sábado, julho 21, 2012

Gostei disto: Braden Allenby no "Tempo e o Modo"


Foi uma descoberta. Pensamento "out of the box". Só não percebemos é por que razão a RTP 2 tem disponíveis todos os episódios na Internet excepto o de Braden Allenby. O documentário integral deveria estar aqui.

sexta-feira, julho 20, 2012

Na SIC Notícias, no Expresso da Meia-noite

Está um Sr. na SIC Notícias [no Expresso da Meia-Noite] a dizer que o Tribunal Constitucional não pode imiscuir-se na política macroeconómica, pois essa é da competência do Governo. Pois é!

E a política macroeconómica do Governo pode fazer-se atropelando a Lei Fundamental? Nessa circunstância não pode o Tribunal Constitucional pronunciar-se sobre tal política macroeconómica?

José Hermano Saraiva (1919-2012)


Um grande comunicador e divulgador da História de Portugal. É assim que o recordamos, sabendo que foi muito mais do que isso.

Partiu hoje.


quinta-feira, julho 19, 2012


Os polícias do mundo


Um atentado terrorista supostamente apoiado pelos iranianos é perpetrado em território búlgaro contra turistas israelitas e o presidente norte-americano já prometeu ajudar a levar os responsáveis perante a justiça. Aqui.

Mas havia algum norte-americano entre as vítimas? O atentado foi em território norte-americano? E o presidente chinês também promete ajudar a levar os responsáveis perante a justiça? E já agora, o que diz o presidente da Bulgária? Também ele ajudará? Mas por que diabo hão-de ser os americanos os polícias do mundo? Quem lhes outorgou esse papel? Além disso, o atentado foi num dos estados-membros da U.E. O que diz o presidente da U.E.? São os EUA que policiam agora o território da U.E. ou o território búlgaro?


Adenda: posteriormente soube-se que o terrorista tinha uma carta de condução falsa do estado do Michigan, nos EUA. Saberia Obama deste facto, antes de proferir a sua promessa? Ver aqui

Da crise sistémica


Ouvimos o economista João Salgueiro falar na TV sobre a crise sistémica. Disse que o país de há doze anos para cá baseou o seu modelo económico no crédito fácil. Que nos tornámos viciados no crédito e que o problema se colocou quando os credores nos negaram mais dinheiro. Que nos encontramos agora numa situação análoga à de um país que tivesse perdido uma guerra devastadora. Que por isso temos de mudar de vida, ou seja, de modelo económico e começar de novo. Que o país tem de, doravante, basear o seu desenvolvimento no investimento produtivo não público. João Salgueiro olhou para o país.

Cornelius Castoriadis viu mais longe, porque o problema é mais vasto e não se cinge apenas às fronteiras de um país. É uma crise sistémica, uma crise do capitalismo tal como o conhecemos e do funcionamento das sociedades contemporâneas, que tem a sua raiz em vários factores e um deles está relacionado com o caminho apontado por João Salgueiro. O economista aponta como saída a via do “investimento produtivo”. E assim seria, se o mundo hoje não estivesse dominado pelo “investimento” não produtivo, o “investimento” na chamada economia virtual, a compra e venda de instrumentos financeiros, instrumentos arriscados mas atractivos que, em caso de sucesso, garantem um lucro rápido e momentâneo. Como disse Cornelius Castoriadis, o “empreendedor schumpeteriano, que conjuga uma inventividade técnica com a capacidade para juntar capitais, para organizar uma empresa, para explorar, penetrar e criar mercados, está em vias de desaparecimento, encontrando-se substituído pelas burocracias empresariais e pelos especuladores.” (Castoriadis, 2012: 102). Ora o mercado de compra e venda de instrumentos financeiros é um dos que, neste momento, apresenta a maior expansão a nível mundial devido à utilização e generalização de programas informáticos que, permitem a cada um de nós, por exemplo, comprar e vender barris de petróleo, sem o incómodo de os ter de guardar no nosso quintal. E quem diz barris de petróleo, diz acções duma empresa qualquer, milho, ienes, dólares, etc. Para quê então, darmo-nos à maçada de montar um negócio produtivo, como faria um “empreendedor schumpeteriano”?
  
Além disso, a corrupção generalizou-se no “sistema político-económico contemporâneo” e tornou-se um “traço estrutural e sistémico” das sociedades em que vivemos. Não é preciso ser o bispo D. Januário Torgal para o constatar. Salta aos olhos. Os mastodônticos monumentos à corrupção estão por todo o lado, para quem os quiser ver. E algumas carreiras alucinantes de políticos ex-governantes também.


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Referência

Cornelius Castoriadis (2012); A Ascensão da Insignificância. Bizâncio. pp. 102.

