Com a abolição da memorização do ensino, os reformadores acabaram por atirar fora a "água da banheira com o bébé lá dentro". Muito do que era memorizado no ensino tradicional, concordamos, pouco valor prático tinha, como por exemplo, conhecer todas as estações de comboio e apeadeiros, contudo passou-se do 80 para o 8. O resultado destas reformas faz-se sentir na qualidade do ensino, que perde rigor, e na qualidade da aprendizagem, que perde profundidade. Queixa-se também do facto o professor Shwanitz entre outros professores. É uma evidência notada por muitos académicos, esses que frequentam os mares onde vão desaguar os rios de alunos vindos dos níveis inferiores.
Refere Shwanitz:
A grande narrativa da nossa História é o esqueleto em que inserimos todos os outros conhecimentos: o nosso saber cultural encontra-se ordenado por critérios históricos, e não sistemáticos. E esta esquematização da História opera através da cronologia. Por tudo isto, é necessário termos uma ideia aproximada do esqueleto temporal.
Para tal, temos de esquecer a imbecilidade com que os reformadores do ensino entrecortaram a ordem cronológica enquanto fio condutor do ensino da História, tendo-a substituído por escombros desconexos como unidades de ensino sobre «o castelo medieval» ou «o cultivo de arroz no Vietname». Ao protestar-se contra a memorização de datas deu-se a conhecer a perda definitiva do juízo: as datas não são simples números, mas pontos de referência no espaço e no tempo, marcações para o ordenamento de períodos, bóias no mar de acontecimentos, placas de sinalização iluminadas na noite que desde já ordenam a caminhada da História. Quem se envolve em polémicas contra a cronologia é tão maluco como alguém que faça da abolição das tábuas das estantes para livros a tarefa da sua vida. No entanto foi precisamente isso que os reformadores do ensino fizeram. Deste modo, os alunos perderam em grande medida o sentido para a História, nunca tendo adquirido a sensibilidade para a «índole temporal» da História.
Schwanitz, Dietrich, Cultura – Tudo o que é preciso saber, Dom Quixote, 4ª edição. Lisboa, 2005, página 31.
Para tal, temos de esquecer a imbecilidade com que os reformadores do ensino entrecortaram a ordem cronológica enquanto fio condutor do ensino da História, tendo-a substituído por escombros desconexos como unidades de ensino sobre «o castelo medieval» ou «o cultivo de arroz no Vietname». Ao protestar-se contra a memorização de datas deu-se a conhecer a perda definitiva do juízo: as datas não são simples números, mas pontos de referência no espaço e no tempo, marcações para o ordenamento de períodos, bóias no mar de acontecimentos, placas de sinalização iluminadas na noite que desde já ordenam a caminhada da História. Quem se envolve em polémicas contra a cronologia é tão maluco como alguém que faça da abolição das tábuas das estantes para livros a tarefa da sua vida. No entanto foi precisamente isso que os reformadores do ensino fizeram. Deste modo, os alunos perderam em grande medida o sentido para a História, nunca tendo adquirido a sensibilidade para a «índole temporal» da História.
Schwanitz, Dietrich, Cultura – Tudo o que é preciso saber, Dom Quixote, 4ª edição. Lisboa, 2005, página 31.
Então, em relação ao 25 de Abril e ao desconhecimento de alguns jovens dos detalhes dos factos, em que ficamos? É verdade que os jovens poderiam e deveriam estar mais informados acerca dos detalhes dos factos, e talvez a maioria só venha a saber o que realmente a liberdade é, se esta um dia, por infelicidade, lhes for retirada, dado que vivem nela, porém muitos, estamos certos, acompanham os esforços dos mais velhos que tiveram de lutar pela liberdade e indagam-se no seu íntimo, acerca das razões de tanta comemoração, procurando respostas. Porque a curiosidade faz parte da sua natureza.
Mas o tempo encarregar-se-á do esquecimento, mesmo contra a vontade dos homens.
Mas então nessa altura, teremos vivido.
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Voltarei à questão da importância da memória na Educação. E trarei Steiner comigo. Até breve.
Surpreendem-se porque os jovens desconhecem o passado, em particular o que nos é mais próximo?! A falência da memória é um dos problemas mais diagnosticados nos sistemas educativos dos países ocidentais. Não é um problema da História, mas da desvalorização da memória e da memorização enquanto processo de ensino e de aprendizagem. Não existe educação sem memória. A História, a Geografia e outras ciências sociais fundamentais na formação do Homem, têm sido progressivamente remetidas para as margens dos currículos, cada vez mais preenchidos por “tralha pedagógica”, como as áreas curriculares não disciplinares. O jovem estudante superprotegido, super mimado nas sociedades ocidentais (talvez porque a população esteja a envelhecer e os jovens escasseiem, quem sabe), tem de ser acompanhado no seu estudo, qual aleijado mental, através de um Estudo Acompanhado. Antes vigorava o estudo desacompanhado. O jovem tinha de aprender por si próprio a ser autónomo, responsável e disciplinado nos seus hábitos, facto que não obscurecia necessariamente a sua salutar irreverência.
A história e a cultura dos Estados Unidos estão a ser usadas para criar tipos ideais que apontam o futuro às gentes de todo o mundo no que respeita a «raça» e a racismo. Os modelos derivados do caso norte-americano são propostos como portadores de um equilíbrio desejável entre diferentes versões étnicas, cívicas e separáveis como unidades discretas do nacionalismo. As tecnologias raciais dos Estados Unidos – a sua política identitária, a acção afirmativa e o profiling – são exportadas como solução pronta a usar para os problemas gerados pelo racismo.