Ao gerirem os nossos destinos por
curtíssimos horizontes temporais, os “governantes” abdicaram do sonho utópico,
para eles sempre utópico, sem lugar neste mundo, de um dia as comunidades que “regem”
se libertarem dos fardos quotidianos que as oprimem – essa era a busca pela verdadeira
liberdade e civilização! Movem-se agora por curtos ciclos eleitorais e
curtíssimos ciclos financeiros – as cotações nos mercados internacionais,
os ratings, e, entre outras, as taxas de
juro da dívida pública a 10 anos, mais precisamente, e agora em inglês técnico,
“
The Portuguese Government Bonds 10YR Note”, que pode ser vista
aqui (e que no momento se encontram em tendência decrescente, em torno dos 6%, daí a
temporária euforia de alguns), oscilando diariamente, ora para cima, ora para
baixo, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, e é só isto que lhes
interessa, porque ironicamente, no longo prazo, estaremos todos mortos. Para
cúmulo, é para eles agora o curtíssimo prazo que importa, e por isso não admira
que alguns destes iluminados tenham querido difundir a ideia de que a história não
importa e pouco influi na progressão das sociedades pós-modernas e nos nossos
destinos. Assim, uma nação com mais de 800 anos de história é vendida a retalho
no mercado internacional por meia pataca. Os traidores estão entre nós, sempre
estiveram, que gente a defenestrar sempre houve.
Meus caros, eles já não nos
representam. Qual democracia representativa, qual quê? Eles representam os credores
internacionais e outros interesses que não os nossos. Nós só lhes interessamos
na medida em que, estamos convocados para lhes pagar as dívidas e os juros usurários.
O melhor, meus amigos, é votar com os pés, partir, e ir contribuir para outra
freguesia (contribuir, na verdadeira acepção da palavra: como contribuinte!). E
diga-se de passagem, muitos já o fizeram.
Tenho dito.
Epílogo
«Hoje, a classe
política vive atascada nos problemas e nas soluções de curto prazo, segundo a
temporalidade própria dos ciclos eleitorais, nos países centrais, ou dos golpes
e contra-golpes, nos países periféricos. Por outro lado, uma parte
significativa da população nos países centrais vive dominada pela temporalidade
cada vez mais curta e obsolescente do consumo, enquanto uma grande maioria da população
dos países periféricos vive dominada pelo prazo imediato e pela urgência da
sobrevivência diária.»
Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice, 9ª
ed., Almedina, 2013, Pág. 277
Hoje existe ainda outra
temporalidade que Boaventura de Sousa Santos não aborda, talvez porque no momento
em que realizou a sua análise essa tendência ainda não se tinha materializado
claramente aos seus olhos prescientes - é a temporalidade do curtíssimo prazo que agora determina as decisões dos governos: o tempo dos mercados financeiros, o tempo
dos credores.