Da corrupção


«Há quase quinze anos, escrevi: para os nossos conterrâneos a única barreira existente é o medo da sanção penal. Mas por que razão os que estão encarregues de administrar esta sanção seriam eles próprios incorruptíveis? Quem vigiará os vigilantes? A corrupção generalizada que se observa no sistema político-económico contemporâneo não é periférica ou anedótica, tomou-se um traço estrutural, sistémico da sociedade na qual vivemos. Na realidade estamos a tocar aqui num factor fundamental, que os grandes pensadores políticos do passado conheciam e que os pretensos «filósofos políticos» actuais, maus sociólogos e reles teóricos, ignoram soberanamente: a íntima solidariedade entre um regime social e o tipo antropológico, ou o leque formado por todos esses tipos, necessário para fazê-la funcionar. Estes tipos antropológicos foram, na sua maioria, herdados pelo capitalismo dos períodos históricos precedentes: o juiz incorruptível, o funcionário weberiano, o educador dedicado à sua tarefa, o operário para quem o seu trabalho, apesar de tudo, era fonte de orgulho. Tais personagens tomaram-se inconcebíveis no período contemporâneo: não se descortina por que razão se teriam reproduzido, quem o faria, ou em nome de que funcionariam. Até o tipo antropológico que é uma criação própria do capitalismo, o do empreendedor schumpeteriano, que conjuga uma inventividade técnica com a capacidade para juntar capitais, para organizar uma empresa, para explorar, penetrar e criar mercados, está em vias de desaparecimento, encontrando-se substituído pelas burocracias empresariais e pelos especuladores. Aqui também, mais uma vez, todos os factores conspiram. Para quê esfalfar-se para produzir e vender, quando um golpe bem feito nas taxas de câmbio na Bolsa de Nova Iorque, ou de qualquer outro sítio, pode render, em minutos, 500 milhões de dólares? As somas que são jogadas em cada especulação semanal são da ordem do PNB anual dos EUA. Daí uma transferência dos elementos mais «empreendedores» para este tipo de actividades, completamente parasitárias do ponto de vista do próprio sistema capitalista.
Se pusermos em conjunto todos estes factores e se levarmos também em consideração a irreversível destruição do ambiente, que acarreta forçosamente a «expansão» capitalista e ela própria condição necessária à «paz social», podemos e devemos perguntarmo-nos por quanto tempo poderá ainda funcionar o sistema.»

Cornelius Castoriadis (2012); A Ascensão da Insignificância. Bizâncio. pp. 102 – 103.

terça-feira, julho 17, 2012

Era uma vez o Estado social







 ***

Há pouco mais de um ano Pedro Passos Coelho (PPC) revelava que a sua política social estaria completamente submetida à política económica. Das suas palavras depreendia-se que ele acreditava que o crescimento económico precedia o Estado social - o crescimento económico seria aúnica forma verdadeira e duradoura de defender o nosso Estado social”. O que nos leva a concluir que, de acordo com a sua concepção, sem crescimento económico não pode existir justiça social. Ou, por outras palavras, o Estado social e a justiça social só se cumprem nos momentos de prosperidade. E assim chegámos à circunstância catastrófica em que hoje nos encontramos: uma situação de recessão, com crescimento do desemprego para níveis nunca antes observados e expansão da pobreza, acompanhados pela retracção da protecção social. Ora é exactamente quando o infortúnio se multiplica que a protecção social é mais necessária, contudo está a acontecer exactamente o oposto: os indivíduos estão em queda, ou o risco de queda é maior, porém a rede está a ser retirada.

Ontem PPC tornou a focar a questão da injustiça inerente à desigual distribuição do rendimento, contudo, não se atreveu a falar da necessária protecção social. Como o poderia fazer se acredita que tal só é possível com crescimento económico e este não ocorre?

Mas se PPC enfatiza o papel do Estado na redistribuição da riqueza, ignora a questão da protecção social, a mais cara ao Estado social e que está no seu cerne, de acordo com Bauman (2007: 65):

Ao contrário da opinião já amplamente aceite, é a protecção (o seguro colectivo contra o infortúnio individual), e não a redistribuição de riqueza, que está no cerne do "Estado social" a que o desenvolvimento do Estado moderno inflexivelmente conduziu. Para pessoas privadas de capital económico, cultural ou social (todos os activos, de fato, excepto a capacidade de trabalho, que cada um não poderia empregar por si mesmo), "a protecção pode ser colectiva ou nenhuma”.

Passado mais de um ano de governação, Portugal não cresce, o Estado social está a ser desmantelado e a desigualdade na distribuição do rendimento tende a aumentar. A política social do Governo falhou em toda a linha porque a fez depender do crescimento económico e este, nem vê-lo.

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Referência

Zygmunt Bauman (2007). Tempos Líquidos. Zahar, Rio de Janeiro.

sábado, julho 14, 2012

Agora encontramo-nos no campo da crença.

Portugal  suspenso pela crença na benevolência dos credores.

Oremos.


Na revista do mesmo jornal, Clara Ferreira Alves na sua excelente "pluma caprichosa" aborda a questão de forma mais realista, racional e correcta: "Quando se pede dinheiro emprestado e se vive de dinheiro emprestado não se espera complacência nem benevolência dos credores."


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