No sábado passado caminhei pela Arrábida até ao Alto do Jaspe. Uma raposa que por ali andava surpreendeu os visitantes à beira da estrada e deixou-se fotografar. Depois, desapareceu destemida por entre os carrascos (Quercus coccifera).
Do Alto do Jaspe avistei o mar brumoso e diverti-me a pensar que a América já ali estivera tão perto, há cerca de 115 milhões de anos, exactamente onde a onda petrificada da Serra do Risco parece rebentar.
Um painel, ainda intacto, informa os visitantes sobre a paisagem que se avista, a geologia e a biologia do Parque. Tomei a liberdade de transcrever o texto.
Alto do Jaspe
«Da Pedreira de Jaspe que atrás
de nós se esconde parecendo ocultar a beleza excepcional da Brecha da Arrábida
que em tantos lugares foi utilizada para enriquecer o património cultural da
região e do país, até à vista deslumbrante que à nossa frente se abre e onde se
destaca a Serra do Risco - este é mais um ponto panorâmico revelador da riqueza
paisagística e patrimonial da Arrábida.
O Risco apresenta a escarpa
litoral calcária mais elevada da Europa, com 380 m, que cai num mar calmo, azul
cristalino e verde-esmeralda. A beleza que a natureza aqui esculpiu ou desenhou
não passa despercebida e não cansa de nos maravilhar.
“A Serra [do Risco] tem o ar de
uma onda que avança impetuosa e subitamente estaca e se esculpe no ar, é uma
onda de pedra e mato, é o fóssil de uma onda.”
Sebastião da Gama (1924
– 1952)
Esta Pedreira do Jaspe é, de
entre o conjunto de antigas pequenas explorações espalhadas pela Arrábida, a
mais expressiva quanto à exposição superficial de um tipo de rocha exclusivo
desta região, a chamada Brecha da Arrábida (também designada no século XIX e
início do século XX como “Brecha de Portugal” ou “Mármore da Arrábida”).
A Brecha da Arrábida, formada
durante o Jurássico Superior, há cerca de 160 Milhões de anos, recobre uma
descontinuidade sedimentar cujo estudo é fundamental para o melhor conhecimento
das fases iniciais de evolução do Oceano Atlântico. Naquele tempo o grande
continente euroasiático e o norte-americano encontravam-se ainda unidos,
formando-se um só continente, que foram definitivamente separados e
sucessivamente afastados até à actualidade, por alastramento contínuo dos fundos
oceânicos, a partir do final do Cretácico Inferior (há 115 milhões de anos).
O conjunto de afloramentos da
Pedreira do Jaspe, que foram, na realidade, duas pedreiras com laborações
separadas até ao ano de 1976, aquando da criação do Parque Natural da Arrábida,
coloca em evidência diversos aspectos geológicos relacionados com a História da
Terra nesta região atlântica.»
Parque Natural da Arrábida – Parque Marinho
«A fauna terrestre na área do Parque
apresenta uma assinalável riqueza, com mais de 850 espécies de invertebrados e vertebrados.
Nas falésias localizam-se grutas que albergam uma importante fauna cavernícola,
incluindo algumas espécies de morcegos ameaçadas, com estatuto de protecção e
que aqui se reproduzem e hibernam.
Existem duas espécies únicas de
flora, dois endemismos arrabidenses: Convolvulus
fernandensii e Euphorbia pedroi
que surgem em matagais abertos nos afloramentos rochosos voltados para sul
sobre o mar. Ocorrem exclusivamente na Serra da Arrábida três endemismos de
fauna, dois coleópteros (gorgulhos-esmeralda) e o caracol Candidula setubalensis, que se encontra na lista vermelha da IUCN.
Ao longo da costa escarpada, os
fundos rochosos dão lugar a baías abrigadas, a praias de areia e a grutas
marinhas onde vivem mais de mil espécies. Nas arribas e nas falésias nidificam
aves e existem fósseis de pegadas de dinossauros. Tais características fazem
deste lugar marinho um dos mais ricos a nível europeu.
Por isso, em 1998, foi criado o
Parque Marinho, incluído no Parque Natural da Arrábida da Arrábida, onde a vida
marinha recupera e o mar enriquece, oferecendo um futuro melhor para a pesca e
para o turismo sustentável.»
A Arrábida a todos acolhe. Este Património também é seu. Proteja-o!