor.

        Como um ópio que me invade o corpo,

        Uma aguardente.

        Esqueço tudo,

        Até a solidão.

quinta-feira, abril 27, 2023

Píncaro adiado

 

      Serra da Estrela, Abril de 2023                                                          © AMCD


No píncaro do território de Portugal Continental jazem duas torres degradadas e uma promessa recente: “Investimento de €30 milhões cria um observatório, residências científicas, áreas comerciais e um teleférico para ligar três aldeias do maciço central”. Assim reza o subtítulo da notícia do semanário Expresso. Reparai no tempo do verbo criar. Deveria ler-se “criará” ou “irá criar”. Não! A coisa já está feita!

Eis o expoente máximo de um país, num dos seus lugares mais simbólicos: degradação e promessas. 

Amanhã é que é.

quarta-feira, abril 26, 2023

Medvedev‎ no epicentro

  

O futebol é a zombaria da guerra, campal ou política.

(Ortega y Gasset)

 

Medvedev‎ arenga no hangar:

5 000º Kelvin, calor nuclear,

350 m/s, a deslocação do ar

(e tudo o vento levou, no epicentro nuclear)


Radiação penetrante, radiação ionizante

Impulso electromagnético, explosão nuclear.

Arenga o Medvedev, que nos quer intimidar.

 

Tenham medo, muito medo.

Ui, ui, que medo, Medvedev.

(Faz isso não)

 

(Enquanto isso, a Europa vira o cu a Medvedev

E abanca no estádio, que é dia de futebol.)

 

Vá falando Medvedev, vá falando.

Arengando, não faz mal.

Cova da Beira ao alvorecer

 

          Alvorada em Abril, na Cova da Beira                 AMCD ©

            

          Quando tiver de zarpar, fá-lo-ei pela alvorada. Rumarei a Oriente, pela terra imaculada.                          

terça-feira, abril 25, 2023

“Investir no nosso planeta”

 


Lido no Público de 21 de Abril:

 

«Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais selvagens, que representam 6% da biomassa de mamíferos da Terra.»

 

Maria Amélia Martins-Loução, “Investir no nosso planeta”, Público 21/04/2023, pág. 27


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Tem-se investido no planeta, que consideramos nosso, contudo nem o planeta é nosso (quem somos nós para nos apropriarmos dele? E, no entanto, é isso que fazemos, vezes sem conta, sem nos apercebermos que nós é que somos do planeta), nem se tem investido pelo planeta. Mas muito se investe no planeta: em ranchos e unidades industriais, unidades agro-pecuárias, criação de cães e gatos, vacas e porcos, construção de minas e unidades de extracção de combustíveis fósseis. Eucaliptais, palmeirais, extensos campos de soja, modernas frotas de pesca. O planeta está cheio de investidores, gestores, empreendedores, visionários do potencial ganho a retirar do “capital natural” e ecossistémico, neoliberais e “homens do futuro”, para parafrasear Sloterdijk, aqui.

 

As palavras “investir”, “gerir” remetem para o léxico científico económico e empresarial. O “património natural”, como bem diz a professora, é delapidado, porque os investidores acima referidos não o veem como tal. Para eles, o “património natural” é “capital natural”. Um filão a explorar.

 

Talvez precisemos de uma revolução no pensamento: deixar de considerar nosso o planeta – a vida que nele habita, entre a qual nos contamos, e a que estamos a destruir, pertence ao planeta. Talvez não se trate de gerir o planeta, mas de zelar por ele, impor vastos espaços onde os cobiçosos gestores não ponham a pata (perdoem-me a expressão plebeia). Dirão que a determinação desses espaços, livres da acção e do olhar cobiçoso do capitalista, também passa por uma gestão do espaço. Sim, mas talvez seja necessário algo mais do que uma simples gestão.

25 de Abril em 2023


Como uma vela que se acende num templo antigo, num ritual eternamente repetido, celebramos a memória da Liberdade. A Liberdade. Celebramos o dia em que a Liberdade saiu à rua.

Hoje discursam amigos e inimigos da Liberdade. Ouço-os na assembleia. A Liberdade e a Democracia assim o permitem.

segunda-feira, abril 24, 2023

Para quem não sabe o que o neoliberalismo é

 


Detalhe da capa do semanário Expresso, 14 de Abril de 2023 

(excepto o balão amarelo e o rectângulo vermelho, que são destaques nossos )

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E é escusado argumentar com esta gente. Para eles o neoliberalismo é um credo, e, portanto, são surdos a qualquer contra-argumento racional ou científico.

Como uma erva daninha, o credo neoliberal defendido pelos lacaios das elites dominantes em jornais mui burgueses e liberais como o Expresso - burguesitos à espera das migalhas caídas da mesa do patrão e de um afago na sua fiel e canina cabeça – teima em medrar, ainda que denunciado vezes sem conta na sua injustiça.

Diga-se de passagem, que não são todos os que lá escrevem, mas nós sabemos quem são esses “alegres papagaios” e eles também sabem quem são. Os de servil escrita.


sábado, abril 22, 2023

O crepúsculo das estâncias invernais

 

           Serra da Estrela, Abril de 2023                                                          © AMCD    

O Inverno retira-se uma vez mais, até um dia deixar de regressar. Tanto aqui como nas estâncias alpinas e noutras montanhas das latitudes médias, assistimos ao crepúsculo das estâncias invernais. A paisagem sempre mudou inevitavelmente, e agora, aceleradamente. Os helvéticos já se debatem com o retrocesso dos glaciares. Preciosos glaciares. Recursos turísticos perdidos para todo o sempre. E nós, nesta serra, que não se alça aos 2 000 metros de altitude, ansiamos pela neve, mas a neve já não vem.

sexta-feira, abril 21, 2023

O urso da serra

     Serra da Estrela, Abril de 2023                                                          © AMCD           

Lá em cima, na serra, há um urso contemplativo e melancólico, principalmente se for observado a partir de um certo ângulo. Mas atenção à aproximação, não vá o animal espantar-se e sair por ali a correr espavorido, acabando por rebolar pelas encostas.

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