sexta-feira, agosto 27, 2021

A debandada

 A retirada americana (ocidental, para ser mais preciso) é um desastre consumado: um falhanço. A morte de soldados americanos hoje, no festim bombista, devem estar a pesar na consciência de Biden.

O presidente Marcelo relativiza: “Quando há uma retirada assim, todas as soluções são más”. Sim, todas as soluções são más, mas há soluções mais más* do que outras. Uma “retirada assim” tem um nome: debandada.


(*) piores

quarta-feira, agosto 25, 2021

O passado não fica lá atrás

 

Jorge Luís Borges, Outras Inquirições, Quetzal, 2020.

⭐⭐⭐⭐

O passado é indestrutível; mais tarde ou mais cedo tornam todas as coisas, e uma das coisas que tornam é o projeto de abolir o passado.

Jorge Luís Borges, Op. cit, pág. 91

segunda-feira, agosto 23, 2021

O tempo não nos vencerá

 

Michel Houellebecq, Intervenções, Alfaguara, 2021.


⭐⭐⭐⭐


Compreendeu por fim o que toda a gente à sua volta sabia: quando já não somos desejáveis, deixamos de ter o direito ao desejo.

Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 119.

 

Sei agora que o tempo não nos vencerá.

 Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 147.

 

Não me esquecerão necessariamente depressa, mas serei esquecido ainda assim.

 Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 160.



****

Só não é esquecido quem não viveu.

 

Acabo sempre por ir dar ao poema de Alfonso Canales. O poema que encerra a Verdade. Um poema onde me refugio sempre que a ideia do esquecimento me assombra.

 

É escusado alimentar lamentos sobre o esquecimento a que um dia seremos votados. Ser lembrado não é importante. O importante é viver (preferencialmente sem sofrimento e sem fazer sofrer os outros). Lamentou-se também uma vez José Saramago, ou talvez não tenha sido um lamento, mas uma mera constatação, de que os seus livros um dia seriam esquecidos numa prateleira qualquer, assim como o seu nome. Bastariam umas décadas ou um século.

 

Na verdade, no fim, ou mesmo antes do fim, só o pó subsistirá. Pó das estrelas.

 

Mesmo assim, TEREMOS VIVIDO.

 

Não, o tempo não nos vencerá.

domingo, agosto 22, 2021

Miramar


© AMCD 

sexta-feira, agosto 20, 2021

A estranha “reconquista” taliban

 É estranho. Não há contagem de mortos e feridos até agora, sabendo nós que a imprensa sensacionalista aproveitaria logo o facto se os houvesse. Uma reconquista sem mortos.

 

Outra estranheza: uma jornalista americana da CNN calcorreia as ruas de Cabul, incólume, e entrevista alguns talibans. Enquanto isso, a multidão apavorada procura escapar para o aeroporto.

Clarissa Ward, jornalista da CNN em Cabul

Os únicos mortos até agora, parecem resultar do descontrole da multidão e dos que se penduram irracionalmente nos trens de aterragem dos aviões de transporte militar, sendo atropelados na pista, ou caindo do céu. Parece que o pavor mata mais do que as balas.

 

Nas ruas os talibans assemelham-se a lobos no meio de cordeiros, ou melhor, a cães pastores entre os rebanhos. Tentam controlar a multidão. Alguns disparam para o ar, do cimo das pick-ups. Outros açoitam os transeuntes mais recalcitrantes.

 

As bandeiras dos talibans são brancas como a bandeira da paz, mas com inscrições. Fazem lembrar as bandeiras do Daesh, só que essas eram negras.  Questiono-me se as bandeiras dos talibans foram sempre brancas ou se são apenas brancas para esta ocasião. Veremos se as bandeiras brancas não se irão transformar em bandeiras negras até 31 de Agosto, data previamente anunciada para a conclusão da retirada americana.  Ou após essa data.

 

Até agora, a "reconquista" parece um 25 de Abril ao contrário, sem cravos, nem papoilas, na ponta das armas. Um 25 de Abril invertido, sem festa ou adesão popular. Um 25 de Abril que em vez de liberdade carrega servidão e opressão. 


É o querido mês de Agosto da sociedade tribal afegã. Um povo de pastores belicosos, do qual a guerra parece fazer parte dos costumes: chega o Verão, vem a guerra. Parece que para aquela gente a vida não seria a mesma sem ela.

 

Alguns dizem que esta "reconquista" é uma derrota para o império americano. Outros repetem à exaustão o cliché segundo o qual o Afeganistão é o cemitério dos impérios. Será mesmo assim? Creio que exageram.

 

Afinal não houve reconquista nenhuma: os talibans acabaram por ocupar um território que os americanos decidiram abandonar. Não podiam nem queriam ficar lá para sempre. Mas se quisessem ficariam.

segunda-feira, agosto 16, 2021

Ulisses devolve Criseida ao pai


 Claude Lorrain, Ulisses devolve Criseida ao pai, 1648

Para aplacar a ira do deus, Agamémnon, rei de Argos e de Micenas, contrariado e após acesa discussão, aceita devolver Criseida, que tinha por refém e escrava para todo o serviço. 


Ulisses, o mais astucioso e sensato dos aqueus, foi incumbido de a entregar ao pai:

 

Quando entraram no porto de águas fundas,

dobraram a vela e guardaram-na na nau escura;

rapidamente desceram o mastro com os cabos dianteiros

e com os remos remaram até ao ancoradouro.

Lançaram as âncoras e ataram as amarras.

Eles próprios saíram e caminharam pela orla do mar,

levando a hecatombe para Apolo que acerta ao longe.

Da nau preparada para o alto mar trouxera a filha de Crises.

Levou-a até ao altar Ulisses de mil ardis;

pô-la nos braços do pai, e assim lhe dirigiu a palavra:

“Manda-me, ó Crises, Agamémnon soberano dos homens

restituir-te a tua filha e oferecer a Febo uma sagrada hecatombe

em nome dos Dânaos, para que propiciemos o soberano,

que contra os Argivos muitos sofrimentos lançou.”

 

  Homero, Ilíada, Canto I

sexta-feira, agosto 06, 2021

Livros lidos: Civilizações


 Laurent Binet, Civilizações, Quetzal, 2021

⭐⭐⭐⭐⭐
(Excelente!)

Um conto de 417 páginas lido em seis dias.

Delicioso!

quinta-feira, agosto 05, 2021

E outra vez: Pichardo d'Ouro

 


Pedro Pichardo: ouro olímpico no triplo salto.

Glorioso!

terça-feira, agosto 03, 2021

E uma vez mais: agora a vez do remador de Ponte de Lima

 

Bronze olímpico para Fernando Pimenta. 

Excelente!


domingo, agosto 01, 2021

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