«Neste momento
eu julgo que a confusão ideológica é muito grande, porque o futuro é muito
incerto, em relação ao mundo Ocidental, sobretudo, e adivinhar o que é que vai
ser o futuro é absolutamente impossível. Ninguém pode fazer juízos de
probabilidade. Fazer juízos de possibilidade é uma audácia, portanto, temos
sempre de estar preparados para que aconteça a outra coisa. E, a impressão que eu tenho, neste momento,
é que nós estamos, sobretudo em relação a esse partido [PSD],
num momento em que, tendo ele tido sempre uma pluralidade de orientações,
porque foi um partido sempre bastante plural… a impressão que me dá, é que neste
momento é que, o acento tónico é neoliberal. É um neoliberalismo que é implacável,
nas circunstâncias em que nós estamos, e que por isso mesmo está a acontecer-nos
que essa ideologia liberal, que me parece evidente, é acompanhada de uma
atitude repressiva que como que redefine o liberalismo que está a ser aplicado.
[Repressiva] no sentido em que muitas
concessões de autoridade não são propriamente aquelas que são previstas na
racionalidade constitucional, designadamente na área fiscal, que está a
acontecer, e também o facto da proeminência das sanções económicas para
corresponder a uma questão que parece ser a questão estratégica mais evidente
do governo, que é o orçamento.
Bom, e isto
ainda não é seguro que corresponda a uma tendência que se torna dominante.
Noutros partidos também é assim: o CDS também tinha tendências que variaram no
tempo, estou só a responder à pergunta, não estou a dizer que é específico. Mas
é numa circunstância em que eu julgo que o
país está em regime de protectorado. E quando o país está em regime de
protectorado as orientações estão muito subordinadas a orientações que não
domina, que são, mesmo que sejam compromissos – antigamente dizia-se, foi
forçado mas quis - e realmente há um condicionamento por a chamada troika que tem reflexos que a meu ver são
preocupantes, designadamente a tendência que há, nalguns lugares, intervenções
para tratar a Constituição como se fosse uma lei ordinária. Isso acontece nos
protectorados porque quem dá a
orientação é quem tem o poder da protecção, não é a Constituição do país.
Nós tivemos uma grande experiência de protectorados, não estou a dizer que o
modelo é o mesmo, do passado, mas temos que usar palavras que sejam
inteligíveis e a palavra inteligível para mim neste momento é esta, e essa orientação que vem desta dependência
internacional é evidentemente neoliberal acompanhada de uma atitude repressiva
nesse sentido que lhe estou a dizer.
(…)
A fome não é um
dever constitucional.
(…)
Nós
arriscamo-nos a passar o limite da paciência, sobretudo da devoção, porque todo
esse sacrifício da população é devoção cívica ao seu país, e há limites para
tudo.»
***
O Professor Adriano Moreira, muito mais que um homem
esclarecido é um homem esclarecedor. Uma voz sempre a escutar com atenção.
Venham agora dizer-nos que vivemos numa Era onde a ideologia se encontra ausente, ou que o neoliberalismo é um unicórnio. Nada mais falso. Se a nossa vida está hoje lançada na incerteza e na insegurança, a responsabilidade é em grande parte desses que se guiam por essa doutrina neoliberal e que nos governam guiados por ela. Os ordoliberais que dominam a Zona Euro, por seu lado, mais não fazem do que impor as suas políticas aos que se puseram a jeito, aos que imploraram, aos países que se tornaram seus protectorados pela acção de políticos governantes incompetentes e desprovidos de inteligência e visão.
Venham agora dizer-nos que vivemos numa Era onde a ideologia se encontra ausente, ou que o neoliberalismo é um unicórnio. Nada mais falso. Se a nossa vida está hoje lançada na incerteza e na insegurança, a responsabilidade é em grande parte desses que se guiam por essa doutrina neoliberal e que nos governam guiados por ela. Os ordoliberais que dominam a Zona Euro, por seu lado, mais não fazem do que impor as suas políticas aos que se puseram a jeito, aos que imploraram, aos países que se tornaram seus protectorados pela acção de políticos governantes incompetentes e desprovidos de inteligência e visão.