domingo, maio 11, 2014

Onde está a coruja?

                                                                   Crédits photo: Graham McGeorges

A Leste nada de novo


O gigante russo agita-se de uma forma que não nos é estranha, europeus que somos, habituados a uma história convulsiva, habitantes de um mundo de memórias, muitas delas, senão a maior parte, repulsivas. A escalada para a guerra civil na Ucrânia e o actual comportamento da Rússia, só nos inflige estranheza, pela sensação de deja vu e de anacronismo. Já vimos, noutros tempos, estas paradas, estas fanfarras e anexações. As últimas foram no século XX, naquele tempo cinzento de todos os fascismos, que antecedeu o negrume da guerra. Seria inteligente, que os russos e os ucranianos percebessem que já nos encontramos no século XXI, na Europa, e deixassem definitivamente para trás essa fase mais negra da nossa história. Que entendessem que esta já não é, nem pode ser, a "velha Europa".

Que num rebate percebessem que estão errados, todos errados.

Ao vermos o que se está a passar a Leste, vêm-nos à memória o tempo mais negro da ascensão do fascismo.

Até parece que a linha do tempo não passou por ali.

Militantes pró-russos em Mariupol (Ucrânia), 9 de Maio.

sábado, maio 10, 2014

Ajustados!

Vitória. Foi-se a troika, vitória. Somos livres e soberanos outra vez. Hurra.

Ficou a dívida pública, colossal. Ficaram as sobretaxas nos vencimentos. Ficaram os impostos, enormemente aumentados, e as “poupanças” do Governo sempre a realizar, qual espada de Dâmocles insegura a pairar. Ficaram as obras por acabar, os estaleiros a enferrujar, as escolas por intervencionar, os desempregados por ocupar, os pobres por recuperar, os desgraçados por salvar. E a sábia juventude, desempregada, a emigrar.

E as auto-estradas, todas portajadas, vazias e arejadas…

Ah, país! Ah, que bela destruição criativa!

E tiveram todo o cuidado em tocar cirurgicamente nos impostos: desceram o IRC dos patrões, mas subiram o IVA, mais uma vez, e a TSU dos trabalhadores (disseram que não subiram, mas ameaçam voltar a subir, se o Tribunal Constitucional não colaborar, na traição à Constituição), concederam mil perdões fiscais a milionários magistrais e vistos dourados a ricos orientais.

Enfim, é demais!

Foi-se a troika, dizem, mas continuamos a ser "ajustados".

Foi-se a troika, mas a troika continua por cá.

sexta-feira, maio 09, 2014

Saganho-mouro

    Cistus salvifolius (Serra dos Candeeiros)                                         © AMCD

domingo, maio 04, 2014

Pela costa alentejana, em Abril

 
     © AMCD

Em Abril percorri contemplativo as veredas da costa alentejana, entre a praia do Malhão e o Portinho das Barcas, sempre a ver o mar nos confins do mundo.

Tranquilas cegonhas e pescadores avistavam-se do cimo das arribas, aninhados em farilhões e plataformas de abrasão.

A meio caminho, no Portinho das Barcas, amêijoas à Bulhão Pato numa esplanada vazia. Depois, o retorno à praia do Malhão, contornando a duna, e o rápido regresso ao mundo, ao nosso pequeno mundo, já pela noite dentro.

sábado, maio 03, 2014

No meridiano

«Se Deus fizesse tenções de corrigir a degenerescência da humanidade não o teria feito já? Os lobos eliminam as suas crias mais fracas, homem. Que outra criatura seria capaz disso? E a raça humana não é ainda mais rapace? As leis naturais mandam germinar, dar flor e fenecer, mas nos afazeres dos homens não há declínio e o meio-dia da sua expressão assinala o começo da noite. A alma humana fica exaurida no ponto culminante das suas façanhas. O seu meridiano é a um tempo o início das trevas e o declinar do seu dia. O ser humano gosta de jogos? Pois que jogue a valer. Isto que vocês aqui vêem, estas ruínas que as tribos de selvagens tanto admiram, não vos parece que vai repetir-se? Vai, sim. Vezes sem conta. Com outros povos, com outros filhos.»


Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue, Biblioteca Sábado, 2008, pág. 126.
(os destaques são nossos)

Efeito Ozymândias.

segunda-feira, abril 28, 2014

domingo, abril 27, 2014

Vasco Graça Moura

Partiu hoje.

Dele retenho as suas traduções de Jean Racine, com destaque para Berenice, a sua oposição ao Novo Acordo Ortográfico e o seu amor à Cultura.

Era sem dúvida um dos nossos melhores.


Repudiar, respeitosamente

«Um bom primeiro passo para a libertação da humanidade das formas opressivas de tribalismo seria o de repudiar, respeitosamente, as afirmações daqueles que se encontram no poder, que dizem falar por Deus, ser representantes especiais de Deus, ou terem conhecimento exclusivo da divina vontade de Deus. Incluídos entre estes fornecedores de narcisismo teológico estão os eventuais profetas, os fundadores de cultos religiosos, os exaltados ministros evangélicos, aiatolas, imãs das grandes mesquitas, chefes rabis, rosh yeshivas, o Dalai Lama e o Papa. O mesmo se aplica a ideologias políticas dogmáticas baseadas em preceitos incontestáveis, de esquerda ou de direita, e especialmente quando justificados com dogmas das religiões organizadas. Poderão conter uma sabedoria intuitiva que merece ser escutada. Os seus líderes podem ter boas intenções. Mas a humanidade já sofreu bastante com a história grosseiramente errada contada por falsos profetas

Edward Wilson, A Conquista da Terra: a Nova História da Evolução Humana, Clube do Autor, 2013. Pág. 301

(o destaque é nosso)

Subscrevemos plenamente. Assinamos por baixo.

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