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O fim é certo como o destino.
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O fim é certo como o destino.
O Douro
Não é a tristeza que encontro
Quando caminho pela margem
Do Douro, no Porto.
O seu vinho, as suas gentes e os verdes olhos das minhotas,
Aquecem-me o coração.
Nem o céu plúmbeo
Me pesa.
Ali consigo esquecer a dor.
Como um ópio que me invade o corpo,
Uma aguardente.
Esqueço tudo,
Até a solidão.
No píncaro do território de Portugal Continental jazem duas torres degradadas e uma promessa recente: “Investimento de €30 milhões cria um observatório, residências científicas, áreas comerciais e um teleférico para ligar três aldeias do maciço central”. Assim reza o subtítulo da notícia do semanário Expresso. Reparai no tempo do verbo criar. Deveria ler-se “criará” ou “irá criar”. Não! A coisa já está feita!
Eis o expoente máximo de um país, num dos seus lugares mais simbólicos: degradação e promessas.
Amanhã é que é.
O futebol é a
zombaria da guerra, campal ou política.
(Ortega y Gasset)
Medvedev arenga no hangar:
5 000º Kelvin, calor nuclear,
350 m/s, a deslocação do ar
(e tudo o vento levou, no epicentro nuclear)
Radiação penetrante, radiação ionizante
Impulso electromagnético, explosão nuclear.
Arenga o Medvedev, que nos quer intimidar.
Tenham medo, muito medo.
Ui, ui, que medo, Medvedev.
(Faz isso não)
(Enquanto isso, a Europa vira o cu a Medvedev
E abanca no estádio, que é dia de futebol.)
Vá falando Medvedev, vá falando.
Arengando, não faz mal.
Alvorada em Abril, na Cova da Beira AMCD ©
Quando tiver de zarpar, fá-lo-ei pela alvorada. Rumarei a Oriente, pela terra imaculada.
Lido no Público de 21 de Abril:
«Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram
que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais
selvagens, que representam 6% da biomassa de mamíferos da Terra.»
Maria Amélia Martins-Loução, “Investir no nosso planeta”, Público 21/04/2023, pág. 27
***
Tem-se investido no planeta, que
consideramos nosso, contudo nem o planeta é nosso (quem somos nós para
nos apropriarmos dele? E, no entanto, é isso que fazemos, vezes sem conta, sem
nos apercebermos que nós é que somos do planeta), nem se tem investido pelo
planeta. Mas muito se investe no planeta: em ranchos e unidades industriais,
unidades agro-pecuárias, criação de cães e gatos, vacas e porcos, construção de
minas e unidades de extracção de combustíveis fósseis. Eucaliptais, palmeirais,
extensos campos de soja, modernas frotas de pesca. O planeta está cheio de
investidores, gestores, empreendedores, visionários do potencial ganho a retirar
do “capital natural” e ecossistémico, neoliberais e “homens do futuro”, para
parafrasear Sloterdijk, aqui.
As palavras “investir”, “gerir”
remetem para o léxico científico económico e empresarial. O “património
natural”, como bem diz a professora, é delapidado, porque os investidores acima
referidos não o veem como tal. Para eles, o “património natural” é “capital
natural”. Um filão a explorar.
Talvez precisemos de uma revolução
no pensamento: deixar de considerar nosso o planeta – a vida que nele habita,
entre a qual nos contamos, e a que estamos a destruir, pertence ao planeta. Talvez
não se trate de gerir o planeta, mas de zelar por ele, impor vastos
espaços onde os cobiçosos gestores não ponham a pata (perdoem-me a expressão
plebeia). Dirão que a determinação desses espaços, livres da acção e do olhar
cobiçoso do capitalista, também passa por uma gestão do espaço. Sim, mas talvez
seja necessário algo mais do que uma simples gestão.
Hoje discursam amigos e inimigos da Liberdade. Ouço-os na assembleia. A Liberdade e a Democracia assim o permitem.
Detalhe da capa do semanário Expresso, 14 de Abril de 2023
(excepto o balão amarelo e o rectângulo vermelho, que são destaques nossos )
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E é escusado argumentar com esta gente. Para eles o neoliberalismo é um credo, e, portanto, são surdos a qualquer contra-argumento racional ou científico.
Como uma erva daninha, o credo neoliberal defendido pelos lacaios das elites dominantes em jornais mui burgueses e liberais como o Expresso - burguesitos à espera das migalhas caídas da mesa do patrão e de um afago na sua fiel e canina cabeça – teima em medrar, ainda que denunciado vezes sem conta na sua injustiça.
Diga-se de passagem, que não são todos os que lá escrevem, mas nós sabemos quem são esses “alegres papagaios” e eles também sabem quem são. Os de servil escrita.
Serra da Estrela, Abril de 2023 © AMCD
O Inverno retira-se uma vez mais,
até um dia deixar de regressar. Tanto aqui como nas estâncias alpinas e noutras
montanhas das latitudes médias, assistimos ao crepúsculo das estâncias invernais.
A paisagem sempre mudou inevitavelmente, e agora, aceleradamente. Os helvéticos já se
debatem com o retrocesso dos glaciares. Preciosos glaciares. Recursos
turísticos perdidos para todo o sempre. E nós, nesta serra, que não se alça
aos 2 000 metros de altitude, ansiamos pela neve, mas a neve já não vem.